'Bela Vingança' apresenta anti-heroína perfeita para tempos de MeToo

'Bela Vingança' apresenta anti-heroína perfeita para tempos de MeTooEssa história não poderia ter acontecido em outro momento, ela tem o DNA da cultura do cancelamento, tão atual nos dias de hoje, e uma boa dose de retaliação feminista, outro fenômeno que marca a nossa era, esse infinitamente mais bem-vindo que o primeiro

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Cultura CINE-CRÍTICA 14/05/21 POR Folhapress

TETÉ RIBEIRO - Este filme não vai mudar o rumo do cinema, não é o melhor do gênero "drama de vingança protagonizado por mulheres", do qual fazem parte títulos superiores como "Kill Bill - Volume 1" e "Kill Bill - Volume 2", de 2003 e 2004, obra de Quentin Tarantino, "Clube das Primeiras Mulheres", de 1996, com Goldie Hawn, Diane Keaton e Bette Midler e "Carrie", o clássico de horror de 1976.

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A relevância de "Bela Vingança" é apresentar uma perspectiva nova e totalmente casada com o zeitgeist para a cultura machista que empurra para debaixo do tapete o drama do assédio sexual perpetrado por jovens não criminosos.

É o estupro diferente dos cometidos em becos escuros por homens encapuzados. São os casos que acontecem com muito mais frequência do que o estupro "clássico", é o assédio do dia a dia, que acontece entre conhecidos, em universidades, festas, happy hours, por colegas de trabalho, namorados, maridos. Esse filme vem acumulando polêmicas desde que foi apresentado pela primeira vez no festival Sundance, em janeiro do ano passado.

O crítico de cinema Dennis Harvey, da revista Variety, que estava no festival, publicou uma resenha elogiosa do filme, mas na qual questionava a escolha da atriz britânica Carey Mulligan, de "Educação" e "O Grande Gatsby", no papel principal.

Em seguida, sugeria que a australiana Margot Robbie, de "Era Uma Vez.... Em Hollywood" e "O Lobo de Wall Street", que atua como produtora em "Bela Vingança", pudesse ter sido uma primeira opção para o papel, já que tem uma beleza mais incontestável.

Carey Mulligan não gostou nada do que leu, e reclamou em dezembro, 11 meses depois de a crítica ter sido publicada, numa entrevista para o jornal The New York Times. "Eu pensei 'sério?'. 'Para esse filme, você vai escrever algo assim tão transparente? Agora? Em 2020?' Não pude acreditar", disse a atriz.

A revista, então, publicou uma nota no alto da resenha de Dennis Harvey pedindo desculpas à atriz pelo uso de "linguagem insensível" e pela "insinuação".

Mulligan achou pouco, e numa entrevista em vídeo à própria Variety, reiterou seu ponto de vista. As redes sociais foram à loucura, com comentários que chegavam perto de afirmar que o crítico era um sexista da pior espécie e provavelmente um predador como os homens retratados no filme.

Essa história não poderia ter acontecido em outro momento, ela tem o DNA da cultura do cancelamento, tão atual nos dias de hoje, e uma boa dose de retaliação feminista, outro fenômeno que marca a nossa era, esse infinitamente mais bem-vindo que o primeiro.

E este é o ponto de partida do roteiro original de "Bela Vingança", premiado com o Oscar.

Escrito e dirigido por Emerald Fennell, uma das roteiristas da série "Killing Eve", criada por Phoebe Waller-Bridge, de "Fleabag", e mais conhecida do público como a intérprete de Camilla Parker-Bowles na série "The Crown", o longa-metragem marca a sua estreia no cinema.

Em inglês, o título é "Promising Young Woman", ou jovem mulher promissora, em tradução literal. O nome em português é um grande spoiler, a vingança da trama é para ser uma revelação do filme, um prazer negado ao espectador brasileiro.

A ideia de Fennell é apresentar um "revenge drama", drama de vingança, com o visual e uma trama secundária que o confundem com uma comédia romântica.

Cassie, personagem de Carey Mulligan, tem quase 30 anos e parece levar duas vidas distintas. Durante o dia, trabalha como barista no café de uma amiga, Gail, papel de Laverne Cox, de "Orange is the New Black". À noite, se monta toda e vai à caça. O seu alvo são os bons meninos, os cavalheiros, aqueles que podem, ou não, dar um mau passo na vida, mas são, em 99% do tempo, ótimas pessoas.

Para chegar a eles, vai a bares sozinha e finge estar tão bêbada que mal consegue andar. Inevitavelmente aparece um garoto de bom coração que se oferece para a ajudar a ir para casa. No caminho, no entanto, acreditando que ela está sem condições de se opor, tenta fazer sexo sem consentimento.

Antes que o estupro aconteça, ela revela que está sóbria e totalmente consciente do que se passa. Os cavalheiros predadores, uma vez expostos, vão parar numa lista de nomes que anota num caderninho rosa, em que também faz a tabulação de quantos desses já descobriu.

Aprendemos no caminho que Cassie abandonou a faculdade de medicina e voltou a morar com os pais depois de um trauma vivido pela sua melhor amida, Nina, que estudava com ela e também largou o curso. Cassie não tem mais nenhuma ambição, tudo em sua vida foi substituído pela missão de vingar a amiga e desmascarar potenciais estupradores disfarçados de mocinhos.

As coisas começam a mudar quando um de seus ex-colegas de faculdade, Ryan, interpretado por Bo Burnham, se interessa por ela na luz do dia, sem fingir que está bêbada, sem roupas provocativas muito menos fazendo algum esforço para agradar.

Um amor verdadeiro pode alterar a trajetória da protagonista? Um bom moço de verdade a pode salvar? Claro que esse spoiler não vai entrar nessa resenha. Basta o título em português.

Quando Estreia nesta quinta (13)Onde Nos cinemasElenco Carey Mulligan, Bo Burnham, Alison BrieProdução Reino Unido, 2020Direção Emerald FennellAvaliação Muito bom

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