Médicos do Samu são avisados de que devem atestar mortes por Covid-19

A resolução define apenas que os profissionais das unidades de saúde deverão emitir a Declaração de Óbito dos casos relacionados à Covid-19 e o seu procedimento

© Divulgação

Brasil CORONAVÍRUS-SP 26/03/20 POR Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Durante a pandemia causada pelo coronavírus, os médicos que atuam nas dez ambulâncias de SAV (Suporte Avançado de Vida) do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e os do Grau (Grupo de Resgate e Atenção às Urgências e Emergências) da capital paulista passarão a atestar mortes naturais, indefinidas e causadas pela Covid-19 ocorridas fora dos hospitais.

PUB

Os profissionais do Samu foram avisados sobre a nova função em reuniões ocorridas nesta semana com a coordenação do serviço, mas ainda não há uma data para iniciarem o trabalho. A reportagem teve acesso ao conteúdo discutido nos encontros.

Veja também: Propagação em SP, Rio e DF é maior do que se previa

A nova medida é baseada no decreto 64.880 do governo de São Paulo e em resolução da Secretaria Estadual da Saúde  (ambos publicados na sexta-feira (20).

O decreto delega às secretarias de Saúde e de Segurança Pública de São Paulo a adoção de medidas necessárias para que as atividades de manejo de corpos e de necrópsias, no contexto da pandemia do Covid-19, não constituam ameaça às equipes de saúde e à população, além de dar carta branca para a tomada de decisões por parte dos secretários.

A resolução define apenas que os profissionais das unidades de saúde deverão emitir a Declaração de Óbito dos casos relacionados à Covid-19 e o seu procedimento.

Por enquanto, a atuação do Samu para atestar mortes ocorridas fora de ambiente hospitalar está sendo tratada no âmbito da coordenação do serviço com as secretarias municipal e estadual da saúde. A função ainda é de responsabilidade dos médicos do SVO (Serviço de Verificação de Óbitos).

Hoje, em caso de morte sem assistência médica, a família vai à delegacia e faz boletim de ocorrência de morte natural. O delegado manda o serviço funerário retirar o corpo e levá-lo ao SVO para necrópsia. Depois, o mesmo é liberado para velório.

O Samu, assim que iniciar na função, examinará o corpo, fará o teste para Covid-19, se necessário, e preencherá uma autópsia verbal, que ficará no serviço.

Se a morte ocorrer por Covid-19, o atestado será alterado com a confirmação.

A reportagem ouviu profissionais do órgão, que estão preocupados. "Uma vez que o médico do Samu não fará uma autópsia completa, se for obrigado a emitir o atestado deverá colocar como causa da morte apenas o provável, o que pode levar tanto a uma supernotificação como a uma subnotificação de mortes pela Covid-19.

De qualquer forma, ainda que se faça teste nos casos de morte possivelmente por coronavírus, as demais causas serão subnotificadas", afirma um médico que preferiu não se identificar. "Isso destrói as estatísticas usadas para políticas de gestão em saúde. Os falecimentos por infarto, derrame, aneurisma, etc. serão classificados como causa indeterminada ou Covid-19."

O médico Wagmar Barbosa, conselheiro do Conselho Regional de Medicina do estado de São Paulo, acha que é a melhor medida a ser tomada neste momento. "O conselho foi consultado pelo governo. A decisão é baseada em experiências internacionais. O manuseio dos corpos e o traslado implicam em risco não só às equipes de saúde mas também à população", diz ele.

"É óbvio que não é o ideal e eu entendo o lado dos médicos do Samu, mas, quando se fala em controle sanitário, a medida é válida. Dada a situação atual, não vejo outro tipo de atitude. A situação é dinâmica. Se houver uma alternativa melhor, não vou me opor", afirma.

Equipes do Samu realizam atendimento pré-hospitalar de urgências e emergências, de acordo com prioridades. Casos como infarto ou AVC, por exemplo, em que o paciente corre o risco de morte iminente, devem ser atendidos pelas equipes avançadas (com médico e enfermeiro, além do condutor da ambulância, que também é um socorrista) num tempo que não deve ultrapassar 12 minutos, segundo preconizam organizações médicas internacionais.

Outro ponto negativo, segundo os profissionais do Samu, é a desassistência que a medida pode ocasionar no atendimento de ocorrências graves.

Para o professor da Faculdade de Saúde Pública da USP Gonzalo Vecina Neto, a medida não é inviável, mas também não é adequada."Dado o fato de que o Samu não tem tempo de atendimento das emergências adequado, é uma má utilização de recurso sofisticado, de se ter equipes mais completas do Samu para fazer verificação de óbitos.", diz ele.

"O mais correto seria suprir o SVO de equipes volantes. Um morto não sai do estágio de morto, mas quem está vivo e precisa da ambulância de UTI pode ser sacrificado. O ideal seria os médicos do SVO se deslocarem e fazerem esse serviço."

Procurada, a Secretaria Estadual da Saúde negou que haja mudança de protocolo em relação ao Grau. A pasta afirmou também que os funcionários do Serviço de Verificação de Óbito seguem desempenhando suas funções.

O Ministério da Saúde e a Secretaria Municipal da Saúde, responsável pelo gerenciamento do Samu na cidade de São Paulo, não responderam aos questionamentos da reportagem.

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

mundo EUA Há 12 Horas

Faxineira pede demissão após 27 minutos de trabalho em hotel; entenda

fama Anthony Vella Há 11 Horas

YouTuber sofre grave acidente em queda de paraglider filmada; assista

justica Violência Há 3 Horas

Homem é assassinado com 23 tiros durante raio-x em hospital na Bahia

fama Gusttavo Lima Há 11 Horas

Gusttavo Lima interrompe espetáculo após mulher ser agredida

economia DESENROLA-BRASIL Há 13 Horas

Saiba como se inscrever no Desenrola Brasil e negociar suas dívidas

mundo EUA Há 12 Horas

Desaparecida, filha do co-fundador do Slack é flagrada em van com homem

esporte São Paulo FC Há 13 Horas

Filho de Will Smith posta foto com camisa do São Paulo e web reage; veja

esporte Óbito Há 4 Horas

Jogador morre após bater a cabeça em muro que cercava o campo na Argentina

justica Paraíba Há 10 Horas

Menina de 6 anos tem pinos colocados em perna errada

lifestyle Saúde Há 12 Horas

Três carboidratos que ajudam a controlar os níveis de açúcar no sangue