Após nota, bolsonaristas foram da decepção à narrativa combinada em menos de 24 horas

Os sentimentos de choque, aborrecimento e irritação correram as redes sociais bolsonaristas diante da notícia da tentativa de pacificação costurada pelo ex-presidente Michel Temer (MDB)

© Getty Images

Política apoiadores 11/09/21 POR Folhapress

JOELMIR TAVARES E CAROLINA LINHARESSÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Apoiadores de Jair Bolsonaro que ajudaram a mobilizar as manifestações do 7 de Setembro ficaram aturdidos com a mudança de tom do presidente em relação ao STF (Supremo Tribunal Federal), na quinta-feira (9), e passaram as horas seguintes tentando entender se o esforço das ruas havia sido em vão.A frustração era nítida até no tom de voz de organizadores dos atos que falaram com a reportagem pouco após a divulgação da Declaração à Nação, texto com elogios ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, alvo de mensagens autoritárias do presidente na terça-feira (7). A maioria, no entanto, diz seguir apoiando Bolsonaro.

PUB

Os sentimentos de choque, aborrecimento e irritação correram as redes sociais bolsonaristas diante da notícia da tentativa de pacificação costurada pelo ex-presidente Michel Temer (MDB).

Uma parte da base reagiu imediatamente -com termos como "arregão" e covarde-, e influenciadores bolsonaristas usaram a expressão "game over" (fim de jogo) para criticar a atitude do presidente.

Outra parcela, contudo, ficou em silêncio. Parlamentares bolsonaristas se limitaram a postar "eu confio no presidente". Aos poucos, argumentos para convencer os simpatizantes foram disseminados virtualmente.

Em live na quinta, Bolsonaro disse que a nota não tinha "nada de mais". No dia seguinte, afirmou não poder ceder à pressão dos que querem que ele "degole todo mundo".

Na sexta-feira (10), a narrativa para reunificar a base bolsonarista já aparecia de forma mais coordenada nas redes. Uma das teses diz haver um suposto acordo para que o STF se recolha ao seu papel, ou seja, para que Bolsonaro, seus filhos e apoiadores saiam da mira dos ministros.

Há ainda a versão de que o recuo visa estancar a crise econômica ou de que Bolsonaro é estrategista e sabe o que faz. A volta da esquerda também foi evocada para manter a base unida.

Como mostrou o jornal Folha de S.Paulo, a nota de Bolsonaro foi motivada pelo temor de um desembarque de siglas aliadas e pela resposta do STF, num contexto de elevada pressão pelo impeachment."Ele levantou uma bandeira branca, ele recuou, foi isso", disse à reportagem o empresário Mauro Reinaldo, fundador do movimento União pelo Brasil. Sobre as razões do presidente, despistou: "Olha, sinceramente, estou procurando essa resposta".

Ele disse não concordar "com algumas conjecturas, algumas falas", como as que pregam fechamento do STF, mas ser favorável à "Operação Lava Toga", contra irregularidades no Judiciário. E que não esperava "uma ação contundente do presidente" pós-7 de Setembro. Aguardava uma ação do Congresso.

"Nós fizemos a nossa parte na terça-feira, nosso dever foi cumprido, só que a nossa voz não foi ouvida", constatou. "Que os políticos olhassem por nós, ouvissem o clamor da população. Mas o que o Senado fez? Entrou em recesso."

Reinaldo afirmou que "uma escalada maior" da parte de Bolsonaro "não seria algo bom para ninguém no país". "A população queria o quê? Que ele criasse uma guerra, em que as pessoas iriam sofrer? Seria uma visão apocalíptica", avaliou.

"Nós continuamos fiéis a ele. Algumas pessoas ficaram muito decepcionadas, mas foi igual a quando o [Sergio] Moro saiu. Ficaram bravas, gritaram, xingaram. Mas, depois que entenderam, elas retornaram", comparou o simpatizante. Para ele, não há opção para as eleições de 2022 além de Bolsonaro.

"Quando eu li a carta, minha pressão chegou a 20. Passei até mal, fiquei tão nervoso", admitiu Reinaldo, quatro horas após falar à reportagem, em um vídeo para seus seguidores.

"Bolsonaro mostrou um ato de humanidade, de caráter, de dignidade. Mostrou ser sábio, inteligente", continuou. Em dado momento da transmissão no Facebook, resumiu: "Eu sei que desanima, mas não desanime não".

Outro empresário por trás da mobilização na Paulista, Patrick Folena, coordenador do movimento Avança Brasil, indicou durante a conversa com a reportagem na quinta que, sim, bateu um desânimo.

"A gente fica... A gente estava numa linha um pouco assim... Não decepcionado, vai. Assim, um pouco [decepcionado], vai. Mas não aquela coisa absurda, né? Mas, agora, a gente entende."

Indagado sobre resultados concretos da ida às ruas no Dia da Independência, Folena foi objetivo: "Por enquanto, não [vi]"."A gente vai esperar. A oposição sentiu a força de mobilização que o povo tem. Mas ainda é muito cedo para avaliar", afirmou.

"Espero que os outros Poderes entendam. Porque, se continuarem prisões ilegais, não é uma ameaça, mas a gente vai reclamar, a gente vai protestar", completou, em relação a operações que têm como alvo bolsonaristas investigados por fake news e atos antidemocráticos."Se acontecesse um confronto, poderia acontecer algo pior, e acho que foi nisso que Bolsonaro pensou. Pesou no recuo dele. Tudo o que a gente não pode ter agora são problemas. Mais problemas, né?", opinou Folena, lembrando que uma greve estendida dos caminhoneiros teria consequências imprevisíveis.

"Eu não vou deixar de apoiar [Bolsonaro]. Eu vejo uma pessoa que está lutando pelo povo, está chegando aonde ele pode nesse regime", conformou-se.

Giovani Falcone, fundador da Aliança Nacional, embaixador do Avança Brasil e membro do Nas Ruas, foi outro bolsonarista que achou que a manifestação cumpriu seu propósito apesar de ter degringolado para a carta.

"Foi proveitoso. A massa realmente atendeu ao pedido dos movimentos", disse, exaltando o apoio popular ao presidente. Mas, como os companheiros de militância, ele estava desorientado na noite de quinta.

"Estão me ligando, me mandando mensagem, sem saber. Eu respondo: 'Vamos ter calma, vamos esperar, o presidente sabe o que está fazendo'. Porque não era isso que a gente esperava. O povo quer, o povo não aguenta mais o preço do gás, da gasolina", disse, em referência à disparada da inflação.

Questionado sobre o que faria os preços baixarem, Falcone respondeu que poderia haver efetividade em um estado de sítio ou GLO (Garantia da Lei e da Ordem).

O ativista afirmou, no entanto, que Bolsonaro não deve perder apoiadores e ecoou o discurso das redes."Bolsonaro está dando um passo para trás para dar dois para a frente. Se ele for mais linha-dura, talvez perca apoio, e sem apoio político não dá para governar. Por ele não ter sido linha-dura, muitos ficaram tristes, mas ele usou a estratégia de dar um passo atrás para ficar dentro das quatro linhas da Constituição", considerou.

Apoiador de Bolsonaro e presidente do PTB paulista, o empresário Otavio Fakhoury disse que a manifestação do 7 de Setembro atingiu os objetivos e que a carta fez parte do suposto acordo que terá como resultado uma pacificação em Brasília –outra tese compartilhada virtualmente.

Para especialistas e grande parte do mundo político, no entanto, a moderação do presidente não é pra valer.

"Temos que esperar umas duas semanas, que é o prazo que eu daria para ver todos os itens desse acordo implementados", disse à reportagem na sexta.

Segundo Fakhoury, a pauta da manifestação "não é golpe, nada". "O Bolsonaro fez a chamada a favor da liberdade, contra quem rompe a Constituição".

"O Bolsonaro não tem a intenção de fazer virar caos. Quem queria o caos, para poder bater no peito, era a esquerda. Queriam que o Bolsonaro mandasse prender alguém, e não é isso o que vai acontecer", afirmou.

O pensamento de que o caos serve à esquerda vai na linha de vídeo, divulgado na sexta, em que ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, pede união após "alguns fatos [que] deixaram muitos de nós desanimados".

"A esquerda [...] segue unida e querendo voltar. Ela sofreu também um duro revés, porque descobriu que o presidente Bolsonaro não tinha qualquer intenção de dar o golpe", disse o ministro.

Segundo Fakhoury, uma limitação do poder do Supremo, que ele sugere via PEC (proposta de emenda à Constituição), permitiria ao Executivo "avançar no orçamento, na reforma tributária".

"O objetivo [da manifestação] não era voltar ao respeito às leis e à Constituição? É preciso quebrar tudo, dar tapa em todo mundo e botar todo mundo na cadeia? Não precisa. Vamos negociar, cada um faz o que tem que fazer e vamos ver se dá para voltar à legalidade.""O Judiciário vai se pôr no lugar, vai começar a agir dentro da lei", completou o empresário, que é alvo de investigações nos inquéritos das fake news e dos atos antidemocráticos, mas nega irregularidades e diz agir dentro das leis.

A virada brusca no tom, no entanto, afastou parte dos ativistas, como o líder de motociclistas Jackson Vilar -que chamou Bolsonaro de traidor em vídeo na quinta.

O pastor e dono de uma loja de imóveis organizou a motociata com a presença do presidente em São Paulo, em junho, e fez nova motociata no dia 7.

"Eu não acredito em Bolsonaro mais. [...] Você não merece respeito Bolsonaro, você traiu os motociclistas, os caminhoneiros, o seu povo, porque é um frouxo covarde", disse.

Ao jornal Folha de S.Paulo Vilar afirmou, na sexta, se sentir enganado e que seus olhos se abriram em relação a Bolsonaro. "A verdade é que o país está numa crise financeira grande, comércio quebrado, pessoas com fome, desemprego aumentando. E esse louco querendo governar o país a ferro e fogo."

"Oro por ele, porque gosto dele. Mas não o apoiarei mais nas suas loucuras. Ele vai começar de novo com suas loucuras, atacando STF e outros", disse o comerciante.

"Não queremos mais esses políticos brigando. Quem sofre? É o povo. Queremos um país unido, em que os políticos respeitem o seu povo e não façam deles massa de manobra pra suas loucuras. Chega dessa palhaçada. Bolsonaro tem que pedir desculpas a todos que ele frustrou. Vou seguir meu caminho e que Deus abençoe a todos", conclui.

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

fama Vídeo Há 15 Horas

Influenciadora digital agride mulher na rua em MG; veja vídeo

mundo Coreia do Norte Há 17 Horas

Coreia do Norte confirma míssil e promete reforçar "força nuclear"

fama Sean Diddy Combs Há 17 Horas

Imagens de videovigilância mostram rapper agredindo a ex-namorada

brasil CHUVA-RS Há 13 Horas

Submersa há 15 dias, cidade mais afetada do RS reabre casas a conta gotas

justica São Paulo Há 17 Horas

Professora e os dois filhos são mortos em SP; PM é suspeito

brasil Vídeo Há 16 Horas

Menino de 6 anos é salvo de apartamento em chamas no Rio Grande do Sul; veja vídeo

lifestyle Signos Há 18 Horas

Os cinco signos mais estranhos do zodíaco. Conhece alguém da lista?

mundo EUA Há 18 Horas

Motorista de 23 anos morre após ser atingida na cabeça por pedra nos EUA

brasil sul do brasil Há 16 Horas

Nova frente fria avança no Sul, e Inmet coloca parte do RS, Santa Catarina e Paraná em alerta

tech Apple Há 18 Horas

O iPhone 16 poderá ter melhor bateria do que o antecessor