Fundação Palmares comemora mês da mulher com artistas e comunicadoras

O evento teve como tema 'O meu lugar é onde eu quiser: mulheres negras nos espaços de poder'

© reprodução / Facebook

Cultura Relatos 07/03/18 POR Agência Brasil

A Fundação Palmares promoveu hoje (7), em Brasília, um evento para discutir a participação da mulher negra nas artes e na mídia. O encontro foi organizado em homenagem ao mês da mulher, comemorado em março. Foi a primeira vez que a fundação, órgão vinculado ao Ministério da Cultura, promoveu atividade para marcar a data. Na programação estavam rodas de conversa, vídeos e lançamentos de livros.

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O evento teve como tema: O meu lugar é onde eu quiser: mulheres negras nos espaços de poder. O intuito foi chamar a atenção para a importância da presença das mulheres negras nos espaços de decisão, das organizações aos governos, parlamentos e tribunais.

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Profissionais da literatura, do teatro, do jornalismo e do audiovisual apresentaram depoimentos, relatando histórias de racismo que sofreram e como isso as afetou psicologicamente e emocionalmente, além da importância da valorização das mulheres negras para superar práticas discriminatórias.

A Agência Brasil foi o encontro e reproduz, a seguir, resumos de alguns relatos:

Cristiane Sobral – diretora de teatro e professora

“Tenho dado de ser a primeira mulher negra a ter concluído o curso de interpretação teatral na Universidade de Brasília. Isso é uma denúncia, uma universidade que tinha naquela época 99% de estudantes não negros. Não estávamos inventando cotas [para alunos negros] coisa nenhuma, elas sempre existiram. No momento em que as reivindicamos pra beneficiar a população negra [as cotas foram instituídas em 2004 na UnB], o racismo mostrou suas garras [com resistências à medida, na época].

Fundei a Cia de Arte Negra Cabeça Feita, que está completando 20 anos. Estávamos cansados de fazer sempre os mesmos personagens: a mulata gostosa, a cozinheira. Queríamos ser gente. Alcei desafio de ser diretora de teatro negra. Passei em 1º lugar no concurso para professora. Quando fui fazer o exame para passar, o médico, muito branco, me recebeu e disse 'você está fazendo exame pra quê?'. Ele perguntou cinco vezes. Observou todos os exames, que estavam ok. No fim ele disse: 'abre a boca que quero ver se você tem todos os dentes'. Tive que entrar com ação judicial por processo de racismo. Isso compromete a nossa saúde mental”.

Marília Marques – jornalista do Portal G1 no DF

“Sou baiana. Saí de Salvador e fui para a região do Recôncavo para me formar pela Universidade Federal de lá [UFRB]. Comecei em assessoria de imprensa e a Rede Globo é a primeira grande emissora onde trabalho. Já passei pelo Ministério do Trabalho e Emprego e pela Presidência da República. Quando fui contratada, minha chefe me disse: 'conheço pouco dos seus textos, mas você é boa em contar histórias e tem um olhar diferenciado'. Lá dentro, tento colocar aquela representatividade que a gente tanto espera.

Ontem (6) fiz uma divulgação no G1 de uma estudante de escola pública que ganhou na Justiça direito a indenização de R$ 5 mil por injúria racial e a tratamento psicológico pelas inúmeras ofensas. Eu propus essa pauta, ela foi bem aceita, mas meu dilema era que havia duas notícias: a indenização e o direito ao acompanhamento psicológico. Se fosse outra jornalista poderia destacar a primeira. Mas enquanto mulher negra, ciente de que o racismo nos adoece a cada dia, escolhi a segunda. O racismo nos adoece e é importante falar isso nos meios de comunicação. Ao mesmo tempo, sempre fiz questão de aspectos positivos da nossa vivência”.

Rosa Luz – Realizadora de vídeos

“Sou travesti negra, do Gama, Distrito Federal, e estudante de teoria crítica e história da arte na Universidade de Brasília. Em 2016, saí da universidade por uma série de episódios de transfobia. Se eu não me afastasse, ia enlouquecer. Professores falaram que iam 'rezar por mim'. Eu fiquei me questionando se nosso lugar é onde a gente quiser. Eu me senti não pertencendo por ser pessoa trans, da periferia e negra.

Juntei um dinheiro e comprei uma câmera. Minha saída foi criar um canal no Youtube e, desde 2016, tenho postado vídeos falando sobre raça, sobre minha vivência como artista. Encontrei um lugar de resistência por meio das redes sociais. Teve vários momentos no primeiro ano em que eu estava com muita raiva. Toda vez que eu vivia situação de transfobia ou racismo, eu ligava a câmera e falava tudo o que tinha pra falar. Eu não tinha grana pra procurar psicólogo e o que me salvou nesse processo foram os terreiros, poder me conectar com minha ancestralidade”.

Kenia Maria – escritora e defensora dos direitos das mulheres negras da ONU

“Criei a primeira série na internet protagonizada por negros: Tá bom pra você?. Moradora da Zona Sul, fui a única negra do prédio, meus filhos são os únicos negros da escola. Nós consumimos mais de R$ 1,5 trilhão por ano. Ligamos a televisão, que está em 97% dos lares no Brasil, e ela não pertence a ninguém, os canais estão ali por uma concessão pública. Mas os negros não estão ali. A gente precisa conseguir fechar os olhos e imaginar uma rainha e um príncipe negros e uma babá que não seja negra. O cinema durante anos vendeu whisky, cigarro e muito machismo. E isso estimulou um pensamento colonizado.

Sou mulher negra do samba e do candomblé. Estava passeando com minha filha no shopping e um turista polonês coagiu minha filha fisicamente. Eu falei que ele não podia fazer isso, ele continuou me enfrentando. Levei para a Justiça. Na reunião de conciliação ele pediu desculpas, com uma cara de deboche. Ele pagou R$ 950 e foi curtir o verão carioca. Denúncias são oportunidades da Justiça provar que não pode, que não é permitido, que nossos corpos valem muito”. Com informações da Agência Brasil.

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