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Doria volta a falar de cracolândia e promete não recuar

O prefeito tem se recusado a falar sobre o tema com os jornalistas desde a última quinta-feira (25)

Doria  volta a falar de cracolândia e promete não recuar
Notícias ao Minuto Brasil

21:38 - 29/05/17 por Folhapress

Brasil quebra silêncio

Após quatro dias sem responder nenhuma pergunta sobre a situação da cracolândia, o prefeito João Doria (PSDB) publicou um vídeo nesta segunda-feira (29) em um canal particular de rede social pessoal para dizer que não vai recuar em sua política anticrack e enaltecer o governo Geraldo Alckmin (PSDB) pela prisão de traficantes que atuavam em meio aos usuários de drogas.

O prefeito tem se recusado a falar sobre o tema com os jornalistas desde a última quinta-feira (25). Em eventos públicos, quando questionado sobre o tema, ele sempre delega as respostas a algum secretário presente. O tucano tem sido alvo de críticas de órgãos como o Ministério Público e a Defensoria Pública do Estado.

"Nós não vamos recuar. Não vamos abandonar nossa ação contra os traficantes, contra os bandidos", afirmou Doria, no vídeo. "Nós prendemos 53, 53 estão na prisão. Tem mais 20 mandados de prisão. E um dos chefes da facção criminosa em São Paulo foi preso numa mansão de luxo", disse o prefeito, numa referência à operação estadual há dez dias na região da cracolândia.

A ação naquele domingo (21) foi arquitetada pela Polícia Civil e executada em parceria com a Polícia Militar. Apenas poucos secretários de Doria foram avisados da operação, sendo que os responsáveis pela área da saúde e assistência social só ficaram sabendo um dia antes. Naquele dia, o novo programa anticrack de Doria não estava pronto. Uma das promessas era o cadastramento prévio dos usuários, para que recebessem encaminhamentos corretos, como tratamento médico. Sem isso, em meio a ações atabalhoadas e discursos oficiais dissonantes, o que se viu nos dias seguintes foram viciados espalhados pelas ruas e a formação de uma grande concentração deles na praça Princesa Isabel, a 400 metros do perímetro da cracolândia original.

CRACOLÂNDIA FÍSICA

No mesmo vídeo, Doria diz que dará assistência aos viciados e volta a afirmar que a cracolândia acabou "fisicamente". Ele nada diz, porém, sobre a nova cracolândia formada por cerca de 600 dependentes na praça Princesa, com barracas e compra e venda de drogas a céu aberto.

"Durante 20 anos ela [antiga cracolândia] funcionou na rua Dino Bueno com a Helvétia. Ali era o maior supermercado de drogas da América Latina e um dos maiores. Alguém pode dizer: 'não, espalharam-se pela cidade'. Nós já tínhamos várias cracolândias pela cidade, e vamos agir sobre todas elas no momento oportuno", disse o prefeito, que criticou outras gestões, sem citar nomes.

"O Estado não pode cruzar os braços, fingir que não vê, que assisti, que não existe o problema. Durante duas décadas, poucas tentativas foram feitas e não funcionaram e houve um recuo." O tucano afirmou que, em outras ocasiões, houve recuos por causa da pressão de "setores da sociedade civil, segmentos ideológicos ou partidarizados, que querem intimidar no grito e na força a ação pública".

Durante o período citado pelo prefeito, o governo do Estado, por exemplo, responsável pela ação policial e por um programa anticrack chamado Recomeço, sempre esteve sob o comando de seu partido, o PSDB. Na prefeitura, ao longo desse período, houve administrações de PT, PSDB e PSD. Procurada, a assessoria de Alckmin não comentou as declarações de Doria.

Na mensagem em vídeo, ele falou também sobre internações compulsórias. "Poderá, assim que a Justiça permitir, haver a internação [à força]. Mas a palavra não é internação e muito menos compulsória, é um internamento. É o oferecer a essas pessoas a chance da vida, e não preservar a chance da morte", disse.

No último domingo (28), a Justiça derrubou decisão que autorizava a gestão Doria a recolher moradores de rua à força na cidade. O desembargador Reinaldo Miluzzi, do TJ (Tribunal de Justiça) de São Paulo, atendeu pedido do Ministério Público e da Defensoria Pública para barrar a liminar de primeira instância que autorizava remoções compulsórias de viciados para avaliação médica.

Por um período definido de 30 dias, agentes sociais e de saúde, com a ajuda de guardas-civis, poderiam retirar à força os usuários da região da cracolândia para uma avaliação de psiquiatras e médicos e posteriormente de um juiz.

Nesta segunda, a prefeitura também anunciou a criação de um comitê integrado entre os governos municipal e estadual para coordenar as ações de saúde na região da cracolândia. A gestão Doria ainda não deu detalhes de como ele vai funcionar. Uma portaria será publicada no "Diário Oficial" da cidade nos próximos dias.

O psiquiatra Arthur Guerra foi escolhido para coordenar o comitê. "Primeiro vamos identificar as dificuldades para poder fazer um planejamento mais adequado em relação a isso. Segundo, é absolutamente imprescindível que tenha uma integração. Que município e Estado trabalhem juntos tanto na parte de identificação, de tratamento, como também de reabilitação", afirmou ao "SP1", da TV Globo.

CRACOLÂNDIA NA ÚLTIMA SEMANA

Domingo (21)A polícia de SP, da gestão Geraldo Alckmin (PSDB), realiza uma das maiores operações de combate ao tráfico de drogas na região -50 pessoas são presas e a feira ilícita a céu aberto é desmantelada. João Doria (PSDB) diz que "a cracolândia acabou", mas usuários continuam comprando drogas nas imediações. Apesar de ter sido articulada entre Estado e município, ação expôs atritos entre as duas administrações.

Segunda (22)Gestão Doria cerca a antiga cracolândia com guardas municipais, que fazem revistas para impedir que dependentes voltem a se instalar. Ministério Público anuncia inquérito para investigar falta de acolhimento, desvio de função da GCM e ação inadequada da PM ao dispersar usuários. A Folha presencia acolhidos dormindo no chão, sem colchão, em espaço municipal.

Terça (23)Três ficam feridos após prefeitura iniciar demolição de uma pensão ainda ocupada na área. Doria vai embora e deixa que secretários deem explicações. Comércios também são lacrados com muros antes que proprietários retirassem pertences. Centro vive dia de confusão, com dependentes espalhados, série de roubos e lojas fechadas.

Quarta (24)Três dias após ação, Doria não cumpre projeto de assistência negociado com órgãos civis, e nova cracolândia surge a 400 metros, na pça. Princesa Isabel. Prefeitura pede a tribunal carta branca para internar usuários à força, e, em outro processo, Justiça veta temporariamente demolições e remoção de moradores. Secretária de Direitos Humanos, Patrícia Bezerra, pede demissão.

Quinta (25)GCM registra dependentes espalhados por ao menos 20 pontos da cidade, do Minhocão à Paulista.

Sexta (26)Em processo sob segredo de Justiça, juiz decide que a prefeitura precisará de autorização judicial, bem como avaliação médica, para fazer internações compulsórias, pelos próximos 30 dias; MP e Defensoria decidem recorrer. Liminar também passa a permitir que agentes municipais retirem usuários à força para avaliação médica e, depois, de um juiz.

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