Sanções dos EUA devem piorar crise, mas podem tornar Maduro vítima

Os EUA respondem por cerca de 50% da receita total da Venezuela com a exportação de petróleo

© Reuters

Mundo crise política 30/01/19 POR DANIELLE BRANT, para Folhapress

DANIELLE BRANT - As sanções recém-impostas pelos Estados Unidos à petrolífera PDVSA comprometem uma das principais fontes de receita do regime de Nicolás Maduro e devem agravar a crise do país, mas podem ser usadas pelo ditador para responsabilizar Washington pela situação venezuelana, na avaliação de analistas.

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Na segunda (28), o governo americano determinou o bloqueio de US$ 7 bilhões (R$ 26 bilhões) em ativos da PDVSA e estabeleceu que quaisquer pagamentos por petróleo pela estatal venezuelana aos EUA devem ir para uma conta bancária inacessível a Maduro.

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O dinheiro só seria liberado quando o opositor Juan Guaidó, líder da Assembleia Nacional venezuelana que se declarou presidente encarregado, assumisse o poder ou após a realização de novas eleições.

O primeiro impacto direto da medida será sobre a receita obtida pelo regime para se financiar, avalia, em relatório, a casa de análises Capital Economics. Os EUA respondem por cerca de 50% da receita total da Venezuela com a exportação de petróleo, estima.

A conta exclui o petróleo venezuelano embarcado para a China (que serve para pagar empréstimos de Pequim) e para o Caribe (em troca de apoio político em organismos como ONU e OEA), que não incluem troca de dinheiro.

Sem essa fonte de receita, avalia a Capital Economics, a crise econômica vai se aprofundar. "O US$ 1 bilhão por mês de impacto em receita de exportação equivale à conta de importação mensal total da Venezuela", diz o texto.

"Com isso, se tudo continuar igual, a perda das exportações vai exigir uma contração ainda maior das importações. E isso vai aumentar a escassez de produtos e a hiperinflação."

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Mesmo que a Venezuela tente diversificar seus parceiros comerciais, embarcando mais petróleo para outros países, ainda encontraria dificuldade em substituir integralmente as perdas com a receita das exportações para os EUA.

"Com muitos países não mais reconhecendo Maduro como presidente, é improvável que eles minem os esforços das sanções dos EUA aceitando petróleo venezuelano", complementa o texto, que sugere que a Índia pode ser uma exceção.

No entanto, para compensar a perda com a importação americana, a Venezuela teria que triplicar a venda de petróleo para a Índia, de US$ 5 bilhões a US$ 15 bilhões ao ano - e a substituição é algo que pode demorar. Para sobreviver nesse meio tempo e evitar um colapso, Maduro teria que recorrer a empréstimos da China e da Rússia.

Para os EUA, o impacto maior seria sobre as refinarias americanas, que compram petróleo venezuelano. O governo de Donald Trump entrou em contato com elas para estimar o efeito potencial das sanções sobre suas contas, e considera recorrer à reserva de emergência.

Na avaliação da Capital Economics, as sanções devem levar a uma mudança política na Venezuela. Mas outros especialistas não têm essa certeza.

Silvia Pedraza, professora de sociologia da Universidade de Michigan, é uma das que duvida da eficácia das sanções contra Maduro.

"Em Cuba, nunca funcionou. O país só empobreceu e as pessoas se ajustaram a isso ou tentaram sair do país", diz. "Os EUA se comportaram dessa maneira e ajudaram a consolidar o poder cubano."

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Para funcionar, as sanções deveriam ser curtas e incisivas. "Caso contrário, você só piora a situação."

E uma intervenção militar também poderia ter o efeito colateral adverso de fortalecer Maduro, complementa. Trump já disse mais de uma vez que "todas as opções estão sobre a mesa" no caso da Venezuela, o que alguns especialistas entenderam como um indicativo de ação militar.

"Se Trump tentar fazer isso unilateralmente, em vez de ajudar Maduro a sair, pode fortalecê-lo. Maduro recentemente advertiu os EUA, e ele espera uma intervenção para poder culpar os EUA por todos os problemas. Então os EUA não deveriam fazer isso", afirma Pedraza.

É a mesma leitura de David Smilde, professor de relações humanas na Universidade Tulane. "Maduro vai usar isso por muito tempo, a ideia de que os EUA estão por trás da crise venezuelana."

As sanções, nesse sentido, podem ajudar a atrair solidariedade para o regime venezuelano. "A China poderia vir com um resgate para a Venezuela. Ao tentar minar Maduro, os Estados Unidos podem consolidar a popularidade de 20% dele e gerar solidariedade em outros países."

O ditador venezuelano, por sua vez, aproveitaria os holofotes. "Viraria uma batalha entre Venezuela e EUA, em vez de entre Maduro e a população venezuelana", afirma. Smilde considera uma eventual intervenção militar na Venezuela "um grande erro".

"É preocupante e recuaria a uma época diferente na América Latina", completa, em referência às intervenções militares na região apoiadas por Washington no passado. Com informações da Folhapress.

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