MP da Eletrobras prevê R$ 8,7 bi em obras para redutos eleitorais

O presidente Jair Bolsonaro concordou em liberar R$ 8,7 bilhões em obras hídricas em redutos eleitorais

© DR

Economia Negócios 25/02/21 POR Folhapress

BRASÍLIA, DF, E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A fim de pôr no caixa da União R$ 25 bilhões, o presidente Jair Bolsonaro concordou em liberar R$ 8,7 bilhões em obras hídricas em redutos eleitorais. A decisão deve garantir a capitalização da Eletrobras, emperrada no Congresso Nacional.

PUB

Definida por medida provisória entregue ao Congresso na terça (23), a capitalização será um processo de venda de ações do governo na estatal. Com isso, a União tem sua participação reduzida a cerca de 45% e deixará o controle da estatal.

A proposta acena ainda para os consumidores com o abatimento das contas de luz de R$ 25 bilhões ao longo de dez anos.

Se prosperar desta vez, a venda de ações da União na Eletrobras deverá movimentar cerca de R$ 50 bilhões. Esse é valor total envolvido na operação.

Entre os gastos adicionais incluídos pelo texto, que totalizaram os R$ 8,7 bilhões, estão a obrigação de investimentos de R$ 2,3 bilhões na revitalização nas bacias das hidrelétricas de Furnas e de R$ 2,9 bilhões em medidas de redução estrutural de custo de geração de energia na Amazônia.

Esses investimentos são comparados pelo setor a um "pedágio" ou "pacote de bondades" para convencer o Congresso Nacional a aprovar a privatização.

Na gestão do ex-presidente Michel Temer (MDB), que também tentou vender as ações da União na estatal de energia, esse pacote previa R$ 3,5 bilhões em "pedágios", particularmente na revitalização da bacia do São Francisco. Desta vez, Furnas, localizada em Minas Gerais, foi incluída.

A secretária-executiva do Ministério de Minas e Energia, Marisete Pereira, afirmou, em entrevista à reportagem, que esses investimentos são "extremamente necessários" diante da incapacidade da Eletrobras em destinar recursos para a "recuperação dessa bacias hidrográficas".

"No Orçamento deste ano estavam previstos somente R$ 30 milhões para essas obras", disse. "É muito pouco para um país que precisa recuperar essas bacias, especialmente a do rio Grande, que é a caixa-d'água do nosso sistema."

Segundo ela, boa parte do volume expressivo de recursos envolvidos na capitalização se deve à inclusão no projeto da renovação da concessão da hidrelétrica de Tucuruí, que venceria em 2024.

Inicialmente, o governo licitaria a usina após o vencimento do contrato. No entanto, preferiu amarrar a capitalização à renovação, o que gerou um aumento de valor da Eletrobras e, em consequência, das ações que serão oferecidas ao mercado.

Ainda segundo a secretária, esse aumento de recurso é que vai lastrear os investimentos na revitalização de bacias e no reforço à CDE (Conta de Desenvolvimento Energético), que será o veículo usado para o abatimento nas tarifas.

Bolsonaro no sábado (19) havia prometido "meter o dedo" no setor elétrico, após intervir na Petrobras.

Instalada no Pará, com potência de 8.370 MW (megawatts), Tucuruí é a segunda maior hidrelétrica 100% brasileira, atrás apenas de Belo Monte, no mesmo estado.

A usina é das principais fontes de receita da Eletrobras. Caso a MP seja convertida em lei pelo Congresso, a estatal terá mais 30 anos de concessão da hidrelétrica.

A medida provisória também cria uma ação preferencial, conhecida como "golden share", que dá poder de veto à União em votações referentes a questões acionárias, como a fatia máxima para minoritários ou a realização de acordos de acionistas.

O governo quer limitar a 10% a fatia máxima de um acionista minoritário e proibir acordos de acionistas com o objetivo de evitar que a empresa passe a ter controle privado. Os dois temas devem ser objeto de atualização do estatuto da Eletrobras.

O modelo de pulverização das ações da Eletrobras é semelhante aos projetos anteriores. Parte do dinheiro arrecadado na venda das ações será usada pela estatal para ressarcir o governo por uma mudança nas condições contratuais das usinas da Eletrobras.

Para especialistas, a edição da MP pode acelerar a privatização, já que permite que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) inicie os estudos para a oferta de ações.

"É um primeiro movimento e há muito a se fazer até a real privatização da companhia", diz o presidente da consultoria PSR, Luiz Augusto Barroso, que já comandou também a EPE (Empresa de Pesquisa Energética), estatal responsável pelo planejamento do setor.

Ele ressalta que o tema demanda uma "construção complexa" no Congresso, sob o risco de concessões a atores políticos que podem acabam afetando a atratividade do negócio.

Para o consumidor, diz, os efeitos ainda dependem de uma série de fatores. A princípio, a mudança do regime contratual reduz a transferência do risco hidrológico para as tarifas, fator que pressiona as contas de luz durante seca.

"Quando somadas às demais estratégias de redução tarifária em andamento, como a devolução do PIS/Cofins arrecadado em excesso e a renegociação das condições comerciais da energia de Itaipu, podem significar uma redução tarifária maior", afirma.

Para Roberto D'Araújo, do Instituto Ilumina, por outro lado, o modelo pode representar aumento na tarifa, já que o valor da energia no mercado é bem superior aos R$ 40 por MWh (megawatt-hora) pagos no sistema de cotas vigente em boa parte das usinas da Eletrobras.

Ele diz ainda que a transferência de ativos prontos ao setor privado deveria exigir em contrapartida investimentos, para reduzir o risco de crise de abastecimento com o apagão de 2001, ocorrido após privatizações. "São Pedro foi acusado, mas quem conhece os números sabe que ele é inocente."Leia mais sobre desestatização na pág. A22

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

fama A Grande Conquista 2 Há 8 Horas

Ex-Polegar pega faca durante discussão e é expulso de reality

politica Arthur Lira Há 9 Horas

Felipe Neto é autuado por injúria em inquérito aberto a pedido de Arthur Lira

mundo Posição de Lótus Há 10 Horas

O misterioso caso da múmia escondida em estátua de Buda

fama Iraque Há 8 Horas

Influencer iraquiana é morta a tiros em Bagdá

fama GISELE-BÜNDCHEN Há 11 Horas

Gisele Bündchen recebe apoio de prefeito após chorar durante abordagem policial nos EUA

lifestyle Signos Há 11 Horas

Quatro signos que nasceram para serem famosos

brasil Santa Catarina Há 11 Horas

Homem morre após ser atacado por quatro pitbulls em quintal de casa em SC

economia REINHART-KOSELLECK Há 9 Horas

Quem é o historiador lido por Haddad após bronca de Lula

mundo Guangzhou Há 8 Horas

Tornado atinge cidade na China e deixa rastro de destruição; vídeo

brasil MORTE-SP Há 5 Horas

Morte de jovem após deixar sauna gay causa pânico; relembre histórico