Síria sobrevive à guerra, revê o filho no Brasil e morre de Covid-19

Nas redes sociais, Abdul compartilhava as notícias que recebia dos médicos e pedia orações para Khadouj

© Shutterstock

Brasil REFUGIADOS-SP 15/05/20 POR Folhapress

VIÇOSA, MG (FOLHAPRESS) - Ela sobreviveu à guerra na Síria, à perda do marido e à distância dos sete filhos e 13 netos que o conflito espalhou pelo mundo. Sua resistência, porém, foi derrotada pelo coronavírus, e Khadouj Makhzoum morreu na manhã desta quarta-feira (13), aos 55 anos, em um hospital de São Paulo.

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Nascida na cidade de Aleppo em uma das famílias mais antigas do mundo árabe, Khadouj recebeu esse nome em homenagem a Khadijah, primeira esposa do profeta Maomé. Sua mãe e sua avó também se chamavam assim. Ela se casou aos 15 anos com um marido escolhido por seus pais, um estudante de direito que depois mudou de curso e se formou professor de inglês.

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Khadouj chegou ao Brasil em dezembro de 2018, após quatro anos de tentativas de um de seus filhos para trazê-la ao país. Abdulbaset Jarour, 30 (conhecido aqui como Abdul), é refugiado em São Paulo desde 2014 e não descansou enquanto não conseguiu tirar a mãe e a irmã caçula, Sedra, de sua cidade natal - que havia se transformado em um dos principais campos de batalha entre governo e oposição no conflito sírio. A Folha de S.Paulo acompanhou o reencontro emocionado da família no aeroporto de Guarulhos.

Durante o cerco a Aleppo, Khadouj e Sedra passaram frio, fome e dormiram de favor na casa de parentes ou no chão de acampamentos improvisados. No Brasil, a adaptação delas não foi fácil. Sem falar o idioma, em uma cultura muito diferente e lidando com traumas do passado, entraram em depressão.

Sedra acabou indo para o Líbano em fevereiro deste ano para morar com outra irmã. A mãe tinha planos de se unir a ela, mas Abdul tentava regularizar os documentos quando a pandemia de coronavírus suspendeu os serviços do consulado. Outro filho se reuniu com eles e hoje vive com Abdul em São Paulo.

Assim como muitas mulheres sírias, Khadouj aprendeu com a mãe - e depois ensinou as filhas - a cozinhar. Era uma das coisas que mais gostava de fazer e cobrava de Abdul que conseguisse ingredientes típicos difíceis de encontrar no Brasil para poder reproduzir os pratos favoritos de sua terra. "Minha mãe era chef de cozinha. Todo dia fazia algo com um sabor diferente e era muito, muito bom. Aleppo tem 60 tipos de quibe, e ela conhecia todos. Também fazia um charuto delicioso, berinjela e abobrinha recheadas, doces", enumera ele.

Descrita por Abdul como uma mulher "alegre, comunicativa, com sangue quente e alma jovem", Khadouj fotografava e documentava tudo o que via em São Paulo para enviar às amigas e a familiares em outros países. "Ela era muito querida e gostava de gente. Sempre falava um ditado árabe que é 'o paraíso sem pessoas não é paraíso'", diz. "Minha mãe foi muito guerreira, sofreu demais na vida. Nunca teve paz total. Quando chegava um momento mais calmo, logo vinham os problemas."

No mês passado, esse problema foi a Covid-19. Khadouj ficou 21 dias internada na UTI do Hospital das Clínicas. Por ser diabética e hipertensa, fazia parte do grupo de risco da doença, e seu estado se agravou.

Nas redes sociais, Abdul compartilhava as notícias que recebia dos médicos e pedia orações para Khadouj. No último domingo, Dia das Mães, ele andou pela avenida Paulista com um cartaz em que incentivava as pessoas a respeitarem o isolamento e a ficarem em casa durante a pandemia. Três dias depois, recebeu o telefonema que mais temia.

Khadouj foi enterrada no Cemitério Islâmico do Brasil, em Itapecerica da Serra, na própria quarta-feira (13).

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