Kobra pinta Cacique Raoni em prédio de Lisboa

Primeiro mural do artista brasileiro em Portugal, retrato do líder indígena alerta para o problema das populações indígenas

© DR

Cultura Arte 27/05/17 POR Notícias Ao Minuto

Kobra está em Lisboa. O artista visual pinta, desde a última segunda-feira (22), uma obra, que chama a atenção para um problema "no Brasil e no mundo inteiro": a necessidade de "proteção dos povos indígenas, das etnias e da preservação da Floresta Amazônica". 

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Em uma pausa no trabalho, o artista concedeu entrevista à Agência Lusa, na qual falou sobre a "valorização das etnias". Kobra usa um prédio em Marvila, dentro do Muro - Festival de Arte Urbana de Lisboa, que ocorre até este domingo.

"Por ser [uma pintura] autorizada não perde mensagem", referiu o artista de 41 anos, que, no final da década de 1980, 'pichava' paredes em São Paulo. "De 1987 a 1990, eu era 'pichador', depois não mais. Aí eu parti para o grafite e depois comecei a fazer os meus temas, os meus trabalhos", lembrou.

O rosto do cacique Raoni, da tribo Caiapó, "um dos maiores líderes da proteção das causas indígenas hoje", ocupa a fachada de um prédio de cinco andares.

Geralmente, Kobra leva entre "cinco e dez dias" a terminar um trabalho destes, fora o tempo de planejamento. "O meu maior desafio é a criação, uma das coisas mais complexas é desenvolver a ideia, o conceito, o processo anterior às vezes é mais demorado do que a pintura, chego a fazer 20/30 esboços antes de pintar na parede", referiu.

Já fora do papel, "a parede é toda quadriculada, técnica usada por alguns artistas" e, em alguns casos, Kobra pinta "primeiro um painel, que se torna o original do muro". No processo de pintura propriamente dito, no qual conta com a ajuda de um assistente, Kobra utiliza várias técnicas: "os coloridos são spray, para os pretos utilizo muito o rolo compressor para fazer o fundo, um pouco de máscaras, moldes". "O meu trabalho é uma técnica mista", disse.

Uma das coisas "bacanas" de pintar na rua é, para Kobra, o contato com as pessoas. "Fico surpreso com a quantidade de pessoas que conhecem já o meu trabalho. É interessante este contato", considerou, salientando tratar-se de "um trabalho democrático". "As pessoas me convidam para almoçar em casa delas, para passear, é bacana isso, e muita gente traz desenhos. Estou sendo bem tratado".

Algumas das obras mais conhecidas de Kobra são rostos, como o do falecido piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna, no Rio de Janeiro, do arquiteto Oscar Niemeyer, em São Paulo, de Jean-Michel Basquiat e Andy Warhol, em Nova Iorque, ou de Alfred Nobel, em Bora, na Suécia, mas "menos da metade" do que Kobra pinta são rostos.

"Trabalho muito com cenários, com perspectivas, imagens de cidades antigas. Tenho também uma outra parte do meu trabalho de proteção dos animais, que tem outro tipo de contexto, e também faço pinturas de 3D no chão", referiu.

Esta deslocação a Portugal, que o artista "queria conhecer", faz parte de uma "sequência grande de trabalhos, intensa", em vários países.

O périplo começou no Dubai, de onde Kobra partiu para o Malawi, para pintar um hospital a convite da cantora Madonna, daí seguiu para Murcia, Espanha, onde deixou o rosto de Salvador Dalí na fachada de um prédio, depois passou por Dusseldorf, Alemanha, onde pintou cinco painéis do seu projeto "Mães do Mundo", "que tem a ver com valorização dos povos nativos", Barcelona, para "um trabalho em casa do craque Neymar", e Carrara, Itália. Depois de Portugal segue para os Estados Unidos.

"Rodo o mundo inteiro, mas o meu lugar é São Paulo, nasci lá e é onde vivo", disse.

A situação política e social no Brasil, no entanto, desanima Kobra. "O Brasil está sempre nessa mesma história. É uma vergonha para nós, brasileiros, o tamanho da corrupção num país que é, sem dúvida, um dos mais ricos do mundo. Temos tudo o que precisamos, mas a corrupção é muito intensa. Entra um e sai outro, e todos estão envolvidos na corrupção, então, é muito difícil mudar esse quadro", disse.

O artista tem dificuldade em acreditar que as coisas mudem a curto prazo. "Talvez na minha geração eu não veja essa mudança, porque é muito grave, em todas as instâncias, em todos os órgãos, é muita corrupção mesmo. E o povo sofre diretamente, com a educação, a saúde, e por isso há uma divisão tão grande lá, entre ricos e pobres", considerou.

Atualmente, Kobra não tem "esperança em mudança", mas "pode ser que ao longo do tempo" a situação mude.

O Muro - Festival de Arte Urbana de Lisboa ocorre em Marvila, até domingo, com pinturas ao vivo, por artistas nacionais e estrangeiros, conferências, cinema, oficinas, visitas guiadas, música ao vivo e animação de rua. Com informações da Lusa. 

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