Livro sobre primeiros anos de Papa Francisco é pessimista

'To Chance the Church' é uma história nuançada, ainda que bastante pessimista

© REUTERS/Max Rossi

Cultura análise 13/05/18 POR Folhapress

REINALDO JOSÉ LOPES - Uma nota de rodapé num tipo de documento papal que a maioria dos fiéis nem sabe que existe seria suficiente para desencadear um novo cisma entre os católicos, colocando em jogo centenas de anos de doutrina da Igreja?

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Tal possibilidade precisa ser levada a sério, afirma Ross Douthat, 38, editorialista do New York Times e autor de uma história nuançada, ainda que bastante pessimista, do que foram os primeiros cinco anos do papado de Francisco.

"To Change the Church: Pope Francis and the Future of Catholicism" ("Mudar a Igreja: Papa Francisco e o Futuro do Catolicismo"), livro publicado recentemente nos EUA, tem uma série de méritos.

O mais importante é uma mistura inusitada de partidarismo e capacidade de enxergar múltiplos ângulos de uma questão que é rara no jornalismo brasileiro (ou mundial).

Explico: Douthat, nascido numa família protestante que chegou a flertar com movimentos pentecostais antes de se converter ao catolicismo quando ele era adolescente, tem simpatia declarada pelas vertentes mais conservadoras da Igreja Católica.

Do ponto de vista dele, a missão da hierarquia católica é preservar o que os teólogos chamam de "depósito da fé": o conjunto original das crenças cristãs, legado tanto pelos textos bíblicos quanto pela tradição que não consta das Escrituras.

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Os papados de João Paulo 2º (1978-2005) e Bento 16 (2005-2013) foram marcados pela busca da estabilidade, contra o que pareciam ser os excessos ligados ao Concílio Vaticano 2º, encontro de bispos realizado de 1962 a 1965 que permitiu que o catolicismo fizesse as pazes com as ideias de liberdade religiosa, diálogo ecumênico e justiça social.

Sob esses papas, em especial com Bento 16, o retorno à tradição católica dava a impressão de ser um porto seguro. Decreta-se a vitória dos conservadores, portanto? Só se for uma vitória de Pirro, admite Douthat. Daí a esperança despertada pelo conclave que fez do argentino Jorge Bergoglio papa Francisco.

A iconografia da humildade e da misericórdia nos primeiros meses de seu pontificado prometia mitigar a associação entre fé católica e conservadorismo político, sem abrir mão do depósito da fé. Para Douthat, porém, Francisco deixou de ser essa promessa ao defender que era possível oferecer a comunhão a fiéis divorciados que se casaram de novo.

Essa possibilidade teria colocado em risco justamente o depósito da fé. Isso porque contraria a aparente proibição absoluta do adultério, e a defesa da indissolubilidade do casamento, feita por Jesus nos Evangelhos.

Sem jamais alterar oficialmente a doutrina católica, e depois das reações contrárias de muitos bispos durante os sínodos, Francisco publicou a exortação apostólica "Amoris Laetitia", em 2016, com suas recomendações para a vida familiar católica.

Uma nota de rodapé do documento sugere que, em certas ocasiões, católicos divorciados em segunda união poderiam comungar, e certas conferências de bispos mundo afora têm interpretado o texto dessa maneira.

Para o escritor, a maneira como o papa conduziu a questão cria uma instabilidade que pode se propagar para outras questões centrais da doutrina católica sobre a vida familiar e sexual, como a união entre pessoas do mesmo sexo, hoje condenada pela igreja. Em vez de sanar as divisões do catolicismo, Francisco seria responsável por aprofundá-las de forma imprevisível, acusa ele.

Em diversos aspectos, em especial no que diz sobre homossexualidade, aborto e gênero, Francisco tem reafirmado a tradição católica, ainda que sempre a tempere com o ideal da misericórdia. Além disso, é duvidoso que o fiel comum tenha qualquer crítica substancial a fazer ao "Amoris Laetitia". Nas condições atuais, um "cisma franciscano" seria muito mais um arranhão do que a amputação de um membro para a igreja.

TO CHANGE THE CHURCH

Autor: Ross Douthat

Editora: Simon & Schuster

Quanto: R$ 49,67 (e-book, 257 págs.)

Avaliação: muito bom

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