Nomeado por Dilma para tribunal, favorito ao STF tem elos políticos

O novo favorito ao STF tem visão oposta à Lava Jato

© Reprodução

Política Oposição 01/10/20 POR Folhapress

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Um magistrado levemente conservador e que, nos últimos dois anos, ajustou seu discurso e se alinhou à visão do presidente Jair Bolsonaro em temas de comportamento. Assim pessoas próximas ao juiz federal Kássio Nunes, 48, descrevem o favorito do chefe do Executivo a preencher a próxima vaga no STF (Supremo Tribunal Federal) no lugar do decano Celso de Mello.

PUB

A modulação no discurso, segundo interlocutores do magistrado, buscava pavimentar seu caminho ao STJ (Superior Tribunal de Justiça), mas ele surpreendeu positivamente nas conversas e, então, seu nome passou a ser considerado para o Supremo.

Tido como um juiz bem relacionado politicamente, Kássio conta com o aval do ministro Gilmar Mendes e, chegando à corte, deve reforçar o movimento contrário à Operação Lava Jato.

Kássio é juiz do TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região) desde 2011 e chegou ao cargo nomeado pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT), graças à proximidade com caciques políticos do MDB e do PP, incluindo o senador Ciro Nogueira (PP-PI).

Preencheu vaga reservada aos advogados -o quinto constitucional. Recebeu o apoio do então presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Marcus Vinícius Furtado Coelho, e do atual governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), à época chefe da OAB local. Após a indicação da ordem, foi o mais votado em lista tríplice.

Até então desconhecido no mundo jurídico de Brasília, ele chamou a atenção dos integrantes mais antigos do tribunal federal, que o elogiam por sua atuação como magistrado. Colegas dizem que ele tem coragem suficiente para enfrentar a Lava Jato, sem ceder à pressão da opinião pública.

Antes do TRF-1, Kássio atuou como juiz do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) do Piauí, de 2008 a 2011. Neste período, participou do julgamento que aprovou as contas eleitorais de Ciro Nogueira na campanha ao Senado em 2010.

Na ocasião, a Procuradoria Eleitoral apontou irregularidades nas contas do parlamentar -informações não declaradas à Justiça Eleitoral sobre o uso de veículos pela campanha.

Interlocutores dizem que Kássio é bom no trato pessoal e pertence à ala garantista do direito, que privilegia a presunção de inocência dos investigados e se opõe ao grupo punitivista, no qual se enquadra a atuação da Lava Jato.

Em entrevistas como juiz federal, Kássio já deixou claro que tem visões opostas à Lava Jato. Para ele, a execução de pena após condenação de segunda instância, que levou o ex-presidente Lula (PT) à prisão, não é automática.

Como a jurisprudência do Supremo de determinar o cumprimento de pena após o fim do processo foi decidida por 6 a 5, a eventual nomeação de alguém contrário a essa tese (caso do ex-ministro Sergio Moro) poderia reverter o entendimento do tribunal a respeito.

Mudar esse entendimento para permitir o cumprimento de pena após decisão de segundo grau daria força novamente à operação. E desagradaria boa parte do mundo político, incluindo caciques do MDB e do PP alvos da Lava Jato.

Contraria também Bolsonaro, uma vez que a operação foi responsável por dar notabilidade a Moro, que se tornou seu adversário após pedir demissão do Ministério da Justiça com acusações contra o chefe do Executivo.

A visão de Kássio sobre o tema anima os caciques do MDB que o ajudaram a chegar ao TRF-1. Quando foi indicado, a então presidente Dilma Rousseff ainda tinha proximidade com seu vice, Michel Temer (MDB), que foi decisivo na escolha.

O ex-presidente José Sarney, o senador Renan Calheiros e o ex-senador Romero Jucá, todos do MDB, também deram apoio à indicação.

Além do centrão, o apoio a Kássio também parte de advogados reconhecidos em Brasília e que defendem os principais políticos do país.

Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido Kakay, defensor de parlamentares como Ciro Nogueira e Jucá nas investigações da Lava Jato, saiu em defesa do nome que desponta como favorito para o STF.

"Quando o doutor Kassio Nunes foi nomeado desembargador federal pela Dilma a notícia foi que ele 'um homem do Wellington Dias', do PT do Piauí", disse Kakay.

"Querem dizer que ele, nomeado ministro do Supremo pelo Bolsonaro, é uma nomeação do Ciro Nogueira, piauiense e do centrão. Ao invés de dar ao futuro ministro poderes de unir o PT e o centrão, é mais honesto ver o simples: ele está à altura do cargo de ministro do Supremo."

Em decisão que beneficiou o governo, Kássio acolheu um parecer da AGU (Advocacia-Geral da União) para liberar o abate de jumentos para exportação. O juiz federal afirmou que o abate de jumentos segue os mesmos procedimentos de frigoríficos de bois, cabras e porcos e está amparado por normas legais.

Foi dele também a derrubada de liminar da primeira instância que havia suspendido licitação do STF para a contratação de bufê para o fornecimento de refeições, com menu que incluía lagosta. A compra gerou repercussão negativa, e a decisão de primeiro grau ajudou a desgastar a imagem da corte.

O magistrado tem mestrado na Universidade de Lisboa, onde faz doutorado. Especialistas na área, no entanto, afirmam que ele tem uma carreira acadêmica pouco expressiva.

No TRF-1, Kássio se destacou por transitar bem nas mais diferentes correntes internas da corte. É bem visto, por exemplo, tanto pelo juiz federal Néviton Guedes, que tem 55 anos e chegou ao tribunal em uma vaga destinada a membros do Ministério Público, quanto por Olindo Menezes, que é juiz há 38 anos, está no TRF-1 há 25 anos e é da chamada velha guarda da corte.

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

fama Equador Há 19 Horas

Imagens fortes! Vídeo mostra assassinato de Miss Landy Párraga

mundo Kristi Noem Há 19 Horas

Governadora cotada para ser vice de Trump matou a tiros o próprio cão

justica Raul Pelegrin Há 19 Horas

Homem que cortou corda de trabalhador foi espancado antes de morrer

mundo Aviões Há 12 Horas

Piloto alcoolizado leva Japan Airlines a cancelar voo nos EUA

brasil São Paulo Há 11 Horas

Adolescente tem membros amputados após descarga elétrica de 8 mil volts

brasil Brasil Há 18 Horas

Ponte é arrastada pela correnteza enquanto prefeita grava vídeo; veja

fama Demi Moore Há 17 Horas

Filhas de Demi Moore e Bruce Willis combinam biquínis nas férias; veja

esporte Liga dos Campeões Há 17 Horas

Brilho de Vini Jr: Dois gols e uma reverência contra o Bayern de Munique

esporte Ayrton Senna Há 18 Horas

Trinta anos sem Ayrton Senna; relembre momentos marcantes

brasil CHUVA-RS Há 9 Horas

Temporais no RS deixam 10 mortos e 21 desaparecidos