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Bolsonaro ignorou quatro notas da Saúde ao defender vitamina D contra Covid

O medicamento não tem eficácia comprovada contra a doença

Bolsonaro ignorou quatro notas da Saúde ao defender vitamina D contra Covid
Notícias ao Minuto Brasil

13:56 - 18/05/21 por Folhapress

Brasil Coronavírus

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente Jair Bolsonaro passou por cima de ao menos quatro notas técnicas do Ministério da Saúde ao fazer a defesa da vitamina D para tratar pacientes e prevenir da Covid-19. O medicamento não tem eficácia comprovada contra a doença.

Em 8 de abril de 2020, o Ministério da Economia publicou medida no Diário Oficial zerando impostos para o medicamento "tendo por objetivo facilitar o combate à pandemia do coronavírus". No mesmo dia, a Saúde publicou nota técnica dizendo justamente o contrário sobre a eficácia do suplemento, com base na análise de estudos científicos.

O Departamento de Gestão da Incorporação de Tecnologias e Inovação do órgão disse que há evidências sobre o uso da vitamina D no contexto de doenças respiratórias, mas que não foi identificado estudo clínico que observou efeitos do nutriente como agente profilático da Covid.

"Não há evidência científica sobre a eficácia da suplementação de vitamina D na prevenção de infecções por Sars-CoV-2 e a associação entre deficiência de vitamina D e o risco de agravamento de infecções por Sars-CoV. Nenhum estudo clínico randomizado ou observacional foi identificado para responder às duas questões", concluíram os técnicos da Saúde.

O órgão disse que ainda era necessária a condução de ensaios clínicos para avaliar a eficácia da suplementação de vitamina D na prevenção de infecções respiratórias pela Covid e o risco de agravamento da infecção por falta dela.

Quatro dias antes da publicação do estudo, Bolsonaro havia anunciado que zeraria impostos pelo governo de vitamina D, hidroxicloroquina e azitromicina, que também não têm efeito contra a Covid.

"Todos usados no tratamento de pacientes portadores da Covid-19", afirmou, nas redes.

A Saúde publicou mais duas notas sobre o tema, em maio e em setembro de 2020. A pasta afirmou que não foram identificadas nos estudos evidências robustas e conclusivas quanto à eficácia do uso da vitamina D na prevenção da infecção, tratamento, redução de hospitalização ou redução da mortalidade por Covid.
"É prudente interpretar com cautela o compilado de evidências atualmente disponíveis na literatura científica."

Os documentos não foram suficientes para Bolsonaro rever sua posição. Em live em dezembro, ele reclamou das medidas de isolamento social como o fechamento de praias.

"Uma forma de blindar a Covid é a vitamina D. Então, você pega sol. E ficam dando ordem, igual a essa do governador de São Paulo, que não tem como ser cumprida", disse.

A crítica foi repetida por ele em 31 de março deste ano.

A Saúde afirma que as concentrações de vitamina D, principalmente obtida a partir da exposição ao sol, no sangue podem ser afetadas pelas estações do ano; e há estudos que apontam para diminuição das concentrações séricas de vitamina D no inverno, quando sobem os casos de gripe.

Porém, nenhuma pesquisa até agora mostrou efeito suficientemente convincente para apoiar o uso de doses mais altas do suplemento para prevenir ou tratar doenças.

O Ministério da Saúde publicou uma nova nota técnica sobre o tema, em março deste ano, dizendo que identificou oito estudos sobre o tema: cinco de baixa qualidade e três de qualidade moderada.

"Corroborando a opinião de agências de saúde internacionais, esta análise representa um corpo de evidência pouco robusto acerca da associação entre os níveis de vitamina D no sangue e a gravidade, risco ou mortalidade da infecção pelo novo coronavírus", disse.

A pasta voltou a afirmar que era prudente aguardar ensaios clínicos randomizados, com maior qualidade e rigor metodológico.

Apesar dos pareceres de seu próprio ministério, Bolsonaro afirmou em março, em conversa com apoiadores, que nunca errou ao longo da pandemia ao defender o ineficaz tratamento precoce e criticar medidas restritivas.

Em abril deste ano, o YouTube removeu, pela primeira vez, um vídeo do canal do presidente no qual o mandatário fala sobre o tratamento ineficaz contra a Covid-19, entre elas a vitamina D.

O Facebook também afirmou que Bolsonaro violou a política do site sobre Covid-19 ao menos 29 vezes, citando o tratamento com vitamina D, mas não removeu conteúdos.

Um estudo que havia mostrado um suposto sucesso da vitamina D tornou-se alvo de críticas e foi retirado do ar neste ano porque não seguiu métodos robustos o suficiente para apontar tais conclusões.

O gerente-médico do Hospital Sírio-Libanês, Christian Morinaga, disse ao jornal Folha de S.Paulo em março que pacientes têm tomado doses cavalares de vitamina D, o que pode elevar os níveis de cálcio no sangue e causar danos renais.

Já a farmacêutica Aspen citou a vitamina D entre medicamentos e substâncias cujas vendas aumentaram em 2020 em função da pandemia.

Questionado, o Ministério da Saúde afirmou apenas que "orienta e recomenda que, aos primeiros sinais da Covid-19, os pacientes procurem uma UBS para atendimento".

"Em relação ao uso de medicamentos, cabe ao profissional de saúde receitar o tratamento adequado a cada paciente", afirmou a pasta.

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