Músico Edgar disseca um mundo distópico em suas letras

As dez músicas de "Ultrassom", todas compostas por Edgar, abordam temas como tecnologia, natureza, poluição, liberdade, tolerância

© Divulgação / Deck / Pedro Ladeira

Cultura DISCO-LANÇA 14/09/18 POR Folhapress

Edgar Pereira da Silva lembra que não bebe nada de álcool desde 26 de agosto de 2016. Nesta semana, ele apresenta ao mundo "Ultrassom", o seu quarto disco -e o primeiro em que está sóbrio.

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"Quando fiz meu último disco, estava bebendo muito. Criei um personagem que terminava o relacionamento pra curtir o Carnaval. Mas ele bebe demais, bate a cabeça na guia da calçada e morre. Meu processo de criação acontecia no meio de muito álcool."

Edgar, hoje com 25 anos, sofria com a bebida desde a adolescência. Quando tinha 17, sofreu uma parada cardiorrespiratória que o levou ao hospital. "Eu já tinha tentado parar de beber outras vezes. Tomava Diazepam e Ritalina para tentar largar a bebida."

Então passou pela mais impactante experiência da vida. "Estava com um cara que eu conhecia e de repente ele incorporou algum espírito. Mudou o tom de voz, as feições do rosto e disse: 'Estamos construindo um jardim bonito e você vai chegar destruindo tudo? É isso que você quer? Se você não parar, nós vamos te parar'. Comecei a chorar muito, parecia que toda a bebedeira saía junto com as lágrimas. Foi muito forte."

Outro momento que mudou a vida de Edgar foi uma apresentação no programa "Manos e Minas", da TV Cultura, há dois anos. Foi ali, quando cantou de máscara e com roupas extravagantes, que ele chamou a atenção de Pupillo, o baterista da Nação Zumbi que já produziu discos de Erasmo Carlos, Gal Costa e Céu.Pupillo mandou mensagem para Edgar dizendo que tinha gostado do som e queria produzir algumas faixas.

"Fui pesquisar quem era esse cara, Pupillo. Aí apareceu produtor da trilha de 'Amarelo Manga', Céu. Falei, caramba, onde é que eu tô me enfiando? Mas fomos gravando devagar, a primeira música que fizemos foi 'Felizes Eram os Golfinhos'. Como estava sóbrio, as letras saíam um pouco mais sérias", lembra.

Ainda que tratem de temas sérios, as letras não são sisudas. Em "Felizes Eram os Golfinhos", canta: "Eu não acredito em pessoas que começam as suas frases com a palavra eu". Já "Go-Pro" começa assim: "Um ser viciado em filmes de guerra/ rouba um carro e destrói a cidade/ hoje herói nenhum me pega". E tem "o print não some, não some, cuidado com o histórico", de "Print".

São faixas com batidas eletrônicas e sintetizadores. Soam cruas, como se fossem feitas com equipamentos baratos, caseiros. E Edgar canta de um jeito quase falado, com uma forte influência de rap.

No meio das gravações, no final do ano passado, decidiu viajar pelo Brasil. "Tinha feito uma promessa quando criança, de que um dia iria sair de onde estivesse. Minha meta era chegar à Colômbia."

Edgar passou por Três Corações, Varginha, Alfenas, São Tomé das Letras, Uberaba, todas cidades mineiras. Foi a Cuiabá, onde comia arroz com goiaba e fazia malabares na rua para ganhar dinheiro.

Passou um tempo em Dourados, em Mato Grosso do Sul, numa aldeia indígena. "Estava me livrando do álcool e na aldeia todos os índios são alcoólatras, as crianças cometem suicídio. Fiquei um mês ali."

No início deste ano, ganhou uma passagem de Pupillo e voltou para São Paulo. Terminou o seu disco em abril.

Nascido e criado na favela do Coqueiro, em Guarulhos, Edgar começou a ouvir rap com a turma do skate."Meus ídolos são rappers, como o Marechal, o Black Alien, o Sabotage. E também gosto de Caju & Castanha, que têm rimas nada óbvias", conta. "Gosto de me expressar no rap, mas me vejo um pouco além. Nunca fui um ouvinte apenas de rap. Sempre ouvia rock, frevo, samba, brega."

Edgar tentava fazer rap, mas não soava como rapper tradicional. "Eu não tinha um bom 'flow' [a cadência de um rapper]. Parecia uma palestra."

Mas essa forma de cantar com rimas meio faladas é uma das características que fazem de Edgar um nome singular dentro do pop brasileiro. "A fala é importante, quebra a rítmica, é dissonante, esquisito. Algo que não se espera. É como comer banana com sal."

Para o cantor Rodrigo Brandão, que participa do disco na faixa "Adorno", Edgar é "o primeiro grande produto psicodélico da favela brasileira".

"Ele tem uma psicodelia no modo de pensar, de enxergar as coisas, tem o visual bizarro, com fantasias, máscaras. Ele pega coisas do lixo e transforma em um visual inovador. É o cara mais interessante da lírica da música brasileira atual."

O lançamento do disco será no Sesc Pompeia, em São Paulo, neste sábado. Edgar vai se apresentar com fantasias e máscaras, que ele mesmo faz. É quase performance, coisa que Edgar começou a fazer pelas ruas em Guarulhos, quando criou o personagem Implacável Gambiarra.

"Pegava a bicicleta e ficava andando pelas ruas com um megafone, gritando 'A bicicleta é o transporte do futuro'. A galera de carro ficava furiosa." Com informações da Folhapress.

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