© REUTERS/Eric Gaillard
GUILHERME GENESTRETI - Quem esperava que "3 Faces", do diretor Jafar Panahi, fosse se provar uma farpa direta contra o governo iraniano saiu algo frustrado da exibição do filme, neste domingo (13), no Festival de Cannes. Ainda assim, o longa encontra seus modos de incomodar a cultura local. Entre os cineastas, Panahi é o mais conhecido crítico ao regime do Irã.
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Em 2010, ele foi condenado a seis anos de prisão domiciliar e a ficar 20 anos sem filmar sob a acusação de fazer propaganda contra o governo. Sem permissão para viajar, ele não apresentou o longa em Cannes.
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Na tarde de domingo, durante a conversa com a imprensa, sua cadeira estava vazia. Mais do que um ataque ao governo, "3 Faces" é um libelo contra o conservadorismo provinciano e um aceno ao feminismo.
A trama gira em torno de uma aspirante a atriz que pede socorro porque seus pais não permitem que ela ingresse num conservatório. A história tem início com um vídeo feito pelo celular pela garota (Marziyeh Rezaieh). Ela relata a oposição de seus pais e termina se enforcando.
As imagens são enviadas para Behnaz Jafari (foto), atriz de sucesso que fica inconformada com sua incapacidade de ter ajudado a menina. Ela e o próprio Jafar Panahi, ambos interpretados por si mesmos, resolvem viajar ao lugar, um povoado ermo, cheio de gente conservadora, para descobrir se Marzieyeh de fato morreu. "3 Faces" é o quarto filme que Panahi realiza após a condenação. É, portanto, uma obra clandestina.
Em 2011, ele também dirigiu o documentário "Isto Não É um Filme" sobre a sua impossibilidade de filmar. O longa só pôde deixar o país por ter sido oculto num pendrive. Além de Panahi, outro diretor em competição neste ano também não pôde vir a Cannes por estar preso: o russo Kirill Serebrennikov, de "Leto", crítico do governo Putin acusado de cometer crimes fiscais.