Home office deve acelerar desigualdade entre trabalhadores

Com a perspectiva de que as empresas passem a adotar o teletrabalho de forma permanente, a tendência é que o espaço para os menos qualificados no mercado formal fique mais estreito.

© iStock (Foto ilustrativa) 

Economia HOME-OFFICE 07/08/20 POR Folhapress

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A adoção definitiva de home office após a pandemia deve acelerar mudanças estruturais no mercado de trabalho, com potencial para aprofundar as desigualdades entre trabalhadores mais escolarizados e aqueles com menor qualificação.

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Para especialistas, o tema tem que ganhar espaço no debate para a discussão de medidas de apoio ao contingente que tende a ter mais dificuldade de se recolocar.

Dados sobre o desemprego divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta quinta (6) já sinalizam que o teletrabalho protege mais os trabalhadores mais qualificados do que aqueles que dependem do movimento nas ruas.

Mesmo com o aumento do desemprego e o fechamento recorde de vagas no segundo trimestre, o rendimento médio do trabalhador subiu 4,6% em relação ao trimestre anterior, para R$ 2.500, indicando que o corte foi mais intenso entre os que ganham menos.

"Quando a gente fala em trabalho remoto, geralmente envolve o trabalhador o mais qualificado", diz o economista Otto Nogami, do Insper. "A gente está vendo uma mudança de perfil em relação à desocupação: o qualificado se posiciona mais rapidamente no mercado e o não qualificado vai caindo no desemprego."

Neste momento, o problema tem forte influência da restrição à circulação. No segundo trimestre, o primeiro em que a pesquisa do IBGE captou três meses completos de pandemia, a taxa de informalidade da economia atingiu o menor patamar desde o início da série histórica, em 2012.

Mas, com a perspectiva de que as empresas passem a adotar o teletrabalho de forma permanente, a tendência é que o espaço para os menos qualificados no mercado formal fique mais estreito.

"O formato do trabalho vai mudar, basta que as pessoas tenham condições de ter tecnologia em casa para trabalhar", reforça o professor do Ibmec Ricardo Macedo.

Pesquisa do FGV-Ibre mostrou que mais da metade das empresas pretende incorporar mudanças adotadas na pandemia. Dos entrevistados, 83% adotaram home office para áreas administrativas.

A Petrobras quer manter 50% do pessoal administrativo em teletrabalho por ao menos três dias por semana e reduzir de 17 para 8 o número de prédios que ocupa.

Estrutura menor demandará menos pessoal para segurança, manutenção ou limpeza. A queda na demanda por esse tipo de serviço já foi sentida também pelo IBGE: em maio, as atividades de limpeza de prédios e agenciamento de mão de obra estiveram entre as que impulsionaram o tombo do setor de serviços.

O economista Cosmo Donato, da LCA Consultores, frisa que a mudança vem de antes da Covid, respondendo aos avanços tecnológicos que permitem, por exemplo, a substituição de caixas de supermercado por sistemas eletrônicos.

"A pandemia tem efeito indireto na aceleração do processo. O grande desafio é fazer com que essa tecnologia não abrace somente o emprego altamente qualificado, mas consiga abranger também a parte de baixo da pirâmide."

Ele pondera que aplicativos que permitem a venda do trabalho diretamente ao consumidor final, como os de transporte, já cumprem papel de alternativa para absorver a mão de obra que está à margem do avanço tecnológico.

Mas ressalta que esses serviços ainda deixam lacunas em relação a temas como segurança do emprego ou a situação previdenciária do trabalhador - com o corte de vagas no segundo trimestre, o número de pessoas que contribuíram para a Previdência chegou perto do mínimo histórico, registrado quando a pesquisa começou a ser feita.

"Está aumentando cada vez mais o estoque de pessoas não qualificadas no mercado e isso talvez leve a uma situação crítica no futuro", diz Nogami. "Precisamos pensar em como absorver essa mão de obra."

Donato afirma que o debate sobre renda mínima universal, que ganhou força depois da pandemia, já é um passo nesse sentido. "Hoje, essa discussão já faz mais sentido. Deixa de ser uma questão puramente ideológica para ser uma questão real", afirma.

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