Economia culpa ministério de Marcos Pontes por corte em benefício fiscal para pesquisa científica

A cota é o valor total de produtos comprados de outros países, que ficam isentos de impostos. Caiu de US$ 300 milhões em 2020 para US$ 93,29 milhões em 2021

© Marcelo Camargo/Agência Brasil

Economia CIÊNCIA-GOVERNO 28/01/21 POR Folhapress

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O Ministério da Economia atribuiu ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação a responsabilidade pelo corte de 68,9% na cota de importação de equipamentos e insumos destinados à pesquisa científica.

PUB

A cota é o valor total de produtos comprados de outros países, que ficam isentos de impostos. Caiu de US$ 300 milhões em 2020 para US$ 93,29 milhões em 2021.

Leia Também: Caixa pagahojeR$ 248 milhões do auxílio emergencial

A decisão do Ministério da Economia de cortar os benefícios fiscais impacta principalmente as ações desenvolvidas pelo Instituto Butantan e pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) no combate à pandemia, conforme revelou o jornal Folha de S.Paulo em reportagem publicada na terça-feira (26).

Leia Também: Covid e desigualdade em alta devem emperrar reformas e favorecer extremistas

O CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, tenta reverter o corte dos benefícios fiscais.

O órgão enviou ofícios aos dois ministérios, mostrando que Butantan e Fiocruz foram os principais importadores em 2020 para projetos voltados ao combate à pandemia. Os US$ 93,29 milhões são insuficientes para as pesquisas relacionadas ao novo coronavírus, segundo o CNPq. É o menor valor dos últimos dez anos.

A pasta de Paulo Guedes só se manifestou a respeito da decisão de cortar a cota de importação na noite desta quarta (27), quase um dia após a publicação da reportagem.

"O MCTI deve, em observância ao ciclo orçamentário, enviar ao ME até julho de cada ano a proposta de limite global anual para o exercício seguinte. Em 2020, a proposta do MCTI só chegou ao ME em setembro, quando a proposta da PLOA 2021 já havia sido encaminhada ao Congresso, em agosto", diz a nota.

A PLOA é o projeto de lei orçamentária anual, enviado pelo Executivo ao Congresso, para análise do Orçamento da União. É a partir desse projeto que se sacramenta o orçamento definitivo.

Diante da ausência da proposta do ministério de Marcos Pontes, a previsão da cota de importação para 2021 foi feita pelo Centro de Estudos Tributários e Aduaneiros, "nos termos das normas previstas para a elaboração das peças orçamentárias e dentro do escopo de atuação da Receita Federal", afirmou o Ministério da Economia.

Segundo a pasta, um aumento do valor da cota, com a recomposição aos US$ 300 milhões, depende de uma emenda à lei orçamentária em tramitação no Congresso, "para cumprir a exigência de preservação do equilíbrio fiscal".

O ministério diz ter chegado aos US$ 93,29 milhões a partir das importações efetivadas em 2019. "Não houve corte orçamentário por parte do Ministério da Economia para diminuir esses benefícios, tendo em vista que a atual portaria repetiu o montante executado pelo órgão", diz a nota.

A reportagem questionou o Ministério de Ciência e Tecnologia sobre a posição da Economia. Não houve resposta até a publicação deste texto.

Com base na reportagem publicada pela Folha de S.Paulo, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e os deputados federais Tabata Amaral (PDT-SP) e Felipe Rigoni (PSB-ES) protocolaram na Justiça, nesta quarta, uma ação popular com pedido de anulação do ato do Ministério da Economia.

Duas leis de 1990 garantem o benefício fiscal. A definição sobre a cota ocorre todo ano e fica a cargo do Ministério da Economia.

Em 2010, o valor da cota foi de US$ 600 milhões. Em 2014, US$ 700 milhões. E em 2017, 2019 e 2020, US$ 300 milhões.

O valor limite de US$ 93,29 milhões para importação de insumos destinados a pesquisas científicas, com isenção de impostos, foi definido em portaria do Ministério da Economia publicada no último dia de 2020. O total se refere a 2021.

Assina a portaria Marcelo Pacheco dos Guaranys, ministro substituto. Guaranys também assina a portaria que havia definido uma cota de US$ 300 milhões para 2020.

A redução expressiva de valores levou a uma contestação por parte do presidente do CNPq, Evaldo Ferreira Vilela, que enviou ofícios aos ministérios responsáveis para tentar a recomposição da cota.

"Caso mantido o valor definido, teremos uma profunda redução em relação aos últimos exercícios, o que implica em refrear a capacidade de importação de bens e insumos destinados à pesquisa científica, tecnológica e de inovação brasileira, incluindo as pesquisas na área de saúde em quase 70%", afirmou Vilela.

O presidente do CNPq disse que projetos de combate à Covid-19, beneficiados com a isenção de impostos, consumiram US$ 9 milhões por mês. "Em um cenário conservador que considere a manutenção do investimento mensal por 12 meses em 2021, teremos uma demanda total de US$ 108 milhões somente para o combate à Covid-19", complementou.

Assim, o valor estipulado para 2021, de US$ 93,29 milhões, não supriria nem os projetos dedicados ao combate à pandemia.

"Reforço a necessidade de recomposição da cota de importação de US$ 300 milhões, no mínimo, para garantir as pesquisas tanto da Covid-19 como de outros projetos de grande relevância para o país", afirmou o presidente do CNPq.

Fundações ligadas ao Butantan e à Fiocruz foram os principais importadores em 2020, segundo um estudo da área técnica do CNPq. A Fundação Butantan consumiu US$ 80,3 milhões da cota, ou 26,7%. Já a fundação de apoio à Fiocruz importou US$ 47,7 milhões (15,9%).

"Fiocruz e Instituto Butantan lideram a fabricação de vacinas no Brasil para o enfrentamento da Covid-19, tendo contado com o importante apoio do CNPq e da cota de importação para aquisição de insumos e bens destinados à pesquisa", afirmou o órgão.

Estudos sobre ventiladores pulmonares da Fundação Butantan, por exemplo, consumiram US$ 16,8 milhões em importações. Na Fiocruz, estudos sobre o diagnóstico do vírus necessitaram de importações que somam US$ 20,8 milhões, segundo o CNPq.

Na pandemia, o governo Bolsonaro já manteve uma sobretaxa na importação de seringas chinesas e elevou a tarifa de importação de cilindros usados na armazenagem de oxigênio medicinal. Após a repercussão negativa da divulgação das duas iniciativas, o governo derrubou as cobranças.

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

fama Luto Há 19 Horas

Morre Anderson Leonardo, vocalista do Molejo, vítima de câncer

esporte Brasil Há 23 Horas

Estátua de Daniel Alves em Juazeiro vai ser retirada; entenda

fama Redes Sociais Há 20 Horas

Livian Aragão, filha de Didi, sugere plágio e leva invertida na web

mundo Antártida Há 20 Horas

Vulcão ativo na Antártida expele pequenos cristais de ouro

tech Ataque Há 2 Horas

Hackers vazam imagens de pacientes de cirurgia nus e prontuários de clínica de saúde sexual

fama Luto Há 5 Horas

Morre aos 95 anos o ator e comediante José Santa Cruz

tech ESA Há 3 Horas

Sonda da Agência Europeia detecta 'aranhas' em Marte

mundo Titanic Há 5 Horas

Relógio de ouro do homem mais rico no Titanic vai ser leiloado

lifestyle Challenger deep Há 22 Horas

Onde fica o ponto mais profundo da Terra? Um famoso já esteve lá!

fama Casais famosos Há 15 Horas

Romances estranhos dos famosos (e que ninguém parece lembrar!)