Fala de Nikolas ao lado de Bolsonaro expõe direita acuada e mira mobilização

Para políticos e pesquisadores, a mensagem reforçou a ideia de perseguição e sufocamento do campo conservador com as investigações sob a guarda do STF (Supremo Tribunal Federal)

© Getty Images

Política Tensão 27/02/24 POR Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A fala do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) de que talvez as atuais gerações não vejam novamente um presidente da República de direita, feita ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na avenida Paulista no domingo (25), foi além da admissão de que o segmento passa por dificuldades.

PUB

Para políticos e pesquisadores ouvidos pela reportagem, a mensagem reforçou a ideia de perseguição e sufocamento do campo conservador com as investigações sob a guarda do STF (Supremo Tribunal Federal) e busca estimular a base bolsonarista a se manter mobilizada, apesar das incertezas.

Um dos poucos a discursarem na manifestação, Nikolas fez alusões à Bíblia, pregou perseverança e disse aos correligionários que a atual geração ficará marcada como a dos que "persistiram e não desistiram".

"Moisés não chegou a ver e entrar na terra prometida, mas teve um jovem chamado Calebe que entrou. Se não fosse a força de Moisés, Calebe não teria entrado. Talvez nós não veremos o Brasil prometido, mas os nossos filhos, os filhos dos nossos filhos, verão um Brasil novamente verde e amarelo", afirmou."Talvez não hoje, talvez não amanhã, mas um dia nós veremos um presidente de direita retornar à Presidência da República do nosso país."

O parlamentar reforçou os termos ao postar no X (antigo Twitter) que "falou com o coração" quando estava no caminhão de som. "O Brasil prometido depende de nós. Talvez não hoje, talvez não amanhã, mas venceremos", escreveu, lembrando a todo tempo de um inimigo a ser combatido.

"Cada geração tem um propósito. A nossa tem o objetivo de fortalecer a próxima", reiterou ele em entrevista à revista Oeste nas imediações do ato.

Outros representantes da direita negaram constrangimento, disseram concordar com a avaliação de Nikolas -apesar de verem algum exagero- e atribuem o cenário a uma ofensiva que estaria unindo o STF, sobretudo o ministro Alexandre de Moraes, e o governo Lula (PT) para sufocar o campo rival.

"Gostei muito da fala", diz o deputado estadual Cristiano Caporezzo (PL-MG).

"Nós estamos lutando hoje e acreditamos que vamos ter a vitória. Não quer dizer que necessariamente irá demorar várias gerações, mas que, ainda que venha a demorar, não vamos arrefecer nem perder nossa força de vontade. Vou lutar para que aconteça na próxima [eleição], mas o tempo não depende de mim."

Segundo o aliado de Nikolas, a má fase se deve a "forças muito grandes", com "pessoas extremamente poderosas que estão utilizando o poder que têm para esmagar o Estado democrático de Direito e os direitos humanos e políticos [da direita]". Questionado, o mineiro diz estar se referindo a Moraes.

O vereador Rubinho Nunes (União Brasil-SP) afirma ter a mesma preocupação de Nikolas, em virtude "dos excessos praticados, da leniência de setores que deveriam se impor e da sanha autoritária por parte dos poderosos, especialmente PT e Lula, que ameaçam a alternância de poder".

Nunes, que vê a inelegibilidade de Bolsonaro como o principal exemplo da perseguição política aos conservadores e considera "uma falácia" a minuta do golpe, diz que o diagnóstico feito pelo deputado na Paulista soa como um alerta.

"É necessário que o nosso campo tenha perseverança e que comece a semear algo que talvez eu não veja [dar resultados], mas que vai aprontar esse retorno [à Presidência]", afirma o vereador da capital paulista.

A ex-deputada estadual Janaina Paschoal diz não ser "tão fatalista" quanto Nikolas na leitura de que um novo presidente de direita pode demorar várias gerações. No entanto, a advogada, que no mandato (2019-2022) conciliou acenos aos conservadores e críticas pontuais ao então presidente, reconhece que a eleição de 2026 será difícil para a direita, "justamente pelos excessos de Bolsonaro e do bolsonarismo".

O discurso do deputado também foi visto por alguns como uma espécie de anúncio antecipado de uma pré-candidatura dele ao Planalto -o que só poderia ocorrer a partir de 2031, já que ele não tem a idade mínima (35 anos) para concorrer ao mais alto cargo da República.

Seguidores o saudaram como "futuro presidente" em postagens com trechos da fala na Paulista. A reportagem não conseguiu contato com o parlamentar nesta segunda-feira (26).

Na esquerda, as palavras de Nikolas que pintam um futuro sombrio para a direita foram analisadas com cautela. O discurso nos bastidores é o de que o bolsonarismo, embora momentaneamente combalido, tem condições de dar demonstrações de fôlego nas eleições municipais de outubro.

O próprio Bolsonaro, ao se dirigir aos manifestantes, citou o pleito deste ano: "Vamos caprichar no voto, em especial, para vereadores e prefeitos também. E nos preparemos para 2026. O futuro a Deus pertence". Inelegível, o ex-mandatário não indicou até o momento quem seria seu sucessor.

"No que depender do PSOL, nenhum projeto autoritário e antipopular voltará a governar o Brasil", diz a presidente nacional do partido, Paula Coradi, ao ser instada a comentar a fala do parlamentar.

"O fato é que a direita e a ultradireita não têm projeto para o país. Seu poder político se baseia na tática do medo para mobilizar o eleitorado conservador com pautas de costumes baseadas em mentiras", segue a dirigente do partido que tem Guilherme Boulos como pré-candidato a prefeito de São Paulo.

A socióloga Esther Solano, que é professora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e estuda o bolsonarismo desde 2017, enxerga no discurso de Nikolas o reconhecimento de que "termina um período" em que a direita é liderada por Bolsonaro, enquanto se abre uma disputa por seu espólio político.Para a pesquisadora, o ex-presidente "enfrenta problemas que são inegáveis até para a própria base dele" e está em curso um debate entre os simpatizantes sobre "o bolsonarismo sem Bolsonaro".

Ela diz que, ao entrevistar cidadãos bolsonaristas, inclusive de perfil mais radical, sobre o futuro, ouve também analogias bíblicas e a previsão de que o grupo atravessará "um longo deserto". Parte deles considera, inclusive, que Lula poderá ser reeleito ou fazer seu sucessor.

"Há uma estratégia [de Nikolas] para manter a base aquecida, o que se faz basicamente com simbologia. Vemos esse tom cristão, com moralização da política, guerra espiritual e ideia de bem contra o mal."

Na ótica do cientista político Jorge Chaloub, professor das universidades federais do Rio de Janeiro e de Juiz de Fora, a mobilização dos apoiadores foi um dos eixos da manifestação. "Ele [Nikolas] está tentando acenar para ele mesmo. É um discurso interessado, de alguém que fala em líderes do futuro e ao mesmo tempo se apresenta como um candidato a ocupar esse posto", diz.

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

fama Vídeo Há 8 Horas

Influenciadora digital agride mulher na rua em MG; veja vídeo

mundo Coreia do Norte Há 10 Horas

Coreia do Norte confirma míssil e promete reforçar "força nuclear"

justica São Paulo Há 10 Horas

Professora e os dois filhos são mortos em SP; PM é suspeito

fama Sean Diddy Combs Há 10 Horas

Imagens de videovigilância mostram rapper agredindo a ex-namorada

brasil Vídeo Há 9 Horas

Menino de 6 anos é salvo de apartamento em chamas no Rio Grande do Sul; veja vídeo

justica Pridão Há 9 Horas

Casal de influencers é preso por suspeita de movimentar R$ 20 milhões ilegalmente em jogo

brasil CHUVA-RS Há 6 Horas

Submersa há 15 dias, cidade mais afetada do RS reabre casas a conta gotas

lifestyle Signos Há 11 Horas

Os cinco signos mais estranhos do zodíaco. Conhece alguém da lista?

mundo EUA Há 11 Horas

Motorista de 23 anos morre após ser atingida na cabeça por pedra nos EUA

brasil sul do brasil Há 10 Horas

Nova frente fria avança no Sul, e Inmet coloca parte do RS, Santa Catarina e Paraná em alerta