'Me Chame Pelo Seu Nome': psicológico de atores se transmite pelo corpo

A conversa aconteceu após a exibição do longa na Cinemateca Brasileira, como parte do Ciclo de Cinema e Psicanálise

© Reprodução / Youtube

Cultura Cine 14/06/18 POR Folhapress

O filme "Me Chame Pelo Seu Nome", indicado a quatro estatuetas no último Oscar, apresenta o corpo como o princípio de tudo. É a partir dele que os personagens experimentam desejo, ciúme, frustração e raiva um pelo outro.

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Situado nos anos 1980, o filme conta a história do adolescente Elio (Timothée Chalamet), de 17 anos, que se apaixona por Oliver (Armie Hammer), um estudante de 24 anos que vai passar o verão em sua casa na Itália para trabalhar como assistente de pesquisa de seu pai. A direção é do italiano Luca Guadagnino.

"O longa dá um lugar sublime para o físico, explora a fundo os desejos e as pulsões psíquicas que o corpo traz", afirmou o psicanalista Rodrigo Lage Leite em debate nesta quarta-feira (13).

Até a brincadeira que dá título à obra, em que os personagens trocam seus nomes durante momentos de intimidade, pode ser vista como a conjunção dos dois corpos pelo amor e pela paixão, em que os enamorados buscam se perder um no outro, explicou Leite.

Por isso, diz ele, o impacto do filme é bem diferente para cada um que o assiste. Os detalhes, como a cena em que Oliver toca os lábios de Elio pela primeira vez, podem significar muito para uma pessoa e nada para outra, dependendo de suas experiências de vida.

A conversa aconteceu após a exibição do longa na Cinemateca Brasileira, como parte do Ciclo de Cinema e Psicanálise. O evento é realizado pela Cinemateca em parceria com a Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e apoio da Folha de S.Paulo. A mediação foi feita pela psicanalista Sylvia Pupo.

Segundo o jornalista da Folha de S.Paulo Lucas Neves, que também integrou o debate, o personagem Oliver aparece em cena para quebrar o equilíbrio estético e psicológico apresentado no início do filme, quando Elio passava férias tranquilas na grande propriedade da família no norte da Itália. 

"A partir dali, seu corpo é mostrado se contorcendo, retesando, enrijecendo de prazer. O Oliver também se manifesta pelo corpo o tempo todo, seja tocando no ombro do Elio, seja mostrando aquela cicatriz que parece que nunca vai embora", disse. 

Para o jornalista, que tem um mestrado em cinema na França, o americano representa a figura de um Dionísio, deus grego do vinho e das festas, que abre as portas do prazer carnal ao jovem protagonista, antes mais ligado à harmonia e ao equilíbrio típicos da arte clássica - o adolescente herdou dos pais intelectuais o interesse pela música, escultura e literatura.

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Em sua fala, Rodrigo Leite também evocou o discurso final do pai (Michael Stuhlbarg) para Elio, no qual ele revela ter inveja da intensidade da relação do filho com Oliver. De acordo com o psicanalista, é essa figura paterna que legitima a experiência dos apaixonados, transformando-a em motivo de orgulho, alegria e prazer, e não mais de culpa ou injúria. 

"Você percebe o quanto a experiência erótica e homoerótica pode ser perturbadora para uma pessoa quando lembra que alguns prefeririam extirpar a sexualidade dos filhos a ter que lidar com ela", afirmou.

"É por isso que muita gente, por repressão precoce, acaba lançada numa falência de sentimentos já aos 30 anos." 

Após a abertura para perguntas do público, uma das psicanalistas presentes na sessão contestou a fala do pai, que diz que, após uma determinada idade, o corpo humano perde seus atrativos. "Fico incomodada quando ele fala que o corpo perece. Tenho pacientes que só vêm a conhecer a própria sexualidade ou se descobrem gays quando mais velhos, por repressão na juventude." 

Leite afirmou que esse diálogo provavelmente reflete uma visão e uma realidade próprias do personagem, não uma regra universal. 

Para Lucas Neves, o sentimento dos dois personagens principais é mostrado no filme de forma tão avassaladora que extrapola os limites da casa em que estão, fazendo com que muitas de suas cenas amorosas se passem ao ar livre. 

"É um tesão, um desejo que se espalha pelo mundo e contamina até os objetos em torno deles, o que é representado naquela imagem da fruta com o sêmen escorrendo de seu interior." 

A próxima edição, que fechará o módulo dois do Ciclo de Cinema e Psicanálise, sobre mal-estar na civilização e o amor, está marcada para o dia 27 de junho. O filme exibido será "45 Anos", do cineasta Andrew Haigh, com Charlotte Rampling e Tom Courtenay no elenco. Com informações da Folhapress.

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