Mostra revela contrastes entre os mestres da fotografia homoerótica

Entrada é gratuita

© Reprodução Alair Gomes

Cultura EXPOSIÇÃO 22/08/17 POR Folhapress

Existe uma relação óbvia entre Alair Gomes e Robert Mapplethorpe, dois fotógrafos que fizeram do retrato do corpo masculino o alicerce de suas obras. No caso, um retrato atravessado pelo desejo.

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Nesse ponto, juntar as obras monumentais do carioca e do americano na mesma mostra -como faz agora a galeria Fortes, D'Aloia & Gabriel- faz todo o sentido.Mas é menos na semelhança entre eles e mais nas diferenças que a seleção de obras ali, realizada por Alexandre Gabriel, ganha mais força.

É nítido o paralelo, por exemplo, entre a maneira como Gomes buscava aproximar o mármore do Davi de Michelangelo, alvo de uma série de fotografias, à latência da carne real e a forma como Mapplethorpe iluminava a pele e os músculos de seus modelos para que evocassem a mesma robustez da pedra polida.

Mas seus objetivos são distintos. Mapplethorpe, que retratou a revolução sexual pós-Stonewall em Nova York, onde nasceu, transforma seus homens -em especial os negros- em monumentos totêmicos, chocando a sensibilidade americana com imagens de sexo e sadomasoquismo no auge da epidemia da Aids e num momento em que o racismo ficava só mais velado.

Longe do underground nova-iorquino, Gomes construiu uma celebração hedonista, mas nem por isso superficial. Desde que começou a flagrar com uma teleobjetiva os corpos trincados dos homens que se exercitavam diante de sua janela na praia de Ipanema, ele já buscava uma qualidade escultural em garotos de carne e osso.

Seu olhar, no entanto, foi além do registro banal de músculos sob o sol. Gomes imprime o ritmo de uma partitura musical ao movimento desses corpos, construindo uma reflexão ímpar sobre a intimidade entre homens forjada na areia da praia.

Na mostra, essas visões se embaralham, reforçando o magnetismo da obra desses artistas. Enquanto as fotografias de Mapplethorpe parecem seguir um rigor milimétrico, de enquadramentos ultraprecisos e corpos estáticos, posicionados como estátuas, Gomes dá espaço ao acaso.

É a diferença entre um olhar voyeurístico e outro quase arquitetônico, de alegorias construídas em estúdio, como o negro com capuz e sexo exposto de Mapplethorpe, que lembra um militante do Ku Klux Klan, ou sua visão dos músculos de outro modelo num corte hiperfechado, como se não coubessem nos limites da fotografia.

Mesmo que os dois olhem para o corpo masculino de forma muitas vezes fragmentada, reduzindo seus modelos a cortes calculados de pernas, troncos, braços, bundas e costas, a fricção entre os flagras à distância e os retratos posados marca os momentos mais fortes dessa exposição.

E explicita também dois modos muito distintos de olhar para a mesma anatomia em busca da perfeição. É fato que Gomes não deixa de ter seus momentos classicizantes, em especial na dissecação da estatuária renascentista, mas ainda está distante de Mapplethorpe, que nunca abre mão do rigor absoluto, uma geometria da carne.

Na intimidade do estúdio, quando enfim chega perto de seus modelos, Gomes também reage de outro modo. Seus homens ali, cheios de pelos, as pernas abertas, o sexo exposto em repouso, mais como frutos murchos do que mastros de virilidade, parecem despidos de verdade.

Nesses momentos, Gomes reinventa e subverte a ideia de masculinidade, fazendo de seus homens seres também frágeis, vulneráveis ao olhar impiedoso da câmera.

Eles se tornam mais femininos até do que as mulheres apolíneas, de corpos torneados, retratadas por Mapplethorpe, como a fisiculturista Lisa Lyon, com pernas que parecem feitas de mármore. Noutra imagem, ela aparece quase como abstração, o queixo apontado para o alto num volume branco e anguloso.

Em suas mulheres, o americano também refletia sobre as expectativas em torno da virilidade. No fundo, os dois artistas perguntaram nessas obras díspares o que significa ser um homem.

Alair gomes, Robert mapplethorpe

Quando: de ter. a sex., das 10h às 19h; sáb., 10h às 18h; até 16/9

Onde: galeria Fortes, D'Aloia & Gabriel, r. Fradique Coutinho, 1.500, tel. (11) 3032-7066

Quanto: grátis

(Folhapress)

 

Classificação bom

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