Escultura misteriosa substitui busto furtado no largo do Arouche, em SP

O busto de Almeida sumiu em 2004.

© iStock

Brasil São Paulo 10/08/18 POR FolhaPress

No lugar onde antes havia um busto do poeta, crítico e ensaísta Guilherme de Almeida, no largo do Arouche, centro de São Paulo, apareceu uma escultura misteriosa: a cabeça de um homem careca, com maxilar bem marcado e parafusos que saltam de seu queixo e dos olhos.

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O busto de Almeida sumiu em 2004. Fazia parte do Jardim das Esculturas, série criada pela Academia Brasileira de Letras para homenagear cinco membros mortos, entre eles o parnasiano Vicente de Carvalho (1866-1924).

Em 2001, já havia desaparecido o busto vizinho, de José Augusto Cesar Salgado. Sobrou ainda José Pedro Leite Cordeiro, mas sem os óculos.

Segundo o Conpresp, órgão de preservação do município que tombou a série, houve registro de boletim de ocorrência para os furtos, mas as obras não foram recuperadas.

Moradores e comerciantes da região dizem que a nova intervenção apareceu há cerca de três meses. Ela está fixada com argamassa e é feita com pedra-pomes, um material que não tem valor no mercado de recicláveis, ao contrário do bronze utilizado nos bustos.

"Foi do dia para a noite que apareceu", conta o estudante Levy Douglas, 24, frequentador da praça, onde moradores não só da região costumam confraternizar ao cair da noite. Ele compara a ação com as do britânico Banksy, grafiteiro conhecido por não ter sua identidade revelada.

Douglas acha, pelas feições da figura criada, que se trata da representação de um homem negro –a cor da peça é clara, quase branca. Enquanto ele falava, um passante se aproximou para opinar. Os dois concluíram que os parafusos no queixo simbolizavam um estilo que contesta a expressão artística dos bustos vizinhos: imagens de homens brancos e de terno, com cabelos e bigodes bem aparados.

Em uma casa que vende artigos de candomblé a cinco quarteirões dali, um vendedor que viu uma fotografia da escultura mostrada pela reportagem apontou semelhança entre os olhos da imagem e os de uma máscara nigeriana de madeira que ele vendia em sua loja: o globo ocular em relevo, as pálpebras saltadas e um pequeno orifício bem no centro do olho. Realmente parecida.

A Folha de S.Paulo conversou com moradores e comerciantes da região em diferentes ocasiões nas últimas semanas, em diversas faixas de horário.

Ouviu ambulantes africanos na região da República, tatuadores e vendedores da galeria do Rock, hippies que comercializam artesanato na rua 7 de Abril, mas ninguém soube responder quem era o autor do trabalho.Estacionado na porta da galeria do Rock, na rua 24 de Maio, Carlos Henrique, que vendia colares, anéis e outros artesanato, ofereceu: "se quiser, faço uma igual".

Na noite de terça (7), o bancário Wagner Xavier, 28, estava no Arouche de bate-papo com um amigo e topou dar uma interpretação para a obra.Para ele, a figura representa alguém que quer ser aceito pela sociedade. "Ele quer fazer parte de algo ao qual ainda não pertence", arrisca. "Se existe um parafuso é porque o queixo dele é solto", complica-se, "então, para fazer parte daquilo, coloca-se um parafuso". O amigo se admira com a explicação ouvida e, econômico, exclama: "Arrasou!"

Na quarta (8), um garoto de programa perguntou se haveria recompensa para quem apresentasse o verdadeiro autor da peça. Como não havia, ele se negou a falar mais.

Ele também contou que havia passado a noite rodando o centro, bebendo e usando cocaína. Às 11h, pediu R$ 5 para comprar um vinho. Na floricultura que há ao lado do Jardim dos Escritores, um dos sócios, João Fernando Salgado Filho, 60, diz que entende a intervenção como uma crítica aos bustos da Academia Paulista de Letras. "O pessoal [no Arouche] tomou [a nova escultura] como uma brincadeira, como uma sátira", diz o homem de bigodes e barbas e fala pausada."

Na minha opinião, não tem nada a ver terem colocado esses outros bustos aqui na praça", diz, em referência ao Jardim dos Escritores. "Eles [os bustos] criam conflito com as esculturas de autores consagrados que já estavam aqui antes", diz, apontando a obra "Depois do Banho", do modernista Victor Brecheret (1895-1955), com a qual a nova escultura de fato guarda semelhanças, pelas formas não realistas.Salgado Filho também dá uma explicação possível para o desaparecimento de bustos do Jardim dos Escritores. Ele trabalha há mais de 25 anos ali e conta que já roubaram as grelhas de ferro usadas na entrada de sua loja. "O que tem de metal, não fica, eles levam", atesta, atribuindo a ação a homens e mulheres viciados em crack.

Com informações da Folhapress.

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