Campanha contra voto útil no 1º turno une rivais de Lula e Bolsonaro

Em tática de sobrevivência, candidaturas como as de Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) se esforçam para convencer eleitores de que a antecipação do segundo turno só interessa aos favoritos, empobrece o debate e acirra a divisão na sociedade.

© Ueslei Marcelino/Reuters e Wilson Dias/ Agência Brasil

Política ELEIÇÕES-2022 20/05/22 POR Folhapress

(FOLHAPRESS) - Rivais de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) tentam estancar a campanha por voto útil já no primeiro turno e evitar um aprofundamento da polarização da corrida presidencial entre os dois, que juntos detêm em torno de 70% nas pesquisas.

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Em tática de sobrevivência, candidaturas como as de Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) se esforçam para convencer eleitores de que a antecipação do segundo turno só interessa aos favoritos, empobrece o debate e acirra a divisão na sociedade.

Há quem diga que o afunilamento prejudica ainda a resistência ao golpe ensaiado por Bolsonaro, com perspectiva de suspeição sobre as urnas eletrônicas e contestação do resultado.

Petistas e bolsonaristas, por sua vez, usam a tese em benefício próprio e instigam as bases a endossar um caráter plebiscitário da votação de 2 de outubro -o segundo turno está previsto para o dia 30 do mesmo mês.

Os resultados esquálidos da chamada terceira via, com o malogro de uma candidatura única, somados à cristalização do confronto direto entre a dupla de antagonistas, reforçam o apelo pela liquidação imediata do pleito, embora observadores mais realistas considerem a hipótese remota.

Ciro, terceiro colocado nas pesquisas (6% no Datafolha de março), é alvo de intensa pressão para que retire sua candidatura em favor de Lula. Apoiadores do petista (que alcançou 43%) sustentam que os votos do pedetista migrariam para o ex-presidente e poderiam elegê-lo logo na primeira fase.

O ex-ministro, que chama o burburinho de "puro terrorismo eleitoral", tenta ganhar tempo e se provar um candidato viável, apesar do cenário hostil para alianças e expansão de seu eleitorado.

O presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, diz que o cálculo feito por lulistas e bolsonaristas leva a "um voto inútil", na verdade. "Quem prega voto útil no primeiro turno não quer que as pessoas pensem, debatam, analisem as alternativas", afirma.

"O PDT não é um partido suscetível à pressão externa", segue Lupi, que confirma ter trocado telefonemas com Lula, mas se diz firme contra qualquer tentativa de persuasão.

"A nossa decisão já está tomada: o Ciro é candidato até o fim. Estamos abertos ao diálogo com todas as forças que queiram construir um projeto para o Brasil, [mas] eu acho que nem o Lula nem o Bolsonaro faz isso."

Ciro, que também ataca ambos pelo que considera ausência de programa de governo, insiste na avaliação de que o cenário continua aberto. Para decolar, o pedetista aposta no trabalho do publicitário João Santana, ex-marqueteiro do PT, a quem se refere como "o melhor da praça" e "um gênio".

Ele argumenta ainda que parte dos eleitores de Lula só está com ele por rejeitar Bolsonaro, e vice-versa. Na visão do ex-ministro, seu potencial reside nos 30% dos eleitores que estão fora da polarização e naqueles que declaram ter feito sua escolha, mas estão pouco convictos.

Segundo ele, quando a população se atentar para as pesquisas que o mostram como um concorrente capaz de derrotar Bolsonaro no segundo turno (46% a 37%, conforme o Datafolha), "esse voto vem".

"Eu não me abato e sei seguramente das possibilidades que nós temos. Não são generosas, não são fáceis, mas são muito reais e estão se alargando. Podem acreditar", disse a militantes em São Paulo dias atrás.

O pedetista tenta usar o tempo a seu favor e ganhar tração até o limite do prazo legal, mesma estratégia de João Doria (PSDB), que antes precisa convencer forças majoritárias de seu próprio partido sobre sua pré-candidatura.

Nesta quarta (18), data em que inicialmente seria anunciado o candidato de consenso da terceira via, o ex-governador de São Paulo, que disputa a vaga com Tebet, ainda estava engolido pela crise tucana. Após análise de uma pesquisa encomendada pelas siglas, os presidentes de MDB, PSDB e Cidadania deliberaram levar às direções de cada legenda o nome da senadora para ser escolhida como candidata única dos três partidos.

Nesta quinta-feira (19), os três partidos prepararam o terreno para o anúncio de Tebet por meio de uma nota conjunta. O texto ressalta que Doria deu aval para o acordo da terceira via e já admitiu não ser o escolhido.

As siglas afirmam que "o Brasil terá uma nova candidatura, competitiva, para vencer, que será oficializada em breve".

No entorno de Tebet, existe o diagnóstico de que o PT comete um erro ao trabalhar pelo estreitamento da competição e celebrar a retirada de candidaturas no campo da centro-direita que ajudariam a barrar o crescimento de Bolsonaro, como a de Sergio Moro (União Brasil).

"A campanha pelo voto útil vem dos dois extremos", diz o ex-deputado federal Carlos Marun (MDB-MS), apoiador da presidenciável. "Nós estamos convencidos de que temos o dever de oferecer uma alternativa aos brasileiros cansados dessa guerra. Espero que o centro se una."

Para o ex-parlamentar, a candidatura de Tebet "é aquela que tem mais perspectiva de crescimento". Ela alcançou 1% no Datafolha.Entusiastas da terceira via que já se conformaram com o fiasco de uma candidatura unificada avaliam também que o movimento pelo voto útil simplifica o debate político. Fala-se na necessidade de defender um pacote de ideias "para constranger" os favoritos e elevar o nível da disputa.Daí o discurso, que ganha força em meios políticos e financeiros refratários a Lula e Bolsonaro, de que o autodenominado centro democrático não deve prescindir de ter representantes no pleito.Caberia a eles vocalizarem propostas e arregimentarem um percentual de votos que dê poder de fogo na negociação de apoio no segundo turno -a condição seria incorporar pontos da agenda da centro-direita. Eventualmente, a barganha poderia se dar com Lula, apesar das ressalvas a ele.Discussões sobre a opção entre um presidenciável e outro já ocorrem entre os desolados, com a constatação de que mesmo eleitores frustrados com o atual governo podem voltar a apoiá-lo em razão da ojeriza ao PT.Há também a pregação de voto nulo como forma de protesto, como é o caso do pré-candidato Felipe d'Avila (Novo) -que se afastou das conversas da terceira via, assim como Luciano Bivar (União Brasil).O sociólogo José Cesar Martins, coordenador do grupo independente Derrubando Muros, que abriga empresários e formadores de opinião simpatizantes da terceira via e de Lula, diz que a intenção é trabalhar enquanto for possível para que não se abra mão de "pensar o país" na eleição."A eleição caminha para se configurar como uma disputa bipolar, mas o Brasil não é só isto ou aquilo. Tem muitas nuances, e elas não estão contempladas nos dois polarizadores", afirma Martins.Em meio à ameaça de ruptura institucional, a existência de um quadro amplo de candidaturas é defendida nos setores anti-Lula e anti-Bolsonaro como uma espécie de anteparo.O raciocínio é o de que um conjunto diverso de candidatos posicionado em defesa do sistema de votação teria maior legitimidade para se contrapor a Bolsonaro do que Lula isoladamente.Petistas dizem, entretanto, que a melhor maneira de barrar a tentação golpista é eleger o ex-presidente já no primeiro turno ou, no pior dos mundos, fazê-lo chegar ao segundo com vantagem consistente sobre o adversário.Um manifesto organizado em fevereiro por artistas, empresários e advogados, com assinaturas de apoiadores e detratores do PT, afirmou que "não há razão que justifique adiar [a definição] para o segundo turno" e, com isso, correr "os riscos de atos fora da Constituição".Já apoiadores de Bolsonaro gostam de repetir que ele conseguirá virar o jogo e sua reeleição "vai ser no primeiro turno".O debate sobre voto útil também pegou fogo em redes sociais nos últimos dias.O humorista Gregorio Duvivier pediu no programa "Greg News" (HBO) para eleitores de Ciro votarem em Lula e ajudarem a "salvar a democracia". Em resposta, o pedetista e seus correligionários se mobilizaram contra o artista.A influenciadora digital e drag queen Rita von Hunty, nome artístico do ator e professor Guilherme Lima Pereira, também foi criticada ao repudiar a chapa de Lula com Geraldo Alckmin (PSB) e sugerir aos seguidores "um voto radical no primeiro turno", em nomes mais à esquerda.

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