Pesquisa mostra aprofundamento de desigualdades na infância

A pesquisa foi desenvolvida por meio de um questionário online entre os dias 11 de junho e 15 de julho de 2020, com perguntas abertas e fechadas

© Getty Images

Lifestyle UFMG 10/05/21 POR Agência Brasil

“A doença que aproxima e afasta as pessoas”. Foi assim que uma menina de 10 anos, da região metropolitana de Belo Horizonte, revelou o que sente com a pandemia. Ela faz parte da pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) que analisa as experiências de crianças em tempos de pandemia do novo coronavírus. Foram 2.200 participantes de 8 a 12 anos. Entre os resultados dos estudos, percepções sobre a vivência familiar, mas, sobretudo, a evidência de que as desigualdades se aprofundam, deixando crianças ainda mais vulneráveis.

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“As crianças estão sofrendo, sofrendo pela ausência de escola, pela mudança do seu cotidiano, pela mudança no seu contexto de relações, pela experiência subjetiva de lidar com a incerteza, com o medo de adoecimento, mas a gente observa que há uma desigualdade na forma de vivenciar essa experiência. Esse é um elemento muito importante”, explica Isabel de Oliveira, professora da Faculdade de Educação da UFMG e pesquisadora do  Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Infância e Educação Infantil (Nepei).

Ela cita como exemplo o acesso à escolarização. Ao analisar o uso de computador, tablet, celular ou internet em casa, viu-se que mais crianças que se autodeclararam brancas afirmaram ter acesso a essas ferramentas do que as pardas e as pretas. Entre as que não têm acesso à internet, 11,1% moram em territórios de alta vulnerabilidade. O mesmo ocorre com o acesso ao celular: 11,6%. 

A pesquisa foi desenvolvida por meio de um questionário online entre os dias 11 de junho e 15 de julho de 2020, com perguntas abertas e fechadas. Além disso, as crianças puderam enviar desenhos, fotografias e mensagens. Na segunda fase, entre agosto e dezembro, foram feitas entrevistas com 33 dos voluntários que participaram na primeira etapa.

Isabel explica que é fundamental ouvir as crianças, inclusive, para formulação de políticas que respondam a essas vivências. A prática é comum no Nepei e parte do reconhecimento de que elas podem e devem se posicionar, mas também o reconhecimento de um direito. “Já está previsto legalmente. Então entendemos que era nosso papel buscar ouvir”, aponta. O estudo, a partir da escuta das crianças, definiu recomendações para o Poder Público e a sociedade no atendimento desse público na pandemia. Uma delas é, justamente, ouvi-las.

O trabalho revelou que as crianças têm um conhecimento apurado sobre os significados da pandemia, demonstrando, por exemplo, saber sobre a importância do isolamento. A solidariedade intergeracional também foi uma marca encontrada. “Em geral, elas tinham essa compreensão de que o maior risco era para as gerações mais velhas e elas diziam então que elas tinham o dever, a responsabilidade de aderir ao isolamento social em função da proteção dessas pessoas mais velhas”, aponta a pesquisadora.

A vivência de angústias e medos também apareceram entre as respostas. “Elas se viram mais confrontadas com temas que não necessariamente faziam parte dos assuntos com os quais elas se envolviam, como o tema da morte, o tema do adoecimento, o medo da morte de pessoas próximas, medo de ficarem sozinhas”, explica Isabel. Em contraponto, as crianças demonstraram a capacidade de desenvolver estratégias de aprendizados e a valorização da convivência familiar. 

Entre as recomendações, além do exercício de escutar as crianças para desenvolver políticas públicas e pedagógicas, Isabel destaca a necessidade de considerar as desigualdades reveladas. “É preciso considerar que as mudanças na experiência cotidiana aconteceram para todas as crianças, mas a forma como isso acontece é muito diferente considerando a condição social e que há entre as crianças situações de ainda maior vulnerabilidade do que aquela que já existia.”

A professora reforça ainda a importância de que essas vivências na pandemia sejam observadas no retorno às aulas. “Precisa olhar essa criança e não o conteúdo eventualmente perdido. Que criança é essa que volta agora e com a qual a gente vai voltar a trabalhar?”, questiona. Ela cita como exemplo as possíveis perdas de familiares e adoecimentos. Ainda nos casos em que permanece o ensino remoto, a pesquisadora aponta que não se deve buscar uma reprodução do modelo presencial. 

Mais de 80% das crianças ouvidas estavam preocupadas com a ausência na escola. “A falta da escola revelou o quanto esse espaço é importante para as crianças. Nós tivemos um número baixíssimo de crianças que falaram: ‘Melhor é não ir pra escola’." Além do local de ensino, a escola é relatada como o espaço e sociabilidade, do encontro com os amigos e da aprendizagem conjunta. 

“Não é um funcionamento que separa o cognitivo do restante. A gente já sabe disso teoricamente, mas foi interessante ouvir isso das próprias crianças. A condição delas de aprendizagem do conteúdo precisa ser de forma integral, considerando saúde física, emocional, suas condições e relações sociais”.

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