'O país está matando nossas crianças', diz mãe de jovem morto na Maré

Marcos Vinícius da Silva ia uniformizado para a escola quando foi baleado na barriga

© Fernando Frazão/Agência Brasil

Brasil Rio de janeiro 02/07/18 POR Folhapress

"O Brasil vai ser um país de velhos, porque estão matando as nossas crianças." O diagnóstico sombrio é da empregada doméstica Bruna da Silva, 36, que teve o filho de 14 anos morto por um tiro no último dia 20 na favela da Maré, zona norte do Rio.

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Marcos Vinícius da Silva ia uniformizado para a escola quando foi baleado na barriga. Ele chegou a ser socorrido, mas morreu horas mais tarde.

Em entrevista à reportagem, a mãe responsabiliza o Estado pela morte de seu filho.

Policiais civis faziam operação no início da manhã para cumprir 23 mandados de prisão quando o jovem foi atingido. Outras seis pessoas foram mortas, todas suspeitas de envolvimento com o tráfico de drogas, segundo a polícia.

A camisa branca com a mancha de sangue, já desbotada sobre a faixa azul do uniforme escolar da rede municipal do Rio, virou o símbolo da luta que Bruna trava por justiça.

"Enquanto o Brasil comemora a Copa do Mundo, a minha bandeira é essa", diz ela, com o uniforme na mão. Marcos queria descolorir o cabelo como o do jogador Neymar para assistir aos jogos da Copa. A mãe prometera atender ao pedido, mas não teve tempo. O garoto foi atingido dois dias antes de o Brasil vencer a Costa Rica por 2 a 0, no dia 22.

+ Polícia fará reconstituição da morte de adolescente na Maré

"É daqui que eu vou tirar a força", diz, mostrando a camisa. A mancha para ela é "a marca da vergonha do Brasil". "Esse aqui é meu símbolo de resistência contra esse Estado que mata os nossos filhos".Marcos Vinícius é descrito pela mãe como um menino carinhoso e querido na comunidade. Também era sério e, apesar da idade, diz ela, era "muito sujeito homem".

"Ele ria só entre os coleguinhas, não dava mole na comunidade e andava certo", diz ela, que mora num conjunto de favelas com 130 mil habitantes cujo território é disputado por duas facções de tráfico de drogas e uma milícia.

Além da perda, a família teve que suportar uma torrente de notícias falsas, disseminadas nas redes sociais, que buscavam ligar o jovem ao crime organizado da região como forma de justificar sua morte.

Fotos montadas com o rosto do menino segurando uma arma circularam pelas redes até a Justiça do Rio determinar a retirada do conteúdo falso do ar. Ao UOL, a Polícia Civil confirmou que Marcos não tinha antecedentes criminais.

Em um apartamento de um cômodo, de pouco mais de 20 m² e tijolos aparentes, a mãe mostrou onde a família de quatro pessoas dormia.

O menino gostava do sofá no canto do cômodo, onde batia mais vento. A irmã, Maria Vitória da Silva, 12, dormia na única cama. Entre os dois, em um colchonete no chão, dormiam o pai e a mãe. Foi ali que Marcos se despediu antes de ir para a escola, no último beijo que deu em sua mãe.

"A presença dele tá forte aqui", diz ela. "Eu ainda acho que vou vê-lo chegando, afastando o pano e dizendo: 'mãe, cheguei. Já entrei pra dormir'".

Informações da perícia preliminar do caso, divulgadas pela Polícia Civil, apontam que o menino foi atingido pelas costas num tiro que entrou pelo lado esquerdo da região lombar e saiu na altura do peito.

A polícia ainda não descobriu de onde partiu o tiro.

Quando a mãe soube que o filho foi atingido, correu para a UPA da Maré e ficou com Marcos antes de ele morrer no hospital Getúlio Vargas, para onde foi levado mais tarde.

Ele disse estar com sede e relatou que o tiro teria sido disparado por um veículo blindado da polícia.

Segundo Bruna, o menino questionou a mãe se os agentes não tinham visto que ele estava de uniforme.

Naquele dia, dois blindados e um helicóptero davam apoio à operação policial. Entidades criticaram o fato de policiais terem disparado de dentro da aeronave sobre uma área densamente povoada por civis sem relação com os constantes conflitos armados.

Segundo a ONG Rio de Paz, ao menos 50 crianças de até 14 anos foram mortas por balas perdidas no estado desde 2007. Só neste ano foram oito.

A mãe diz que, com a intervenção federal na segurança pública do Rio, em fevereiro, proibiu o filho de sair sozinho da favela da Maré com medo de que ele pudesse ser confundido com criminoso.

"Porque lá fora [da favela], de menor, a gente tinha esse cuidado. Aí aconteceu aqui dentro, na comunidade em que ele se sentia seguro". Com informações da Folhapress.

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