Congresso derruba veto de Bolsonaro à distribuição gratuita de absorventes

Na Câmara, o veto foi rejeitado por 426 a 25. No Senado, o placar foi de 64 a 1

© Getty

Brasil SAÚDE-MULHER 11/03/22 POR Folhapress

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O Congresso derrubou nesta quinta-feira (10) o veto do presidente Jair Bolsonaro (PL) à política de distribuição de absorventes para mulheres em situação de vulnerabilidade e estudantes de baixa renda.

PUB

A derrubada ocorreu dois dias após o presidente assinar decreto que prevê a distribuição gratuita de absorventes, em uma tentativa de diminuir sua rejeição junto às mulheres, no ano em que buscará se reeleger.

Na Câmara, o veto foi rejeitado por 426 a 25. No Senado, o placar foi de 64 a 1. A derrubada do veto só ocorre por decisão da maioria absoluta de deputados (no mínimo, 257) e senadores (ao menos 41). Quando não há esse quórum mínimo em uma das Casas, o veto é mantido.

Mesmo com o decreto, o Congresso manteve a decisão de rejeitar o veto de Bolsonaro. Um dos motivos apontados foi a maior abrangência da lei, que, na avaliação de parlamentares, contemplaria ao menos três milhões de mulheres a mais que a medida editada pelo chefe do Executivo.

"A derrubada desse veto fez parte de uma grande articulação dentro do Congresso", disse, em nota, uma das autoras do projeto, a deputada Marília Arraes (PT-PE). "Foi uma vitória das mulheres brasileiras, que terão mais dignidade a partir de agora. Nossa luta continua. Agora é cobrar a imediata regulamentação e o início efetivo do programa".

A deputada chamou o decreto de Bolsonaro de eleitoreiro. "Menciona programas, publicidade, mas não diz exatamente que mulheres serão beneficiadas, não diz de onde sairá o recurso, mas diz que o programa não vai existir se não tiver recurso. Ou seja, não diz nada", afirmou.

Em outubro, Câmara e Senado aprovaram projeto de lei, de autoria de 35 deputadas, criando o Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual.

O projeto de lei prevê como beneficiárias do programa estudantes de baixa renda de escolas públicas, mulheres em situação de rua ou em vulnerabilidade social extrema, mulheres apreendidas e presidiárias e mulheres internadas em unidades para cumprimento de medida socioeducativa.

Segundo os autores, o programa beneficiará cerca de 5,6 milhões de mulheres. A estimativa de impacto fiscal era de R$ 84,5 milhões por ano, recursos que sairiam do SUS (Sistema Único de Saúde) e do fundo penitenciário, no caso das detentas.

Bolsonaro sancionou a proposta, mas vetou a sua principal medida: a distribuição dos absorventes para mulheres de baixa renda e em situação de vulnerabilidade.

Ao vetar o programa, o governo federal argumentou que a proposta contrariava o interesse público, "uma vez que não há compatibilidade com a autonomia das redes e estabelecimentos de ensino. Ademais, não indica a fonte de custeio ou medida compensatória, em violação ao disposto", afirma a justificativa ao veto.

Em live logo após vetar a medida, o presidente ironizou a reação à sua decisão. "A gente vai se virar e vamos aí estender o 'auxílio Modess' –é isso mesmo, 'auxílio Modess', absorvente?– para todo mundo", disse o presidente, em referência à marca do produto.

"Se o Congresso derrubar o veto –estou torcendo para que derrube–, eu vou arranjar absorvente. Porque não vai ser gratuito, pessoal. Calcularam aqui um pouco mais de R$ 100 milhões. Pode ter certeza, vai multiplicar por três isso daí, vou ter que arranjar R$ 300 milhões de algum lugar. Eu não vou criar imposto para suprir isso aí, nem majorar imposto. Eu vou tirar de algum lugar. Agora a imprensa vai bater em mim que '[Bolsonaro] cortou da Saúde, da Educação', [mas] não vai dizer para onde foi. Vai ser para atender a derrubada do veto dos absorventes".

Na última terça-feira (8), em cerimônia de homenagem ao Dia da Mulher no Palácio do Planalto, Bolsonaro editou o decreto prevendo a distribuição gratuita de absorventes.

No evento, Bolsonaro disse que a mulher está "praticamente integrada" à sociedade. "Minha mãe foi também uma empreendedora. Lá naquele meu tempo, é história, ou a mulher era professora ou dona de casa, dificilmente uma mulher fazia algo diferente disso. Lá nos anos 1950, 1960. Hoje em dia as mulheres estão praticamente integradas à sociedade. Nós as auxiliamos. Nós estamos sempre ao lado dela. Não podemos mais viver sem ela", afirmou.

O texto diz que o objetivo é combater a precariedade menstrual, ou seja, a falta de acesso a produtos de higiene e a outros itens necessários durante a menstruação ou a falta de recursos que possibilitem a sua aquisição.

Além disso, prevê garantia de cuidados básicos de saúde e o desenvolvimento de meios para a inclusão das mulheres em ações e programas de proteção à saúde menstrual.

De acordo com o decreto, ficará a cargo do Ministério da Justiça e Segurança Pública implementar projetos, programas e ações voltadas à disponibilização de absorventes para presas. Já o MEC (Ministério da Educação) deverá promover, em colaboração com estados e municípios, campanha informativa nas escolas da rede pública de ensino sobre a saúde menstrual e as suas consequências para a saúde da mulher.

O decreto estabelece que a execução do Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual ficará condicionada à disponibilidade orçamentária e financeira.Na terça, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e o secretário de Atenção Primária, Raphael Câmara, disseram a jornalistas que o decreto incluiria a previsão de R$ 130 milhões do orçamento do Ministério da Saúde, e contemplaria 3,6 milhões de mulheres.

Levantamento do jornal Folha de S.Paulo mostrou que apenas duas capitais, São Paulo e Curitiba, além do Distrito Federal, realizam a distribuição do absorvente para a população de rua de forma ampla.

O restante das capitais realiza a distribuição só nos centros de acolhimento ou então nem possui políticas relacionadas ao problema da pobreza menstrual. Há ainda três capitais, Boa Vista, Natal e Porto Velho, que possuem um projeto aprovado, mas que ainda não está em vigor.

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

mundo Argélia Há 19 Horas

Homem desaparecido há 27 anos é encontrado vivo na casa do vizinho

mundo Chile Há 20 Horas

Mulher fica pendurada seminua em portão em tentativa de furto; vídeo

mundo CARTAGENA Há 20 Horas

Brasileiro vence concurso internacional e é eleito o mais bonito do mundo

fama Suri Cruise Há 18 Horas

Suri troca sobrenome e estreia no teatro, distanciando-se de Tom Cruise

fama Saúde Há 20 Horas

Pedro Scooby diz que amigos foram hospitalizados com H1N1 após ajuda no RS

justica Goiás Há 21 Horas

Mãe é presa ao tentar afogar a filha de seis meses em piscina; vídeo

fama Anya-Taylor Jo Há 17 Horas

O vestido de princesa de Anya-Taylor Joy que encantou Cannes

esporte Óbito Há 15 Horas

Narrador Silvio Luiz morre aos 89 anos em São Paulo

politica Meio Ambiente Há 11 Horas

Vereador do PL diz que 'peso das árvores' causou tragédia climática no RS

mundo Espanha Há 19 Horas

Faxineira de 61 anos posta vídeos dançando no trabalho e é despedida