Lucro baixo faz motoristas desistirem do Uber em São Paulo

Os condutores falam em "decepção" diante do retorno financeiro esperado, acusam a empresa de fazer pressão psicológica e se queixam de horas excessivas de trabalho

© DR

Economia decepção 10/09/16 POR Estadao Conteudo

A empresa americana Uber, a mais conhecida entre os aplicativos de transporte individual de passageiros, tem perdido motoristas em São Paulo. Os condutores falam em "decepção" diante do retorno financeiro esperado, acusam a empresa de fazer pressão psicológica e se queixam de horas excessivas de trabalho.

PUB

O Uber afirma que são eles que o contratam, e não o contrário. O motorista Amauri Antônio Pereira, de 52 anos, usou o aplicativo por um ano, antes de desistir. Hoje, voltou a trabalhar com carretas. "É pura ilusão. O Uber engana o trabalhador. Promete que você vai ganhar R$ 7 mil, então você se mata, trabalha 12 horas por dia e não ganha R$ 3 mil", diz. "Se dependesse disso, estava passando fome."

Já Marcelo Eduardo de Sousa, de 41, aguentou bem menos: só duas semanas. "Meu propósito era tirar R$ 250 por dia. Não passei da metade", afirma. "Ficar dependendo do Uber traz sérios danos para a sua vida financeira e pessoal. Não volto nunca mais." Motoristas relatam que o número de colegas decepcionados é cada vez maior. Segundo afirmam, o principal motivo de desistência é financeiro. "Na minha melhor semana, consegui R$ 900. Só o custo com manutenção do carro e combustível é de R$ 500. E ainda tem os 25% que ficam com o Uber", diz o motoboy Fabiano Andrade, de 42. Ele conta que ficou cinco meses no serviço. "Só gerou desgaste físico e débito. É desumano."

Pressão

O cientista da computação Moacir de Oliveira, de 37, está em busca de emprego fixo após passar um ano e meio no Uber. Para ele, falta apoio da empresa e retorno financeiro. "Pressão psicológica existe a todo momento, a gente recebe mensagem e e-mail se desligar o aplicativo. A empresa pode bloquear o motorista", afirma. "É quase um regime de escravidão, o valor que fica é irrisório."

Para o diretor-presidente da SP Negócios, Rodrigo Pirajá, a regulação permite que as empresas disputem motoristas. "Quem estiver insatisfeito, pode trocar a operadora." Porém, o Uber é quem tem mais condutores à disposição. "As empresas ainda estão com pouca densidade. Os motoristas querem entrar, mas elas ainda não têm escala para absorver." A Prefeitura não divulgou o número de motoristas por aplicativo.

Em nota, o Uber diz que a taxa cobrada do condutor varia entre 10% e 30%. "É importante frisar que são os motoristas profissionais que contratam a plataforma", afirma. Segundo a empresa, os motoristas "têm total flexibilidade e independência para fazer seus horários, conectando-se com a frequência que bem entenderem".

Retorno insuficiente

O aumento na rotatividade de motoristas na Uber pode ser explicado tanto por falta de vínculo empregatício como também por problemas de condições de trabalho e retorno financeiro aquém do esperado, segundo afirmam especialistas. Aos condutores, também é permitido usar simultaneamente outros aplicativos.

"O Uber não está preocupado com a rentabilidade dos parceiros", diz o consultor especializado em Transportes Flamínio Fichmann. Na opinião do especialista, os interesses do Uber seriam de "lucratividade máxima" e não incluiriam preocupações com "componentes sociais". "A empresa só tem olhos para a própria rentabilidade. Por isso, existe rotatividade grande, com muitos motoristas saindo", diz.

Fichmann afirma que essa relação também cria risco de prejudicar usuários de transporte individual. "Se o Uber de fato quebrar o sistema de táxis, como me parece que vai, e decidir sair do País de repente, vai ficar um buraco. Isso vai levar a um problema social. É um risco." Segundo Rodrigo Pirajá, a regulação dos aplicativos, realizada neste ano, não permite que os condutores fiquem presos a uma única operadora. "É proibido exigir exclusividade do motorista", diz.

Na visão de Pirajá, o modelo vai permitir que as empresas valorizem os bons profissionais, para não perdê-los. "Antes da regulação, só tinha o Uber. Agora há outras operadoras que, por exemplo, cobram taxas menores do motorista", afirma. "Algumas já estão pensando em alternativas de fidelizar, como oferecer renda mínima."

A professora universitária e advogada trabalhista Fabíola Marques diz que a liberdade para escolher a operadora, além da flexibilidade com horários e dias trabalhados, afasta a caracterização do vínculo empregatício. Para ela, não haveria relação de subordinação entre motoristas e o Uber. "Ele é muito mais um profissional autônomo que tem liberdade de aceitar ou não as exigências impostas pela empresa." Com informações de Estadão Conteúdo.

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

mundo Polícia Há 20 Horas

'Menina lobo' que cresceu em bosque na Suíça é encontrada na Espanha

economia Dinheiro Há 4 Horas

Valores a receber: Brasileiros ainda não sacaram R$ 8,02 bilhões

mundo EUA Há 23 Horas

Mulher persegue ladrão e provoca acidente para reaver bolsa roubada

lifestyle Peso Há 1 Hora

Quatro hábitos que ajudam a acelerar o metabolismo e a emagrecer

brasil Chuvas Há 21 Horas

Sobe para 100 o número de mortos em tragédia no RS

mundo Irão Há 3 Horas

Chuva de peixes surpreende moradores de Yasuj, no Irã; entenda

fama Luto Há 4 Horas

Morre Susan Buckner, a Patty Simcox de "Grease", aos 72 anos

mundo SAÚDE-VACINA Há 21 Horas

AstraZeneca para de fabricar e distribuir vacina contra a Covid

cultura Lançamentos Há 13 Horas

Os filmes mais esperados de 2024! E alguns já estrearam

lifestyle Pâncreas Há 4 Horas

Câncer de pâncreas: saiba qual sintoma afeta 75% dos doentes