Estudantes mais pobres têm acesso menor a abertura de escolas na pandemia

​Os dados mostram que há insegurança entre as famílias para o retorno

© shutterstock

Brasil Datafolha 24/06/21 POR Folhapress

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O movimento de retorno às escolas experimentado nas redes públicas do país, mesmo que parcialmente, revela forte quadro de desigualdades.

PUB

A proporção de alunos pobres que tiveram essa oportunidade (16%) é menor que a metade da registrada entre alunos com maior renda (38%). Os dados são de pesquisa Datafolha encomendada pela Fundação Lemann e pelo Itaú Social.

É maior a proporção de negros e mulheres entre as famílias com alta vulnerabilidade, com menor acesso ao retorno, revelando assim o perfil dos maiores atingidos. O abismo é também regional.

Enquanto 40% dos estudantes do Sudeste e do Sul tiveram acesso a escolas reabertas, mesmo que parcialmente, a região Norte tem índice de 6%; no Nordeste, são 11%. Escolas urbanas tiveram melhor índice de reabertura do que as rurais.​

A pesquisa ainda reforça o baixo e desigual acesso ao ensino remoto ou híbrido, com, por exemplo, oferta de plataformas educacionais. O cenário geral tem forte relação com a ausência de uma política federal do governo Jair Bolsonaro para a educação básica na pandemia, sobretudo com foco no combate a desigualdades, na garantia de conectividade e na estruturação para uma oferta educacional remota.

Questionado, o Ministério da Educação não respondeu.

A pesquisa foi realizada entre abril e maio, com foco em estudantes de ensino fundamental e médio de escolas públicas (com idades entre 6 e 18 anos). Foram ouvidos 1.997 estudantes (amostra com margem de erro de 2 pontos percentuais) e 1.315 responsáveis (margem de erro de 3 pontos).

​Os dados mostram que há insegurança entre as famílias para o retorno. Quatro em cada dez estudantes que tiveram à disposição escolas reabertas, mesmo que parcialmente, não foram às unidades. O medo da pandemia aparece como a principal motivação.

O Brasil ultrapassou na semana passada meio milhão de mortes por Covid-19 em meio a índices elevados de transmissão e mortalidade. Também na semana, o país completou 150 dias com mais de 1.000 mortes diárias, em média.

As escolas começaram a fechar em março de 2020 e avançou o ano letivo com apostas no ensino remoto, prejudicado por problemas de conectividade e infraestrutura. A ventilação de salas é considerada inadequada em mais da metade das redes estaduais e municipais do país, como mostrou a Folha.

Em maio do ano passado, 74% dos estudantes informaram ter tido acesso a conteúdos, segundo sondagem anterior. Esse percentual subiu agora a 96%.

Ainda assim são 1 milhão de crianças e jovens sem qualquer contato com a escola. E, entre os que tiveram, as condições são desiguais e precárias.

Diante das dificuldades com conectividade, as principais formas de oferta de conteúdo têm sido por orientações via WhatsApp e por materiais impressos. O uso de papel cresceu e hoje atinge 10% dos estudantes -a adoção combinada de impressos e equipamentos, como TV ou internet, perpassa 67%.

Outro fator de preocupação trazido pela pesquisa é o baixo tempo dedicado para as atividades. Nesta sondagem, 45% dos estudantes informaram dedicar só até 2 horas diárias de estudos na última semana. Um terço estuda mais de 3 horas diárias.

Pesquisas têm mostrado fortes prejuízos de aprendizado e alto potencial de abandono. O diretor-executivo da Fundação Lemann, Denis Mizne, diz que a pandemia provoca graves impactos na saúde e economia, com mortes e fome, mas os prejuízos na educação têm efeitos muito fortes de longo prazo.

"Ter uma geração perdida na educação é devastador", diz. A escola pública, afirma ele, deve ser a equalizadora da sociedade na missão de reduzir desigualdades. "Já não fazia bem isso, mas na pandemia, quando mais se precisava dela, não temos atingido os alunos mais vulneráveis."

A desigualdade no retorno teria mais a ver, segundo Mizne, com grupos de força do que com o status da pandemia. "Onde a comunidade é mais fraca, nas escolas de periferias, onde os pais têm menos voz, os grupos com mais voz estão deixando as crianças vulneráveis de fora", diz ele, que reforça o reflexo da ausência de uma coordenação nacional mais clara.

Luiz Miguel Garcia, presidente da Undime (que representa dirigentes municipais de educação), diz que colabora com o quadro a falta de um programa de âmbito nacional. Segundo ele, os reflexos da pandemia são sentidos de maneira diversa no país.

"A municipalidade está muito perto das pessoas e existe pressão social pela volta e também por não voltar. É assustador que muitas cidades com menos de 15 mil habitantes não tenham hospitais, há dificuldades de implementação de protocolos nas escolas e ainda vivemos casos de aumentos de infecção pediátrica. Isso cria um crime ruim de retorno."

Garcia diz que, com o avanço da vacinação de educadores, a expectativa é por um retorno às aulas presenciais mais consistente a partir de agosto. A aposta com modelos híbridos continuará.

Para Patricia Mota Guedes, do Itaú Social, os dados reafirmam que a pandemia acentuou as desigualdades educacionais inclusive na própria rede pública, uma vez que a resposta das redes estaduais é mais positiva do que a dos municípios. "A capacidade de resposta das redes está diretamente relacionada a seus recursos, sejam financeiros, de infraestrutura, conectividade e recursos humanos", diz.

"Há desafio em estratégias de acompanhamento e comunicação com as famílias", afirma ela, que pontua a necessidade de olhar pontos positivos da sondagem. "Há um ano, Nordeste e Norte estavam muito atrás em relação ao outras regiões em termos de oferta de algum tipo de atividade remota e, agora, chegam a índices muito próximos do resto do país."

Segundo Mizne , é imprescindível que haja uma forte mobilização em torno da educação. Entre os esforços, ele cita a necessidade de trazer alunos evadidos de volta à escola, acolhimento emocional para alunos e professores no retorno, ampliação do tempo de aula, atenção na transição para o 6º ano (quando já há forte abandono) e um programa econômico de apoio para alunos do ensino médio.

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

fama Luto Há 20 Horas

Morre aos 95 anos o ator e comediante José Santa Cruz

tech ESA Há 18 Horas

Sonda da Agência Europeia detecta 'aranhas' em Marte

fama DEBORAH-EVELYN Há 17 Horas

Famosos cometem gafe ao elogiar Deborah Evelyn em foto com marido

mundo Titanic Há 21 Horas

Relógio de ouro do homem mais rico no Titanic vai ser leiloado

brasil Paraíba Há 16 Horas

Menina de 6 anos tem pinos colocados em perna errada

lifestyle Signos Há 17 Horas

Estes são os três signos que adoram ser independentes!

mundo Argentina Há 20 Horas

Bebê morre após ser abandonado pela mãe em stand de carros na Argentina

fama Iraque Há 13 Horas

Influencer iraquiana é morta a tiros em Bagdá

tech Ataque Há 17 Horas

Hackers vazam imagens de pacientes de cirurgia nus e prontuários de clínica de saúde sexual

mundo Equador Há 20 Horas

Queda de helicóptero militar no Equador causa morte dos oito tripulantes