'Debate atropelado sobre teto pode levar País a feudalismo fiscal'

"O problema do teto neste momento é 'onde passa um boi, passa uma boiada', afirma a procuradora Élida Graziane

© Google

Economia Ano Eleitoral 15/08/20 POR Estadao Conteudo

Especialista na legislação das contas públicas e procuradora do Ministério Público de Contas do Estado de São Paulo, a advogada Élida Graziane alerta para o risco de um debate "atropelado" sobre mudanças no teto de gasto levar o País ao "feudalismo fiscal", com cada setor querendo o seu "quinhão" em ano eleitoral. Ela afirma que mudanças no mecanismo que condiciona o avanço dos gastos à inflação devem ser feitas junto com o Orçamento de 2021. "O problema do teto neste momento é 'onde passa um boi, passa uma boiada'. Se não fizer um regramento consistente, voltamos para o puro feudalismo fiscal, terra arrasada." A seguir, os principais trechos da entrevista.

PUB

Como a sra. avalia o debate sobre mudanças no teto de gastos?

 

Se não fizer no momento certo, pode sair atropelado. Perdemos a oportunidade de dar a racionalidade necessária, e (agora) pode virar uma solução tampão.

Qual é esse risco?

Vejo a necessidade de alterar a emenda 95 (que instituiu o teto) desde o projeto de LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) de 2021. Desde abril, quando foi enviado, venho escrevendo que não se sustenta. Tecnicamente, vai ter problemas. Precisamos aproveitar a LDO para fazer esse debate pausado, impessoal, planejado. Já se sabia que o teto precisaria ser revisto.

Por quê?

 

A gestão não vai se encerrar em 31 de dezembro deste ano. Não dá para usar crédito extraordinário em 2021 (esses créditos ficam de fora da administração do teto de gastos). O crédito extraordinário na forma do artigo 167 da Constituição exige dois requisitos: a imprevisibilidade e a urgência. Já é previsível o cenário de calamidade que continua no ano que vem. Como é previsível, há o dever de inserir na lei orçamentária.

Há restrição, então, do uso do crédito extraordinário numa situação previsível?

Eles não podem ser usados só porque se declarou calamidade. A calamidade, continuando em 2021, tendo a previsibilidade, não é suficiente para usar crédito extraordinário em 2021. O Supremo vetou o uso de créditos extraordinários para despesas previsíveis.

O governo não pode pegar o que sobrar desses créditos aprovados em 2020 e usar no ano que vem?

Não. O que sobrar de 2020 não dá para usar como restos a pagar (despesas transferidas de um ano para o outro) porque quebra o segundo requisito dos créditos extraordinários, que é o da urgência. O crédito foi aberto para usar em 2020. De uma certa forma, o que o governo está fazendo é fraudar a finalidade do instituto do crédito extraordinário.

Qual a saída?

Um plano bienal de enfrentamento da calamidade. Criando um critério de transição sem romper todas as regras fiscais. Dentro da exceção que já existe no teto, dos repasses federativos via FPM e FPE, os fundos de participação dos Estados e municípios. Eles (Estados e municípios) estão tendo derrocada da arrecadação tributária. Não precisa nem mexer na Constituição para que haja uma autorização da União para sustentar os serviços básicos essenciais, no SUS, na educação.

E a tentativa do governo de usar uma medida provisória para concluir obras com créditos extraordinários?

O TCU (Tribunal de Contas da União) vai refutar e o STF (Supremo Tribunal Federal), com certeza, também. É um desvio de finalidade. É uma fraude. Não tem urgência nem previsibilidade.

O governo diz que essa possibilidade está prevista no 'orçamento de guerra'. Obras paradas se encaixam?

Que tipo de obra se sustenta nesse artigo? É aquilo que tem correlação imediata com a pandemia. O gestor fazer uma obra meramente cosmética, que não enfrente a pandemia, não cabe. Mas o debate do saneamento básico que melhora as condições da população para se prevenir, nesse momento importa.

A discussão seria obra por obra?

 

É isso. O governo vai ter de fazer um planejamento já com todo o rol de todas as obras, colocar critérios mais detidos. Tem de ter um planejamento impessoal; senão, vira o curto prazo eleitoral do gestor, só para agradar um curral eleitoral específico.

Qual é o futuro do teto?

 

Neste momento, é perigoso fazer uma alteração que não tenha critérios. Por isso, a ideia de um plano bienal de gestão da calamidade. É uma justiça fiscal de transição. É um conceito duro, mas é preciso ter a ideia de que a calamidade é comparável à guerra. Fazer a transição de 2021, sem mexer muito na emenda do teto, sem abrir um flanco tão grande. Mais cedo ou mais tarde, teremos de alterar o teto.

Como vê a pressão por gasto?

 

É o calendário eleitoral. O problema do teto neste momento é ‘onde passa um boi, passa uma boiada’. Se não fizer um regramento consistente, voltaremos para o puro feudalismo fiscal, terra arrasada.

O que é isso?

 

Cada um querendo o seu quinhão na frente dos demais, sem um parâmetro de ordenação legítimo de prioridades. Sem controle. Farinha pouca, meu pirão primeiro.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

fama Rio Grande do Sul Há 17 Horas

Grávida, Miss Brasil 2008 está desaparecida há 3 dias após chuvas no RS

justica Santos Há 9 Horas

Homem é flagrado abusando sexualmente de moradora em situação de rua

brasil enchentes no Rio Grande do Sul Há 17 Horas

Aeroporto de Porto Alegre suspende voos por tempo indeterminado

justica São Paulo Há 16 Horas

Corpo achado em matagal é de adolescente que sumiu ao comprar lanche

brasil justa causa Há 17 Horas

Bancária é demitida ao postar foto no crossfit durante afastamento médico

lifestyle Ozempic Há 17 Horas

'Seios Ozempic' entre os possíveis efeitos colaterais do antidiabético

brasil enchentes no Rio Grande do Sul Há 9 Horas

Sobe para 57 o número de mortos em temporais do RS

mundo Pensilvânia Há 17 Horas

Mulher morre após ser atingida por cilindro de metal desgovernado

fama Rio de Janeiro Há 16 Horas

Madonna faz show hoje para 1,5 milhão de fãs; saiba tudo do evento

fama MADONNA-RIO Há 10 Horas

Show Madonna no Rio será com playback, assim como outros da turnê; entenda