Morre, aos 73 anos, a cantora e multi-instrumentista Luhli

Poucos dias antes de ser internada, o compositor Jean Garfunkel a visitou em Lumiar

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Cultura PERDA 27/09/18 POR Folhapress

Luhli, da dupla Luli e Lucina, morreu, aos 73 anos, no final da tarde desta quarta-feira (26). Esteve internada durante o último mês no CTI do Hospital Raul Sertã, em Nova Friburgo, região serrana do Rio de Janeiro (RJ), em decorrência de quadro crônico de asma complicado por pneumonia. Nesta tarde, sucumbiu à insuficiência respiratória. A informação foi confirmada pela família.

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Multiluli, o apelido que Luhli usava na internet, é a sua tradução mais-que-perfeita. Foi compositora, letrista, cantora, violonista. Muito jovem, foi feita ogã (responsável pelo toque e canto da umbanda). Ilustradora e escritora, publicou poesia, contos, crônicas, romance.

Heloisa Orosco Borges nasceu em 19 de junho de 1945, em Vila Isabel, Rio de Janeiro, última das quatro filhas -a única ruiva- de um casal de cientistas. A asma não a deixava brincar. "O violão, desde os sete anos, foi meu consolo e brinquedo", contou a Rafael Saar, diretor de "Yorimatã", documentário de 2014.

Aos 20 anos gravou um primeiro disco, "Luli"', pela gravadora Phillips. Insatisfeita com as imposições estéticas da gravadora, desistiu de cantar. Inauguravam-se ali as escolhas libertárias que faria ao longo de toda a vida.

No início dos anos 1970 estava casada com o fotógrafo Luiz Fernando da Fonseca, morando em um casarão em Santa Teresa. Na garagem, Ney Matogrosso -recém-chegado de Brasília- fazia artesanato e por vezes entrava para cantarolar uma voz de algum arranjo que Luhli estivesse escrevendo.

Luhli apresentou Ney a João Ricardo (com quem viria a compor 'O Vira'). Completava-se ali o Secos & Molhados. Luiz Fernando é o autor da iconografia do início da carreira do cantor, que até certo ponto modulou sua personalidade artística. "Ney era homem, era mulher, era bicho, era coisa. As pessoas deliravam de liberdade", diz Luhli.

Conheceram Lucina. As vozes e a chama criativa das duas se fundiram, nasceu a dupla Luli & Lucina –inicialmente Lucinha. Três anos depois, a parceria artística entre os três virou casamento. Desse poliamor viriam a nascer os dois meninos gêmeos de Lucina, irmãos caçulas das duas meninas de Luhli.

Foram para Mangaratiba, no Rio, onde viveriam em isolamento voluntário durante seis anos. Queriam "ter filhos, fazer horta e compor com os passarinhos". Foi um tempo de enfrentamento com as famílias e amigos, e o período mais exuberante da criação musical.

"Vocês realizaram às claras. Mesmo exiladas, disseram: não tem importância, estamos com a verdade. Senti que não estava sozinho neste mundo", diz Ney Matogrosso para a dupla, no documentário "Yorimatã". "O escândalo da nossa história é o amor."

O LP "Luli & Lucinha" (1978) foi uma das primeiras produções fonográficas independentes no Brasil. O disco era comprado pelo correio. A turnê de lançamento foi feita em uma Kombi adaptada, com cenário e luz de Luiz Fernando.

Nos anos 1980 viviam o ápice da carreira, em São Paulo, quando Luiz Fernando foi diagnosticado com um câncer de faringe. Voltaram ao Rio, onde ele morreria em 1990. Luhli e Lucina permaneceram casadas. A dupla durou 25 anos e produziu -além dos 4 filhos- 800 canções e sete discos.

Lucina diz, sobre a parceira: "Só nos duas sabemos o melhor e o pior de cada uma, quantas fraldas a gente lavou, quanto riu, quanta música fez, quanto chorou". A cumplicidade e parceria musical perduraram para sempre.

"O Vira" foi o mais retumbante sucesso de Luhli. Houve outros. "Fala" (com João Ricardo), "Bandolero", "Êta nós" (ambas com Lucina). Para além de Ney Matogrosso, Nana Caymmi, Norma Bengel, Wanderléa, Rolando Boldrim, Marília Pêra e Zélia Duncan também gravaram suas canções.

Viveu sua última década em Lumiar, distrito de Nova Friburgo, Rio, "perto da umbanda, das cachoeiras, das pessoas que estão buscando o que eu busco". Participou intensamente da vida cultural e ritual da comunidade.

Gravou novos discos, escreveu livros, produziu tambores artesanais. Criava, sob encomenda, os "Presentes Musicais", canções nascidas do seu vício incurável de enxergar poesia em coisas banais.

Fez arte até o último momento útil de seus 73 anos de vida. Poucos dias antes de ser internada, o compositor Jean Garfunkel a visitou em Lumiar. Com falta de ar e tosse, desculpando-se por não poder lhe fazer as honras da casa, cantou para o velho amigo a sua última composição, "Penas de Tiê". Ainda uma vez, relata Garfunkel, Luhli se deixou transfigurar pela música.

Calou-se a ruiva. Deixa as filhas Júlia (45), Flor (43), os gêmeos de Lucina -Antônio e Pedro (38)-, os netos Raoni, Kauan, Aurora e Luiza. Deixa órfãos e desconsolados o grupo virtual M-Música e o coral percussivo "Timbres e Temperos", seu mais acalantado projeto dos últimos anos.

Discografia

"Luli" (1965)

Lilás" (1973)

"Luli & Lucinha" (1978)

"Amor de mulher/ Yorimatã" (1982)

"Êta nóis" (1984)

"Timbres Temperos" (1984)

"Porque Sim, Porque Não" (1991)

"Elis & Elas" (1995)

"25 anos" (1996)

"Todo céu para voar" (2002)

"Luhli" (2006)

"Danças da Terra e do Mar" (2013)

"Música Nova" (2014)

Com informações da Folhapress.

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