'Nenhum país vai dizer ao Brasil o que fazer com a Amazônia', diz Al Gore

Sem fazer referências diretas ao governo Bolsonaro, Al Gore reforçou o valor da soberania nacional, destacada nos discursos do presidente brasileiro, antes de ressaltar a importância global do bioma

© Getty Images

Mundo AL-GORE 26/05/21 POR Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - "O que acontece na Amazônia brasileira depende do Brasil. Nenhum outro país vai dizer ao Brasil ou aos seus líderes o que fazer, mas espero que todos aceitem suas responsabilidades no nosso esforço global para resolver a crise climática", disse o ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore, em evento virtual voltado ao público empresarial brasileiro nesta terça-feira (25), realizado pelo banco Santander em parceria com o jornal Valor Econômico.

PUB

Sem fazer referências diretas ao governo Bolsonaro, Al Gore reforçou o valor da soberania nacional, destacada nos discursos do presidente brasileiro, antes de ressaltar a importância global do bioma.

"A Amazônia tem implicações críticas para o ciclo hidrológico global. Altos níveis de desmatamento na Amazônia já estão causando significativa redução das chuvas no Sul", citou Al Gore, em resposta à pergunta do diplomata colombiano e ex-presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Alberto Moreno, sobre as possibilidades de colaboração da comunidade internacional na área climática.

"O meu conselho, já que você perguntou, é que os líderes, no Brasil ou em outros lugares do mundo, considerem os territórios e as comunidades tradicionais ou indígenas ao desenvolver suas políticas climáticas e de biodiversidade. Eles protegem a biodiversidade mundial há gerações e é importante que tenham um lugar na mesa na tomada de decisão", concluiu.

O americano contou ter recebido com otimismo as novas metas climáticas do Brasil, anunciadas pelo presidente Bolsonaro na Cúpula do Clima, organizada pelos Estados Unidos no último mês.

"Os Estados Unidos e o Brasil têm oportunidade de trabalhar juntos pelo clima, especialmente no momento em que o mundo se reconstrói economicamente após a pandemia", afirmou.

Al Gore também disse estar orgulhoso da gestão Biden pela prioridade dada à pauta climática. "Não há substituto para o papel de liderança global dos EUA nessa questão", disse em referência à responsabilidade histórica do país pelas emissões de gases-estufa.

Após ter sido vice-presidente da gestão Clinton de 1993 até 2000, ano em que disputou a presidência e perdeu para Bush em polêmica contagem dos votos, Al Gore se tornou uma das vozes mais importantes da questão climática no mundo.

Em 2007, venceu o Oscar de melhor documentário com o filme Uma verdade inconveniente. No mesmo ano, dividiu o prêmio Nobel da Paz com o painel científico da ONU sobre mudanças climáticas, o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas).

"Um estudo recente mostrou que proteger 30% da biodiversidade global em áreas marítimas e terrestres aumentaria o retorno econômico em uma média de US$ 250 bilhões (R$ 1,3 trilhão)", defendeu Al Gore na palestra, que também citou a necessidade de colocar um preço no carbono, com iniciativas como o mercado de créditos de emissão de carbono.

Em um discurso recheado de dados sobre as oportunidades econômicas do que ele chama de revolução sustentável, o americano citou os investimentos ESG (com critérios ambientais, sociais e de governança, na sigla em inglês) como uma tendência que era alternativa e já se tornou convencional.

Ele também afirmou que o Brasil é líder global na transição para fontes de energias renováveis, com os custos mais baixos do mundo para a implantação de energia eólica. "Hoje investir em uma nova planta de eólica no Brasil é mais barato do que manter uma termelétrica a carvão em operação", afirmou.

Ao argumentar sobre a tendência de aumento dos investimentos em soluções climáticas, movimento que ele considera irreversível, citou como exemplo a resistência de setores da sociedade americana que se organizaram para persistir nos compromissos climáticos durante o governo Trump, contrário à agenda.

"Mesmo na ausência de liderança federal nos Estados Unidos nos quatro últimos anos, uma coalizão de empresas e governos estaduais e locais formaram o We are still in ("nós ainda estamos dentro) e se comprometeram com o progresso das metas climáticas".

O movimento também inspirou reações brasileiras desde a eleição de Bolsonaro, em 2018, quando o ambientalista Alfredo Sirkis -que também representava as ações de Al Gore no Brasil até seu falecimento, no ano passado- passou a reunir os governadores estaduais em torno de compromissos com a agenda climática, em contraposição ao afrouxamento das políticas ambientais em curso no governo federal.

Al Gore e Bolsonaro se encontraram no início do ano passado durante o fórum econômico de Davos. O momento, registrado pelo filme O Fórum, mostra Al Gore afirmando ser um grande amigo de Sirkis e dizendo que estão todos preocupados com a Amazônia. Bolsonaro responde que foi um inimigo de Sirkis e que gostaria de explorar a Amazônia junto com os Estados Unidos.

"Eu não entendi o que você quer dizer", respondeu Al Gore, em uma cena que se popularizou nas mídias sociais e foi recebida pelo público como um momento constrangedor para o governo brasileiro.

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

fama Jojo Todynho Há 15 Horas

Jojo Todynho veste roupa que usava antes de perder 50kg. "Saco de batata"

mundo EUA Há 13 Horas

Criança morre após ser forçada a correr em esteira pelo pai

brasil Herança Há 17 Horas

Viúvo de Walewska cobra aluguel para que sogros morem em imóvel da filha

brasil Rio Grande do Sul Há 16 Horas

Governador do RS alerta para "maior desastre da história" do estado

fama Brian McCardie Há 15 Horas

Morre Brian McCardie, ator da série Outlander, aos 59 anos

brasil MORTE-SC Há 15 Horas

Adolescente de 14 anos morre após ser picado por cobra venenosa em SC

mundo Londres Há 15 Horas

Responsável por ataque com espada em Londres tem cidadania brasileira

fama Bastidores da TV Há 7 Horas

Bianca Rinaldi relata agressões de Marlene Mattos: "Humilhação"

fama Isabel Veloso Há 16 Horas

Marido de influencer com câncer terminal: 'Finjo que não vai acontecer'

esporte Arábia Saudita Há 16 Horas

Sem folga: Al Hilal treina após garantir vaga na final; veja as imagens