Governo e Congresso são pressionados por corte no funcionalismo

Os pedidos por cortes de gastos nessas áreas partem de centrais sindicais e até mesmo dentro do próprio Congresso.

© Reuters

Economia Durante a crise 24/03/20 POR Folhapress

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Para tentar reduzir as críticas à flexibilização trabalhista no setor privado, o governo e o Congresso são pressionados a adotarem medidas que também reduzam benesses e salários do funcionalismo público e de cargos eletivos durante a crise causada pelo coronavírus.

PUB

Os pedidos por cortes de gastos nessas áreas partem de centrais sindicais e até mesmo dentro do próprio Congresso.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defende a aprovação da proposta que permite diminuição da jornada de trabalho do servidor em 25%, com corte proporcional de salário.Isso está previsto na PEC (Proposta de Emenda à Constituição) Emergencial, enviada pelo ministro Paulo Guedes (Economia), no ano passado, para acionar gatilhos de ajuste nas contas públicas em momentos de desequilíbrio fiscal.

Apesar de saber que o impacto da medida é baixo diante dos recursos necessários para combater o vírus, socorrer empresas, trabalhadores formais e informais do setor privado, Maia acredita ainda que três os Poderes devem cortar despesas. É, portanto, uma forma de que todos tenham sua "cota de sacrifício" na crise.A ideia é criticada por membros do Judiciário e do Ministério Público.

O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, expressou a pessoas próximas não ver a proposta com bons olhos e conversou com Maia a respeito. O procurador-geral da República, Augusto Aras, também avaliou em conversas ser reticente.Com o argumento de suavizar os efeitos do coronavírus na economia, o governo sugere uma medida nesse mesmo sentido para trabalhadores da iniciativa privada -só que mais dura.

A ideia da equipe econômica é que patrões possam reduzir a carga horária de trabalho em até 50%, com corte proporcional nos salários. Para setores mais afetados pela crise, a margem pode ser ainda maior, chegando a 67%.

O governo, nesse modelo em estudo, iria recompor uma parte da diminuição de renda do trabalhador. O objetivo, segundo o Ministério da Economia, é tentar evitar demissões em massa.Hoje, o Executivo conta com 604 mil servidores públicos federais na ativa, que têm estabilidade no cargo.

"Por que não se pensa nos altos salários do serviço público? A maior parte dos servidores ganha pouco, mas tem uma elite que ganha muito. No Judiciário, por exemplo, tem gente recebendo acima do teto [constitucional, de R$ 39,2 mil por mês]", afirma o presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores), Ricardo Patah.O presidente do Fonacate (Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado), Rudinei Marques, considera a proposta de corte no funcionalismo uma "atitude marqueteira".

O Fórum reúne 31 sindicatos e associações e representa cerca de 200 mil funcionários públicos."O que a redução representaria nesse período mais crítico é irrisório para o volume de recursos que o governo tem que aportar na economia", argumentou.Ao apresentar medidas que flexibilizam regras trabalhistas no setor privado, o time de Guedes tem se esquivado de perguntas sobre ações paralelas no funcionalismo público.

Técnicos, porém, lembram que o governo já apresentou a PEC Emergencial, parada no Senado.O relator da PEC, senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR), quer criar exceções ao gatilho de corte de jornada e de remuneração, poupando servidores que ganham até três salários mínimos (R$ 3.135) e profissionais de algumas áreas, como saúde, educação e segurança pública. Mas, no Congresso, onde o lobby do funcionalismo público é um dos mais fortes, defende-se o discurso de que a redução de salários destes trabalhadores vai prejudicar ainda mais a economia, já que eles perderão poder de compra. Além do mais, a crise da Covid-19 afastou parlamentares de Brasília e paralisou o trabalho de comissões. A CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), que se reuniria presencialmente nesta semana justamente para fazer a PEC andar, não vai mais ter sessão por falta de quórum.

Apesar de Câmara e Senado terem aprovado sessões remotas para este período de coronavírus, não é possível fazer a distância sessões que não sejam para votação. Na CCJ, haveria apenas a apresentação do relatório da PEC.

Para o senador Humberto Costa (PT-PE), o servidores já foram fortemente atingidos pela reforma da Previdência. "Não vejo como fazer mais sacrifício", disse. Ele defende a elevação de impostos para banqueiros e rentistas.O líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP), admite que, à medida que se penalizar a iniciativa privada, será cobrada uma cota de sacrifício da área pública, a começar pelos salários de parlamentares."A pressão popular vai ser neste sentido. A mesma cota de sacrifício que está se pedindo ao cidadão vai se pedir proporcionalmente à administração pública", diz Olímpio.

Deputados de diferentes partidos tentam emplacar um discurso moralizante de redução salarial na Casa ou em todos os Poderes e usam redes sociais para divulgar os projetos apresentados. A ideia é criticada por líderes de partidos de centro.Sobre os cortes no Judiciário, ministros do Supremo dizem que se a medida for "pura demagogia".

Para eles, deveria ser comprovada a necessidade da redução.Em outros tribunais, ministros apontam que a produtividade dos magistrados não cai durante a crise, seria então uma redução salarial com a manutenção da mesma carga de trabalho.

Numa estratégia de embaralhar as discussões, categorias de servidores públicos, então, estudam defender que os parlamentares abram mão de recursos do fundo partidário e eleitoral, destinando o dinheiro para ações de combate ao coronavírus.

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

fama Jojo Todynho Há 18 Horas

Jojo Todynho veste roupa que usava antes de perder 50kg. "Saco de batata"

mundo EUA Há 17 Horas

Criança morre após ser forçada a correr em esteira pelo pai

brasil Herança Há 20 Horas

Viúvo de Walewska cobra aluguel para que sogros morem em imóvel da filha

brasil Rio Grande do Sul Há 20 Horas

Governador do RS alerta para "maior desastre da história" do estado

fama Brian McCardie Há 18 Horas

Morre Brian McCardie, ator da série Outlander, aos 59 anos

fama Bastidores da TV Há 10 Horas

Bianca Rinaldi relata agressões de Marlene Mattos: "Humilhação"

brasil MORTE-SC Há 19 Horas

Adolescente de 14 anos morre após ser picado por cobra venenosa em SC

mundo Londres Há 18 Horas

Responsável por ataque com espada em Londres tem cidadania brasileira

fama Isabel Veloso Há 20 Horas

Marido de influencer com câncer terminal: 'Finjo que não vai acontecer'

esporte Arábia Saudita Há 19 Horas

Sem folga: Al Hilal treina após garantir vaga na final; veja as imagens