Jornalista brasileiro é retido e interrogado em quartel na Venezuela

Rodrigo Lopes, da Zero Hora, foi abordado por um homem não identificado quando cobria um ato de apoiadores do ditador Nicolás Maduro

© Reprodução/Facebook

Mundo Zero Hora 28/01/19 POR Folhapress

Um jornalista brasileiro ficou retido em uma unidade militar na Venezuela por duas horas, período em que teve o passaporte e o celular apreendidos, foi interrogado e ameaçado de prisão. Ele já está de volta ao Brasil e em segurança.

PUB

Rodrigo Lopes, do jornal gaúcho Zero Hora, foi abordado por um homem não identificado na sexta-feira (25), quando cobria um ato de apoiadores do ditador Nicolás Maduro próximo ao palácio de Miraflores, sede do governo.

De acordo com seu relato, o homem tomou o celular de suas mãos e, ao ver fotos e vídeos de um comício do líder da oposição Juan Guaidó, onde o repórter havia estado horas antes, levou-o a uma área protegida por barreiras militares.

+ Maduro chefia exercícios militares e indica que quer se manter no poder

No tempo em que ficou no Centro Estratégico de Segurança e Proteção da Pátria, Lopes, 40, foi interrogado sobre a linha editorial do veículo em que trabalha. Por três vezes, teve seu pedido de comunicação com a Embaixada do Brasil negado. Um militar chegou a ameaçar prendê-lo e bater nele, mas ele não sofreu agressão física. Ao ser liberado, recebeu de volta o celular e o passaporte, mas foi ameaçado pelo homem em trajes civis que o escoltava, que tirou fotos de seu rosto. "Agora, o senhor está fichado conosco, conhecemos tua cara e sabemos onde escreves", ouviu, segundo texto publicado pelo jornal gaúcho. "Se te pegarmos novamente, tu vais ser preso e responderá processo segundo as leis venezuelanas."

Lopes conta ainda que os militares reagiram com ironia quando viam sua nacionalidade, afirmando que o governo brasileiro não reconhece Maduro e que a imprensa do país o classifica como ditador.

No último dia 23, o governo Bolsonaro, os EUA, a Colômbia e outros países reconheceram o líder do Legislativo venezuelano, Juan Guaidó, como presidente interino do país. Guaidó fez um juramento presidencial diante da população que participava de um grande ato pedindo a saída de Maduro. A oposição afirma que o líder chavista foi reeleito em um processo ilegítimo e por isso considera o cargo vago.

+ Venezuela: crise já tem 29 mortos e quase 800 presos

Após o episódio envolvendo o jornalista da empresa, o grupo RBS - ao qual pertence o Zero Hora - decidiu, junto com o repórter, retirá-lo de lá, "uma vez que não havia mais condições mínimas de segurança para atuação do profissional depois da detenção", segundo nota.

"Em coberturas internacionais, tomamos esse tipo de decisão em conjunto com o repórter, pois é ele que está em campo e consegue avaliar o risco", disse à reportagem Marta Gleich, diretora de Jornalismo de Rádio e Jornal do Grupo RBS. "Como ele poderia ser preso caso fosse pego uma segunda vez, decidimos que não correríamos esse risco."

Segundo ela, o profissional está bem, "fora a frustração de não poder trabalhar". "Não é de hoje que grupos de mídia independentes são atacados por esse governo. Veículos foram fechados, jornalistas tiveram que se exilar. A imprensa profissional não tem condições de trabalhar na Venezuela. Quem perde com isso é o público, dentro e fora da Venezuela, é o direito à informação", completou.

De acordo com o repórter brasileiro, um jornalista espanhol estava na mesma situação que ele e disse que esse tipo de retenção de profissionais tem acontecido com frequência. 

Lopes foi para a Venezuela produzir conteúdo para o jornal, a emissora de rádio e o site do grupo RBS, e estava em seu primeiro dia de cobertura quando foi retido pelos militares. Vencedor do Prêmio Rei da Espanha de Jornalismo, já fez mais de 30 coberturas internacionais, principalmente em áreas de guerra e catástrofe, como Síria, Iraque, Líbia, Líbano e Haiti.

Em nota, o Grupo RBS afirmou que "reitera sua defesa à liberdade de imprensa e repudia toda e qualquer forma de violência dirigida a jornalistas em atividade profissional".

Em nota, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), a Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner) e a Associação Nacional de Jornais (ANJ) protestaram "com indignação" contra o episódio e afirmaram esperar que as autoridades brasileiras "façam chegar ao governo venezuelano o protesto diante da violência cometida contra um cidadão e profissional do nosso país, em legítimo exercício de sua atividade".

"Trata-se de mais um episódio de ataque ao livre exercício do jornalismo, cometido pelo regime de Nicolás Maduro, que há muito abdicou da fachada de aparente democracia. As associações solidarizam-se com o repórter e o jornal Zero Hora, bem como com todos os jornalistas venezuelanos e estrangeiros, que tentam fazer seu trabalho em meio às ameaças do regime bolivariano", diz a nota. Com informações da Folhapress.

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

fama Iraque Há 5 Horas

Influencer iraquiana é morta a tiros em Bagdá

fama A Grande Conquista 2 Há 6 Horas

Ex-Polegar pega faca durante discussão e é expulso de reality

mundo Posição de Lótus Há 8 Horas

O misterioso caso da múmia escondida em estátua de Buda

politica Arthur Lira Há 7 Horas

Felipe Neto é autuado por injúria em inquérito aberto a pedido de Arthur Lira

fama GISELE-BÜNDCHEN Há 8 Horas

Gisele Bündchen recebe apoio de prefeito após chorar durante abordagem policial nos EUA

lifestyle Signos Há 9 Horas

Quatro signos que nasceram para serem famosos

brasil Santa Catarina Há 8 Horas

Homem morre após ser atacado por quatro pitbulls em quintal de casa em SC

mundo Guangzhou Há 6 Horas

Tornado atinge cidade na China e deixa rastro de destruição; vídeo

economia REINHART-KOSELLECK Há 6 Horas

Quem é o historiador lido por Haddad após bronca de Lula

mundo Inglaterra Há 9 Horas

Menina de 2 anos doa medula e salva vida a irmã com leucemia