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PM diz que arquiteto se suicidou, mas amigos pedem investigação de homicídio

Uma possível testemunha, um ciclista que passava pelo local, viu a queda e ligou para a PM, não teve seus dados anotados pelos agentes para que pudesse prestar depoimento

PM diz que arquiteto se suicidou, mas amigos pedem investigação de homicídio
Notícias ao Minuto Brasil

07:07 - 02/06/21 por Folhapress

Justiça MORTE-SP

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O corpo do arquiteto e artista Luiz Felipe Bernardes dos Santos, conhecido como Macalé, de 36 anos, foi encontrado às 3h20 da madrugada do último domingo (30), no vão do Viaduto Sumaré, na capital paulista. Para a Polícia Militar, a causa da morte seria suicídio. Mas a hipótese é rechaçada por amigos e pela sua companheira, que pedem a investigação do caso como homicídio.

Uma possível testemunha, um ciclista que passava pelo local, viu a queda e ligou para a PM, não teve seus dados anotados pelos agentes para que pudesse prestar depoimento.

Patrícia Brasil, que havia se casado informalmente com Macalé dois dias antes da morte, afirma que ele estava em um bom momento e não tinha motivo para se matar.

"É inconcebível [o suicídio]. A sua alegria de viver era contagiante. Naquela noite, trocamos mensagens felizes, programamos nosso domingo. Ele me disse que estava voltando para casa e que estava bem. Em nenhum momento pareceu triste, como se fosse fazer algo contra ele mesmo", conta.

Nas redes sociais, amigos publicam hashtags como #JustiçaPorMacalé, #FelipeMacaléPresente e #QuemMatouFelipeMacalé. Nas mensagens, o poeta negro, de dreads no cabelo, boêmio e botafoguense, é descrito como "sempre de bom humor", "alegre, engajado e feliz", e "uma cabeça preta pensante e influenciadora". Dono de "um sorriso que contagiava todo o ambiente", "uma inteligência fina" e um "abraço irreversível".

A reportagem não conseguiu contato com a família.

No sábado (29), Macalé iria para a casa da companheira, mas encontrou a região da av. Paulista tumultuada e com o trânsito interrompido por causa da manifestação contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Decidiu, então, encontrar os amigos em um bar na região da Consolação, por volta das 19h30. Ele não esteve no ato.

O jovem ficou no boteco até 1h35 da madrugada, quando seguiu em um carro chamado via aplicativo para sua casa, na Água Branca (zona oeste). Os dados da corrida mostram que Macalé chegou em sua residência 1h53, de acordo com Alexandre Santos, primo e vizinho do arquiteto, que está com seu celular.

O que intriga a companheira e os amigos é o que pode ter acontecido após a chegada de Macalé em sua casa. De acordo com eles, a mochila que o homem usava naquela madrugada estava no seu quarto, ao lado de sua máscara e uma garrafa de água, o que confirmaria sua ida até lá.

O local, no entanto, havia sido revirado e itens como um computador, um diário, um anel de formatura e as chaves da casa da companheira sumiram. A maçaneta da porta também estava estragada, segundo Patrícia Brasil. Quando o corpo de Macalé foi encontrado, ele estava vestindo a mesma blusa vermelha que usara no bar.

A companheira conta que foi dormir por volta de 1h11 da madrugada, horário de sua última troca de mensagens com Macalé. Às 3h57, a Polícia Militar tentou contato com ela, para informar a morte do arquiteto, mas a ligação não foi atendida.

"Eu mandei uma mensagem para o Macalé logo cedo, para falar do livro que estou lendo, que ele me deu. Mas não respondia. O primo dele, Alexandre, foi quem me ligou por volta de 12h, dizendo que o Macalé não tinha voltado para casa. Aí, retornei para o número que me ligou de madrugada, o telefone era da polícia, e me informaram da morte", diz Brasil.

Ela questiona por que a PM não considerou outras hipóteses possíveis para a morte e pede que o caso seja investigado como homicídio. "Alguma coisa aconteceu na casa dele, mas polícia não se importou com esses indícios. Como alegam suicídio e desconsideram a casa toda revirada?"

No Boletim de Ocorrência, os policiais militares informam que foram acionados para atender uma ocorrência de suicídio. "No local, constataram que provavelmente a vítima precipitou-se do Viaduto Sumaré, caindo na av. Paulo VI, e vindo a óbito. O solicitante [da viatura] era um ciclista, cujo dados não foram anotados, que passava na avenida no momento da queda", diz o documento policial.

O caso é investigado como suicídio por meio de inquérito policial instaurado pelo 23º DP (Perdizes), mas, se a Polícia Civil encontrar evidências de que Malacé não se matou, mas foi morto ou induzido a se matar, a natureza da ocorrência pode mudar, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, sob gestão de João Doria (PSDB).

"Todo trabalho de polícia judiciária e técnico científica é realizado para esclarecer as circunstâncias dos fatos. Os familiares estiveram na unidade e foram ouvidos pela autoridade policial responsável pela investigação", disse a pasta, em nota.

Há várias questões a serem apuradas pela investigação, como, por exemplo, se Macalé chegou sozinho em casa e se saiu de lá com vida; para onde ele estava indo após às 2h, quando teria saído novamente de casa; se ele se jogou ou fora empurrado do alto do viaduto, de cerca de 30 metros; por que o ciclista, testemunha da queda, não foi ouvido pela polícia; se as câmeras na região da residência do arquiteto e do viaduto mostram o que aconteceu; e o que diz a autópsia sobre a causa da morte.

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