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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Ricardo Lewandowski decidiu dar ao TCU (Tribunal de Contas da União) amplo acesso às mensagens vazadas do ex-juiz Sergio Moro e de procuradores da Operação Lava Jato.
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O tribunal investiga eventual conflito de interesses na contratação de Moro pela empresa Alvarez & Marsal, administradora judicial das empresas do grupo Odebrecht.
O ministro Bruno Dantas, relator do processo sobre Moro, acredita que as mensagens podem comprovar se o ex-juiz orientou a ação de procuradores da Lava Jato em operações contra a Odebrecht.
Elas teriam ajudado a levar a empresa a uma situação de insolvência -hoje administrada pela empresa em que Moro trabalha e é remunerado. "Como se diz popularmente, o mesmo agente teria atuado nos 'dois lados do balcão'", escreveu Dantas em seu despacho.
As mensagens já tinham sido anteriormente disponibilizadas à defesa do ex-presidente Lula, que tem enviado relatórios semanais ao Supremo para questionar procedimentos de Moro e dos procuradores em ações contra ele.
No caso da Alvarez & Marsal, o ministro Bruno Dantas considerou a contratação de Moro "no mínimo peculiar e constrangedora".
Disse ser necessário afastar a hipótese de Moro estar sendo remunerado por "informações privilegiadas que possa repassar" sobre processos envolvendo a Odebrecht. E ameaçou bloquear os repasses de recursos para a empresa.
Dantas acatou os argumentos do Ministério Público Federal junto ao TCU que apontaram o eventual conflito de interesses. Segundo o procurador Lucas Rocha Furtado, Moro, em sua atuação na Operação Lava Jato, "pode ter contribuído para a situação de insolvência da empresa". E agora estaria ganhando dinheiro ao trabalhar em seu processo de recuperação.
O procurador relatou, em seu pedido de esclarecimentos, "suposto conflito de interesse do agente que, em um primeiro momento, atuou em processo judicial com repercussões na esfera econômica e financeira da empresa e que, posteriormente, aufere renda, ainda que indiretamente, no processo de recuperação judicial para o qual seus atos podem ter contribuído".
Ao despachar sobre o pedido do MP, o ministro do TCU afirma que considera "gravíssimos" os fatos narrados pelo procurador."Soa deveras conflitante que, após ser investida na condição de administradora judicial das empresas do grupo Odebrecht, em 17/6/2019, a Alvarez & Marsal tenha incorporado ao seu quadro societário, em 30/11/2020, o ex-juiz Sérgio Moro", afirma o ministro.
Segundo ele, os atos de Moro como juiz "naturalmente" contribuíram para a quebra da Odebrecht, hoje em recuperação judicial.
Dantas afirma que "é elevadíssimo o risco de conflito de interesse na atuação desse profissional [Moro] Em um primeiro momento, contribui para a situação econômico-financeira atualmente vivenciada pela empresa. Na sequência, passa a auferir renda junto à administradora judicial [Alvarez & Marsal] nomeada na recuperação judicial. Como se diz popularmente, o mesmo agente teria atuado nos 'dois lados do balcão'".
Ele diz ser necessário considerar também "a hipótese de que se confirme que o ex-juiz não teve quaisquer reservas para ingressar em sociedade que presta consultoria para as empresas dirigidas por administradores outrora por ele condenados".
Quando juiz, Moro determinou a prisão de dezenas de executivos e de acionistas da Odebrecht.
Dizendo que a situação é "no mínimo peculiar e constrangedora", o ministro pede à Alvarez & Marsal informações completas sobre a contratação do ex-juiz, 'demonstrando não se tratar de remuneração indireta por serviços anteriormente prestados".
Diz ainda ser necessário afastar a hipótese de "'compra' de informações privilegiadas obtidas pelo então magistrado quando do processamento das ações penais e da celebração de acordos".
O ministro afirma que, com a medida, a Alvarez & Marsal poderá demonstrar "todo o cuidado"que teve ao contratar Moro, esclarecendo inclusive se isso foi feito por meio de uma agência de headhunter.