Polícia tem 36 denúncias contra dentista suspeita de deformar paciente no Rio

Giselle de Souza Gomes será investigada pela prática de crimes de estelionato, lesão corporal grave e exercício ilegal da profissão de odontóloga

© Reuters

Justiça Caso de polícia 06/05/21 POR Folhapress

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A Polícia Civil do Rio de Janeiro soma 36 inquéritos abertos para investigar uma cirurgiã-dentista do município de Campos (RJ), suspeita de ser a responsável por preenchimentos labiais que causaram deformação permanente do rosto de uma paciente.

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Segundo a delegada Natália Patrão, da 136ª DP, diariamente novas pessoas têm procurado a delegacia para denunciar a dentista Giselle de Souza Gomes, todas com o mesmo relato. "Parece copiar e colar. Ela oferece ácido hialurônico e aplica o PMMA [polimetilmetacrilato]", afirma.

Procurado, o advogado da dentista, Marcelo Freire, disse não ter sido autorizado a responder perguntas.

Segundo denúncia do Ministério Público do Rio, enviada à Justiça em fevereiro, Giselle oferecia às clientes a aplicação de ácido hialurônico, substância naturalmente absorvida pelo organismo, mas usava em seu lugar PMMA, produto sintético mais barato e não recomendado pela SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) para fins estéticos.

Nas redes sociais, Giselle se apresentava como profissional especializada em procedimentos estéticos de preenchimento labial, com especialização na Universidade Harvard e doutorado na Argentina -informações falsas, segundo a delegada.

De acordo com a Promotoria, a dentista também mentia aos pacientes ao se dizer apta pelo Conselho Federal de Odontologia para realizar procedimentos de harmonização orofacial. Ela oferecia ainda serviços como botox, cirurgia de bichectomia, aplicação de fios e lipoaspiração facial.

A cabeleireira Odilana Velasco, 33, conheceu Giselle após recomendação de influenciadores digitais no Instagram. Em uma consulta para saber mais sobre preenchimento labial, ela diz que foi convencida a realizar o procedimento no mesmo dia, por R$ 1.080.

No dia seguinte, em julho de 2020, Odilana começou a sentir os efeitos do procedimento. "Minha boca começou inchando muito e ficando preta", diz. A dentista lhe informou que a reação era normal e que o ácido hialurônico seria gradualmente absorvido pelo corpo.

Sem melhora, Odilana diz ter contactado a dentista pelo menos dez vezes em um período de dois meses. "Ela demorava de dois a três dias para responder. Dizia para confiar nela. Ela tenta te convencer para ganhar tempo e você desistir", afirma. Odilana diz que chegou a passar por uma segunda aplicação para igualar os lábios, que pareciam tortos.

Depois de ouvir de um médico que o produto que tinha nos lábios era PMMA, Odilana foi ao consultório cobrar da dentista a ficha técnica da aplicação, mas o pedido foi negado.

Em setembro, quando o inchaço infeccionou, Odilana enviou uma foto dos lábios à dentista, que a bloqueou nas redes sociais. No dia 24 daquele mês, ela deu entrada no hospital, onde passou por um procedimento médico de emergência de drenagem nos lábios. Foram retirados 2 ml de secreção purulenta espessa.

"Na época, fiquei com depressão, me isolei da minha família inteira. Não conseguia nem dirigir para ir ao consultório. Tinha medo de as pessoas me julgarem", diz a cabeleireira, que se separou do marido nesse período.

O PMMA continua nos lábios. Odilana diz ter visitado ao menos seis médicos para ouvir o que pode ser feito para reverter o caso. "Cada cirurgia custa de R$ 20 mil a R$ 30 mil. É um procedimento muito traumático e não se sabe quantas cirurgias serão necessárias."

Odilana diz ter infecções recorrentes a cada 15 dias nos lábios. "Vivo à base de antibióticos e corticoides", afirma.

A advogada das vítimas, Andréa Paes, disse que uma das mulheres com deformações chegou a tentar suicídio. "Todas elas mostram um quadro muito grande de abalo, de vergonha. O rosto é o cartão de visitas", diz.

Ela conta que a dentista se mostrava solícita na primeira consulta. Quando as pacientes voltavam para reclamar, o tom mudava. "Ela falava: 'você ainda não notou que é feia e torta?'", diz.

Giselle Gomes será investigada pela prática de crimes de estelionato, lesão corporal grave e exercício ilegal da profissão de odontóloga, que acarretam penas que, se somadas, podem chegar a 15 anos de prisão.

A Polícia Civil abriu inquérito para investigar também o crime de lavagem de dinheiro, já que um mandado de busca e apreensão encontrou registros de transferência de R$ 580 mil para a conta do filho de Giselle.

No Instagram, uma conta privada com o nome da dentista continua aberta, com 324 seguidores e apenas uma publicação. No perfil, ela escreve: "Afastada dos meus trabalhos. Usando esse perfil temporariamente".

O CRO-RJ (Conselho Regional de Odontologia-RJ) abriu um processo ético-disciplinar para investigar a conduta da profissional e suspendeu a inscrição da dentista, atendendo medida cautelar da Justiça do Rio, que também determinou o bloqueio de sua conta bancária e a suspensão dos perfis nas redes sociais Facebook e Instagram.

De acordo com o presidente do conselho, Altair Andrade, o uso do PMMA por dentistas está previsto pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e sua escolha depende de avaliação profissional. "Não se discute a possibilidade do uso desses procedimentos, mas sim a forma como foram realizados e os efeitos e danos que produziram", diz.

Segundo ele, o que deve ser investigado é o fato de Giselle dizer às pacientes que usava ácido hialurônico, e não PMMA, além das lesões provocadas pelo procedimento.

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