Caetano no NYT: 'Fui forçado ao exílio. Não vai acontecer de novo'

No texto Caetano alerta para o perigo da volta dos tempos da repressão no Brasil

© REUTERS/Mario Anzuoni

Cultura Opinião 25/10/18 POR Notícias Ao Minuto

Faltando apenas três dias para o segundo turno das eleições presidenciais no Brasil, Caetano Veloso escreveu um artigo de opinião ao jornal norte-americano New York Times intitulado "Tempos sombrios estão chegando ao meu País" em que dá sua opinião sobre o conturbado momento político que o Brasil atravessa atualmente.

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No texto Caetano alerta para o perigo da volta dos tempos da repressão no Brasil, com a eleição do candidato Jair Bolsonaro (PSL), ao qual ele classifica como "uma ameaça de extrema direita". "Se Bolsonaro vencer a eleição, os brasileiros podem esperar uma onda de medo e ódio", afirma.

"Nosso novo fenômeno político, que deve vencer a eleição presidencial no domingo, é um ex-capitão do Exército que admira Donald Trump, mas se parece mais com Rodrigo Duterte, o homem forte das Filipinas. Bolsonaro defende a venda irrestrita de armas de fogo, propõe presunção de legítima defesa se um policial matar um 'suspeito' e diz preferir um filho morto a um filho homossexual", escreve Caetano.

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Caetano Veloso relembra aos anos 80, quando o Brasil lutava por eleições livres, após 20 anos de ditadura militar.

"Se alguém tivesse me dito que algum dia elegeríamos pessoas como Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, teria soado como ilusão. E então aconteceu", escreve. "Mas, apesar do progresso e da aparente maturidade, a quarta maior democracia do mundo está longe de ser sólida. Forças sombrias, de dentro e de fora, agora parecem estar nos forçando para trás e para baixo", completa.

"Como figura pública no Brasil, tenho o dever de tentar esclarecer esses fatos. Eu sou um homem velho agora, mas eu era jovem nos anos 60 e 70, e eu lembro. Então eu tenho que falar", escreve.

Como um grande músico e ativista que foi, mesmo no período mais intenso da ditadura militar, Caetano conta a sua própria experiência ao lado de Gilberto Gil como preso político e exilado no final dos anos 60.

"No final dos anos 60, a junta militar prendeu muitos artistas e intelectuais por suas crenças políticas. Eu era um deles, junto de meu amigo e colega Gilberto Gil. Gilberto e eu passamos uma semana em uma cela suja. Sem nenhuma explicação, fomos transferidos para outra prisão militar por dois meses. Depois disso, quatro meses de prisão domiciliar até, finalmente, o exílio, onde ficamos por dois anos e meio." relata.

"Outros estudantes, escritores e jornalistas foram presos nas celas onde estávamos, mas nenhum foi torturado. Durante a noite, porém, ouvíamos os gritos das pessoas. Eram presos políticos que os militares pensavam estar ligados a grupos de resistência armada ou jovens pobres pegos em roubos ou na venda de drogas. Esses sons nunca saíram da minha mente."

O músico também reservou fortes críticas a mídia brasileira que segundo ele descreveram a campanha entre os candidatos presidenciais como um confronto entre dois extremos. E lembrou que o PT sempre respeitou as instituições democráticas, mesmo quando seu maior líder, Lula, foi preso em abril deste ano.

"Muitos na imprensa tradicional ignoram o facto de que Lula respeitou as regras democráticas e que Bolsonaro defendeu repetidamente a ditadura militar dos anos 60 e 70. De fato, em agosto de 2016, enquanto votava contra Dilma, Bolsonaro fez uma demonstração pública de dedicar seu voto a Carlos Alberto Brilhante Ustra, que administrou um centro de tortura nos anos 70", escreve o cantor.

Caetano Veloso encerra o seu texto trazendo uma mensagem de resistência e esperança.

"Muitas pessoas aqui dizem que estão planejando viver no exterior se o capitão vencer. Eu nunca quis morar em outro país além do Brasil. E não quero agora. Fui forçado ao exílio uma vez. Não vai acontecer de novo. Eu quero que minha música, minha presença, seja resistência permanente a qualquer característica antidemocrática que venha de um provável governo Bolsonaro."

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