Filme italiano mostra jovens criados à margem da lei

Especialistas discutiram o tema após pré-estreia do filme "Ciganos da Ciambra"

© Haut Et Court / Divulgação

Cultura Debate 05/05/18 POR Folhapress

A falta de cuidados e limites na primeira infância, assim como a exposição prematura à violência, são fatores de risco que podem levar alguém à criminalidade. Para escapar dessa condição é necessário que haja figuras que apresentem à pessoa em questão realidades diferentes daquela que ela conhece. Essa é a opinião de especialistas que debateram o tema nesta quarta-feira (2) após pré-estreia do filme "Ciganos da Ciambra", realizada pela Folha de S.Paulo.

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O evento aconteceu no Espaço Itaú de Cinema do Shopping Frei Caneca. O longa de ficção, que tem produção-executiva de Martin Scorsese, acompanha um curto período na vida do adolescente Pio Amato, interpretado pelo ator de mesmo nome. Com 14 anos, ele é criado por uma família de ciganos em uma região pobre da Calábria, na Itália, e procura desde cedo seguir os passos do irmão (Damiano Amato), que comete pequenos delitos para os representantes da máfia local.

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Ainda que ficcional, o filme tem traços de documentário. Quase todo o elenco, incluindo o protagonista Pio Amato, é formado por não-atores -alguns personagens inclusive ganharam o mesmo nome das pessoas que os interpretam.

O diretor Jonas Carpignano morou por cerca de cinco anos na cidade de Gioia Tauro, onde o filme se passa, e que tem um dos maiores portos de entrada de drogas da Europa. Nesse período, conheceu e ganhou a confiança da família de ciganos que aceitou aparecer nas filmagens.Segundo a conselheira do Instituto Igarapé Melina Risso, que participou de debate após a exibição do filme, o fato de, além de presenciarem a criminalidade em seu dia a dia, as crianças da comunidade viverem fora da escola, sem valores familiares e culturais, torna a situação mostrada no filme praticamente inescapável.

 "Não é uma coisa que não se veja também em comunidades aqui no Brasil", disse. "Não é a pobreza que leva à criminalidade, mas outros elementos, como o processo de exclusão pelo qual aquelas pessoas passam, o que fica claro no filme."

Para que haja uma possibilidade de saída para aqueles jovens, de acordo com Melina, é necessária a presença de figuras externas, como professores ou o poder público, que lhes apontem caminhos diferentes, o que não ocorre na história. A psicanalista e colunista da Folha de S.Paulo Vera Iaconelli, que também integrou o debate, afirmou que algumas imagens, como as que mostram crianças pequenas fumando ou dirigindo, apresentam um ambiente em que a transgressão de limites é quase uma regra. 

"É um tipo de infância diferente, em que as crianças só não fazem o que não conseguem. Essa rede de proteção da infância que conhecemos é uma construção da sociedade que ainda não chega a todos os lugares", afirmou.

Para a psicanalista, o filme é complexo, pois apresenta uma família afetiva, dentro da qual os mais jovens reconhecem seu principal espaço de convivência. "Se eu estivesse naquela situação, passando fome, com certeza faria as mesmas coisas para sobreviver. Senão vamos cair na história do prédio que desabou em São Paulo, em que algumas pessoas questionaram o que os moradores estavam fazendo ali. Estavam fazendo o mesmo que vocês, vivendo como podem."

Para Lourenço Sant'anna, produtor-executivo do longa, o maior mérito do filme é justamente levar o espectador para dentro da história sem fazer julgamento de valor. "São ladrões, mas que também conseguem tirar leveza de uma situação difícil."

Sant'anna contou que vários elementos da narrativa foram baseados em acontecimentos reais e algumas cenas foram filmadas sem roteiro, buscando retratar com naturalidade os diálogos entre os personagens. Segundo ele, o furto de um carro apresentado na trama se baseou no roubo do veículo da equipe de filmagem que ocorreu assim que eles chegaram à cidade. Uma das formas de agir dos criminosos locais é roubar os carros dos visitantes e depois pedir dinheiro para devolvê-los.

"Os ladrões que aparecem no filme são inclusive os mesmos que levaram nosso carro", contou Sant'anna. De acordo com o produtor, a família, que também se envolveu com práticas ilegais na vida real, não teve problema em se ver retratada dessa forma nos cinemas, por ser algo normalizado em sua realidade."

O filme foi exibido em Cannes e a família foi toda numa Kombi até o festival. Depois da sessão, o público aplaudiu por 15 minutos, e as crianças não paravam de chorar. É um filme que dá visibilidade para a situação deles. Com informações da Folhapress.

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