'Há material para mais 5 anos de operações', diz ex-diretor da PF

Leandro Daiello Coimbra comandou várias ações de combate à corrupção

© José Cruz/Agência Brasil

Política Entrevista 18/06/18 POR Estadao Conteudo

Nos seis anos e 10 meses em que chefiou a Polícia Federal, o gaúcho Leandro Daiello Coimbra comandou as mais espetaculares operações de combate à corrupção, entre elas a Lava Jato. Desde a semana passada, Daiello é associado do escritório Warde Advogados, especializado em fusão e aquisição de empresas.

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No novo emprego, o delegado aposentado espera continuar combatendo a corrupção, agora do outro lado do balcão. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, a primeira desde que se aposentou, em novembro, ele afirma que o material apreendido pela PF sob seu comando é suficiente para mais "quatro ou cinco anos" de grandes operações. "Esse negócio não vai parar".

As grandes operações da PF vão continuar?

Esse negócio não vai parar. O que tinha de papel e dados digitais na polícia quando eu saí era suficiente para quatro ou cinco anos de operações. Não tem outro jeito. Você vai na empresa e acha uma sala inteirinha com papéis, aí começa a cruzar e vem a operação. Quando eu saí tínhamos um projeto de modernização e informatização para novos focos. O sistema Atlas tem uma capacidade de processamento absurda. O que um policial demorava sete, oito dias para fazer ele faz em um minuto. Demora mais para imprimir do que para processar.

Pode surgir algum setor novo?

A polícia nunca focou em setor, focou no dinheiro. Quem usou a lavanderia vai aparecer. Porque o doleiro não é mais o tradicional que vendia dólar no paralelo, a cotação até saía no jornal. O doleiro hoje é uma lavanderia. Você paga para receber o dinheiro limpo. Fizemos uma avaliação lá atrás e ficou claro que os sistemas de controle de atividade financeira melhoraram muito - Coaf, Bacen, Polícia Federal. Se você mexer no sistema bancário ou financeiro, começa a disparar alarmes. Aí você precisa achar outro mercado de lavanderia. Isso é uma boa notícia para o Brasil. O foco das operações iniciais nunca foi a Petrobrás. Eram os doleiros.

Continuam sendo?

Estes doleiros ainda vão dar muito trabalho. Quem ia esperar que chegaríamos neste momento da história em que as autoridades teriam liberdade para agir, respaldo do Judiciário, que iriam mandar prender 50? Ficar prendendo gente não é solução para tudo. Mas que o Brasil mudou, mudou. Na época em que entrei na PF ver um doleiro preso era inimaginável.

O senhor imaginava que isso pudesse acontecer?

Dependia de uma série de critérios extra-policiais. O discurso interno era "vamos fazer a nossa parte, vamos fazer um bom inquérito e entregar à Justiça". Se depois o inquérito virasse denúncia ou não era um problema deles. Tínhamos que resolver o nosso. Então, isso não causa surpresa, mas não havia uma esperança de que sairia da PF, deixando um resultado tão bom.

O senhor acha possível repetir este desempenho agora que trabalha no setor privado?

O setor público está fazendo o dever de casa. A preocupação é o privado. A empresa tem de fazer a escolha. Ela tem de pensar em como quer ser vista no futuro e no risco, né? É uma perspectiva de combater a corrupção no privado. A empresa que entrar em confronto com o aparato de combate à corrupção terá dificuldade para sobreviver.

O senhor teve alguma crise?

Eu achei um lugar no mercado em que posso fazer o que gosto e sem conflitos porque não vou advogar na área criminal nem para as empresas envolvidas na Lava Jato. É muito complexo sair do público para o privado neste cenário. Por isso a única escolha foi vir para cá.

Essa postura que o senhor identifica nas empresas aponta para uma mudança estrutural?

No que vale está mudando, sim. Mas o Brasil não fez o dever para atacar as causas, que seria a reforma política. Nunca autorizei ninguém a entrar na discussão sobre reforma política porque não competia à PF dizer que a reforma é uma estratégia de combate à corrupção. Se não tiver a reforma política a máquina vai continuar gerando (corrupção). Da maneira que a política é jogada hoje, não sobrevive, não. A fábrica de corrupção está aberta. A doação eleitoral não é ideológica, é estratégica.

O financiamento do jeito que é hoje resolve?

Não. Está cheio de brechas. É um caos.

O senhor é a favor da regulamentação do lobby?

Nem tudo é crime. Quando ficar transparente e existir uma regulamentação, as pessoas poderão fazer a escolha entre ultrapassar a linha ou não. Sem regulamentação vivem no fio da navalha. É difícil saber o que é crime e o que não é.

O senhor foi convidado a ajudar candidatos com propostas para a segurança pública?

Na segurança a gente está disposto a colaborar independente de poder. Na segurança não pode haver questão partidária.

Setores acusam a PF de cometer arbitrariedades na Lava Jato.

O que torna a polícia isenta é o fato de ser legalista. Não há outro caminho. Não tem que interpretar lei. Se o Congresso mudar a lei e disser, por exemplo, que a maconha não é mais crime, ela deve sair do radar da polícia. Tudo tem manual, tudo tem regras. Segui-las obriga os integrantes de qualquer instituição a agir com isenção, mesmo que tenham suas tendências e preferências pessoais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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