Com edição de DNA, brasileiros avançam no transplante de órgãos de porcos para humanos

O trabalho está sendo coordenado pela geneticista Mayana Zatz e pelo médico Silvano Raia, da USP. "Na parte molecular, temos tido bastante sucesso", diz Zatz

© Pixabay - imagem ilustrativa

Lifestyle MEDICINA-PESQUISA 01/04/21 POR Folhapress

SÃO CARLOS, SP (FOLHAPRESS) - Usando técnicas de edição de DNA, pesquisadores brasileiros deram passos importantes para viabilizar o transplante de órgãos de porcos para seres humanos.

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Eles conseguiram remover trechos de material genético que poderiam desencadear rejeições ou causar doenças nos pacientes que receberem os tecidos de origem suína. Seu primeiro objetivo é realizar transplantes de rim, o que poderia diminuir significativamente a fila de transplantes e a dependência de constantes sessões de hemodiálise por parte dos doentes.

O trabalho está sendo coordenado pela geneticista Mayana Zatz e pelo médico Silvano Raia, da USP. "Na parte molecular, temos tido bastante sucesso", diz Zatz.

"Transplantes de rins suínos modificados dessa maneira para babuínos [que são primatas, como o ser humano] já mostraram que é possível uma sobrevida de longo prazo. Os macacos ficaram com os rins por dois anos e meio e foram sacrificados como parte do estudo, sem que isso tivesse relação com o transplante.

O procedimento ainda não foi realizado com pacientes humanos em nenhum lugar do mundo, mas há equipes trabalhando para isso, e é um esforço que precisa ser realizado no Brasil também", argumenta ela.

Os suínos são considerados fontes promissoras para esse tipo de xenotransplante (transplante entre espécies diferentes) há tempos. Tanto o tamanho dos animais quanto sua anatomia são compatíveis com as necessidades de receptores humanos.

Para que o transplante se torne viável, dois tipos de modificação genética são considerados necessários. O primeiro envolve a remoção de três trechos do DNA suíno que provocariam rejeição aguda nos pacientes. Além disso, é preciso extirpar ainda regiões do genoma conhecidas como Pervs (sigla inglesa de "retrovírus endógenos porcinos").

Em essência, estamos falando de vírus "fossilizados", que infectaram os ancestrais dos porcos de hoje e inseriram versões de seu material genético no genoma dos animais. É o que o vírus da Aids ainda faz hoje com as pessoas que infecta.

No organismo dos bichos, os Pervs são inócuos, mas há o risco de eles "ressuscitarem" e infectarem outra espécie que receber o órgão transplantado. Tanto no caso dos genes de rejeição quanto no dos Pervs, a equipe já dominou os métodos necessários para deletá-los, usando a técnica de edição de DNA conhecida como Crispr (pronuncia-se "crísper").

O próximo passo, conta Silvano Raia, será transferir o núcleo das células suínas modificadas para óvulos cujo núcleo foi retirado – na prática, um processo de clonagem – e implantar o embrião assim gerado em fêmeas. Os rins dos filhotes que nascerem a partir desse processo serão testados em sistemas de circulação extracorpórea, para demonstrar que são capazes de realizar corretamente a função filtradora do órgão.

Isso, no entanto, ainda não será suficiente para que a pesquisa chegue ao teste clínico, com pacientes. Para isso, os pesquisadores estão em busca de financiamento para construir a chamada "pig facility", uma instação em que os suínos seriam criados em condições livres de germes e, portanto, seguras para o transplante. A área já está disponível: um espaço de 1.100 m2 cedido pelo Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), na capital paulista. "Com a 'pig facility', poderíamos começar os testes com pacientes num intervalo de seis meses a um ano", diz Zatz.

Raia elenca os requisitos bioéticos para escolher os participantes: seriam pessoas cuja expectativa de vida ficaria maior com o transplante do que apenas com a continuidade da hemodiálise. Além disso, elas receberiam prioridade na fila de transplantes de órgãos humanos caso o procedimento não desse certo. "Seria possível fazer o xenotransplante sem retirar o rim ainda funcional do paciente, tornando-o reversível no caso de algum problema", explica ele.

Os pesquisadores chegaram até a consultar autoridades religiosas – católicas, judaicas e muçulmanas – em busca de seu beneplácito para o procedimento. "Em essência, é algo permitido por todos", diz Raia.

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