Índios do Xingu veem com preocupação uma possível vitória de Bolsonaro

No 1º turno, o capitão reformado recebeu só 108 dos 8.506 votos válidos registrados em áreas indígenas no estado

© Ueslei Marcelino / Reuters

Brasil Cenário 26/10/18 POR Folhapress com RODRIGO VARGAS

Às vésperas do segundo turno da eleição presidencial, o clima é de preocupação e incerteza entre as etnias do Parque Indígena do Xingu, na região nordeste de Mato Grosso.

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No primeiro turno, de acordo com a apuração do TRE-MT, o capitão reformado Jair Bolsonaro (PSL) recebeu apenas 108 dos 8.506 votos válidos para presidente registrados em áreas indígenas do estado.

Ficou em quinto lugar, atrás de Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT) e Fernando Haddad (PT), que obteve 7.445 votos, o equivalente a 87% dos válidos.

Favorito, segundo o Datafolha, para vencer as eleições no domingo, o candidato já se manifestou contra o reconhecimento de novas terras indígenas no país. "Não terá um centímetro quadrado demarcado", prometeu, em visita a Mato Grosso em 2017.

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Em entrevista recente à TV Bandeirantes, Bolsonaro criticou o que chamou de "indústria da demarcação de terras" e disse que os índios "não querem ser latifundiários". "Índio quer poder arrendar a terra, quer poder fazer negócio (...) Não quer ser usado para políticas", declarou.

De acordo com o presidente da Associação Terra Indígena do Xingu (Atix), Wareaiup Kaiabi, as propostas do candidato causam insegurança mesmo em povos que já possuem áreas demarcadas.

"Tudo o que ele [Bolsonaro] fala sobre os indígenas não está escrito. Não está na lei. Ele fala só o que ele quer fazer. E a gente quer manter nosso território do jeito que está", afirma.

O sentimento é generalizado, afirma Crisanto Rudzo Tseremey'wá, presidente da Fepoimt (Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso). Ele avalia que a perspectiva é a "pior possível" para todas as 43 etnias do estado.

"Estamos vivendo um momento sombrio. Não consigo dormir pensando no que vai ser dos povos indígenas se essas propostas forem implementadas", diz.

Questionado sobre o caso da usina de Belo Monte, erguida no rio Xingu durante governos petistas e alvo de críticas do movimento indígena por ter sido levada adiante sem consulta aos povos atingidos, Tseremey'wá disse não enxergar comparação.

"O governo do PT precisava governar com coalizão e a gente consegue entender. Mas o real perigo está em quem incentiva a discriminação e a violência", afirmou.

Criado há 57 anos, o parque abriga uma população de cerca de 6.000 indígenas de 16 etnias. Antes isolado, seu território de 2,8 milhões de hectares se converteu em uma ilha verde em meio a grandes áreas destinadas à produção de soja e à pecuária extensiva.

Nesta semana, no Posto Leonardo Villas Boas (ponto histórico que serviu de base aos irmãos Leonardo, Cláudio e Orlando Villas Boas durante o processo que levou à criação no parque), representantes das etnias do parque estiveram reunidos para discutir o futuro.

Mais especificamente, o componente indígena do programa REM (REDD for Early Movers, ou Redução das Emissões de Desmatamento e Degradação Florestal para Pioneiros), uma inédita cooperação internacional que prevê investimentos de R$ 178 milhões em estratégias para a redução do desmatamento em Mato Grosso.

A cargo dos governos da Alemanha e do Reino Unido, o financiamento prevê parcelas anuais atreladas ao cumprimento das metas firmadas pelo governo do estado nas conferências do clima realizadas pela ONU na França (2015) e na Alemanha (2017).

Uma guinada brusca nas políticas indigenista e ambiental a partir de 1º de janeiro, porém, poderá inviabilizar este objetivo.

"Se ele incentivar o povo a desmatar, se acabar com as terras indígenas, como vai ficar o clima? Isso vai prejudicar não só os indígenas, mas principalmente os não-indígenas", alertou Tuiaraiup Kaiabi, liderança da etnia cauaiuetê.

O momento, segundo Tseremey'wá, exige cada vez mais o fortalecimento das entidades representativas e a articulação entre os povos.

"Nós sempre sobrevivemos. Desde as caravelas até os projetos que pretendiam nos integrar à sociedade nacional. Se resistimos até hoje, estamos prontos pro que der e vier". Com informações da Folhapress.

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