'Inflação será mais persistente do que prevê o mercado'

O índice de "surpresa da inflação" do banco alcançou 4,6% em julho

© Shutterstock

Economia Inflação 01/09/21 POR Estadao Conteudo

A inflação alta será mais persistente do que o mercado financeiro e o Banco Central estão considerando, segundo Solange Srour. De acordo com a análise da economista-chefe do Credit Suisse no Brasil, isso ocorrerá porque a inércia inflacionária (processo em que inflação atual se reflete na futura) voltou a crescer. "O mercado e o BC acreditavam que a inércia havia sido quebrada depois de a inflação convergir para a meta em 2017 e 2018. Isso se mostrou errado. A inércia ainda é muito elevada e anda com a inflação. Quando a inflação começa a subir muito, a inércia aumenta", disse ela ao Estadão.

PUB

Um estudo recente do Credit Suisse mostra, inclusive, que desde 1999 a inflação nunca havia surpreendido tanto o mercado quanto agora. O índice de "surpresa da inflação" do banco alcançou 4,6% em julho. O número é 1,1 ponto porcentual superior ao segundo mais alto da série, os 3,5% registrados em janeiro de 2016. Confira, abaixo, trechos da entrevista.

Dadas as surpresas constantes na inflação, por que o mercado ainda está com uma expectativa relativamente baixa para a inflação do ano que vem?

A inflação deste ano está sendo bastante surpreendente para o Banco Central e para o mercado. É a maior surpresa da história do regime de metas para a inflação (instaurado em 1999). E é uma surpresa alta e persistente. Quando você tem uma surpresa por alguns meses consecutivos, teoricamente as pessoas deveriam se surpreender menos, mas isso não está acontecendo. Outro fato é que o Focus (pesquisa feita pelo BC com bancos e consultorias para saber as expectativas do mercado) reage muito lentamente. Quando você pensa em projeção para 12 meses, o mercado ainda acredita que a inflação vai convergir para a meta no ano que vem. Ele não tem ajustado a expectativa. Isso mostra uma certa inércia do Focus e do mercado. As expectativas no Focus estão demorando para se mexer, e são essas expectativas que o Banco Central foca. Mas é questão de tempo para o Focus começar a subir as expectativas para 2022. O choque no preço da energia vai aumentar significativamente a inflação neste ano e, pela inércia inflacionária, deve começar a afetar os preços no ano que vem. Mas tem outra variável importante para o ano que vem, o câmbio. O mercado agora está muito estressado com a questão dos precatórios e do Bolsa Família. O mercado espera hoje uma solução menos pior para esses pontos.

Qual o impacto das crises política e fiscal nessas surpresas na inflação?

Pelos fundamentos da economia e pela valorização das commodities, a taxa de câmbio deveria estar mais apreciada. Então, tem um prêmio de risco, sim, ligado à incerteza política e fiscal. Quando a pandemia começou, a taxa de câmbio depreciou bastante, porque a aversão ao risco aumentou globalmente. Todas as moedas depreciaram. O real foi a moeda que ficou mais depreciada por mais tempo. Isso está relacionado ao fiscal, à dúvida em relação à manutenção do teto. Aí o câmbio influencia a inflação. É claro que isso surpreendeu o mercado e o BC também. Quando o BC jogou a Selic (a taxa básica de juros) para baixo, imaginou que a depreciação do câmbio seria temporária. O que acabou não ocorrendo. Mas eu diria que essa não é uma surpresa do mês a mês. A surpresa do câmbio aparece no médio prazo. Já essa surpresa que aparece mês a mês está relacionada à pandemia, à quebra de cadeia produtiva que ninguém conseguiu prever. Isso está se prolongando. Outro ponto que explica essa surpresa é a inércia inflacionária. O mercado e o BC acreditavam que a inércia inflacionária da economia tinha sido quebrada depois de a inflação convergir para a meta em 2017 e 2018. Isso se mostrou errado. A inércia ainda é muito elevada e anda com a inflação. Quando a inflação começa a subir muito, a inércia aumenta.

Por que isso ocorre?

Como a inflação está se mantendo alta por muito tempo, as pessoas começam a tentar se adaptar a esse ambiente. O empresário tenta recompor sua margem aumentando os preços. Os funcionários barganham salários maiores. Todo mundo começa a projetar que o futuro vai ser parecido com o momento atual, de inflação alta. Com o choque inflacionário, logo depois de abril do ano passado, quando as surpresas começaram a aparecer, a inércia virou rapidamente. Com a inflação acumulada próximo a 9%, é natural esperar que a inércia aumente. Foi um erro apostar que ela tinha se quebrado estruturalmente.

Qual será o impacto dessa inflação mais alta do que o esperado na economia?

Há dois canais aqui. O juro vai ter de ir para um patamar mais restritivo para levar a inflação para a meta e terá de ficar mais alto por mais tempo. Isso impacta no crescimento. Outro lado é que o consumidor perde poder de compra. Se a economia estiver crescendo, esse poder de compra é reposto, e a inflação não é um grande problema. Mas, com a economia começando a desacelerar porque o juro de longo prazo já está mais alto devido às incertezas eleitoral, política e fiscal, o poder de compra pode ser corroído de maneira mais forte. Isso também freia a economia. Por isso, baixamos nossa expectativa de crescimento para 2% no ano que vem e ainda achamos que o viés é de baixa.

Como voltar a uma inércia menor?

O Banco Central terá de continuar apertando juros. Essa é a maneira mais direta de controlar a expectativa. Se os agentes perceberem que o Banco Central não está mirando a meta, todo mundo aumenta a expectativa de inflação. Agora, o BC vai precisar da ajuda do fiscal. Se o fiscal não estiver ancorado e o BC sobe o juro, tendo 40% da dívida atrelada à Selic, isso começa a gerar temor de dominância fiscal (quando o aumento do pagamento do juro da dívida agrava o desequilíbrio fiscal, o que afugenta investidores, deprecia o câmbio e eleva, novamente, a inflação). O BC, portanto, não vai conseguir fazer o trabalho sozinho.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

fama A Grande Conquista 2 Há 14 Horas

Ex-Polegar pega faca durante discussão e é expulso de reality

politica Arthur Lira Há 15 Horas

Felipe Neto é autuado por injúria em inquérito aberto a pedido de Arthur Lira

mundo Posição de Lótus Há 16 Horas

O misterioso caso da múmia escondida em estátua de Buda

lifestyle Signos Há 17 Horas

Quatro signos que nasceram para serem famosos

fama GISELE-BÜNDCHEN Há 16 Horas

Gisele Bündchen recebe apoio de prefeito após chorar durante abordagem policial nos EUA

brasil Santa Catarina Há 17 Horas

Homem morre após ser atacado por quatro pitbulls em quintal de casa em SC

fama Iraque Há 14 Horas

Influencer iraquiana é morta a tiros em Bagdá

fama SAMARA-FELIPPO Há 12 Horas

Filha de Samara Felippo é alvo de racismo em escola, diz site

brasil MORTE-SP Há 11 Horas

Morte de jovem após deixar sauna gay causa pânico; relembre histórico

economia REINHART-KOSELLECK Há 15 Horas

Quem é o historiador lido por Haddad após bronca de Lula