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O general Khalifa Haftar, que controla boa parte do leste da Líbia, ordenou que suas forças bombardeiem as embarcações italianas enviadas para uma missão naval nas águas territoriais do país africano.
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A operação foi autorizada nesta quarta-feira (2) pelo Senado e pela Câmara dos Deputados da Itália e conta com o aval do primeiro-ministro do governo de união nacional na Líbia, Fayez al Sarraj, rival de Haftar. Para o Parlamento da cidade oriental de Tobruk, base do general, a missão representa uma "violação da soberania nacional".
O acordo entre Roma e Trípoli, sede do governo de Sarraj, prevê o deslocamento de navios italianos para ajudar na gestão da crise migratória no Mediterrâneo Central, focando no combate a traficantes de seres humanos.
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Os militares da nação europeia darão apoio às ações da Guarda Costeira da Líbia e só poderão usar a força em caso de agressão e "de maneira limitada, gradual e proporcional". "Não está prevista nenhuma agressão à soberania líbia", garantiu a ministra da Defesa da Itália, Roberta Pinotti, na última terça-feira (1º).
A operação se dará em um contexto de emergência humanitária no Mediterrâneo Central, trecho do mar usado por traficantes para o transporte de migrantes forçados e refugiados entre o norte da África e o sul italiano. Apenas em 2017, 95,2 mil pessoas concluíram a travessia, uma queda de 2,73% em relação ao mesmo período de 2016.
Líbia dividida
A ameaça de Haftar representa um claro desacordo com Sarraj, pouco mais de uma semana depois de os dois rivais terem assinado um pacto de cessar-fogo e para a realização de eleições no primeiro semestre de 2018.
O acordo foi assinado nos arredores de Paris e mediado pelo presidente da França, Emmanuel Macron, mas tem ainda bases frágeis. Sarraj chefia um governo de união nacional chancelado pelas Nações Unidas e nascido de um tratado assinado em dezembro de 2015, no Marrocos.
Mas seu gabinete não é reconhecido por Haftar, que tem sua fortaleza em Tobruk, no leste do país, e representa os grupos contrários ao Islã político. O general comanda um conjunto de milícias chamado Exército Nacional Líbio, que hoje também é a principal força armada do país africano.
A fragmentação da Líbia, também protagonizada por milícias islâmicas inspiradas na Irmandade Muçulmana e grupos terroristas, abriu um vácuo de poder e fortaleceu traficantes de seres humanos que atuam no Mediterrâneo.
O acordo entre Haftar e Sarraj deixou a Itália otimista quanto a um possível arrefecimento da crise migratória, mas a ameaça do general pode pôr tudo a perder, ainda mais pelo fato de a missão naval de Roma ter sido pedida pelo próprio primeiro-ministro de união nacional.
Sarraj e o governo italiano ainda não se posicionaram sobre a postura de Haftar. Com informações da ANSA.