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Roacutan vira febre nas redes sociais com a promessa de afinar o nariz

Vídeos sobre o assunto viralizaram no TikTok

Roacutan vira febre nas redes sociais com a promessa de afinar o nariz
Notícias ao Minuto Brasil

18:15 - 30/06/21 por Folhapress

Lifestyle medicamentos

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Roacutan (nome comercial da substância isotretinoína), medicamento indicado para casos graves de acne com riscos de efeitos colaterais graves, afina o nariz? É o que dizem publicações em redes sociais, como o TikTok –ali, vídeos de adolescentes mostram um suposto antes e depois do uso do remédio com esse efeito.

"Isso não existe", já responde Edileia Bagatin, professora-associada do departamento de dermatologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e coordenadora do departamento de cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

Não é só no Brasil que esses vídeos recebem dezenas de milhares de likes. Esse tipo de conteúdo também faz sucesso nos EUA, com o nome comercial Accutane. A ideia de que a droga poderia afinar o nariz é popular o suficiente para aparecer como uma das predições do Google ao se digitar "Roacutan" no campo de pesquisa do buscador.

Mas como surgiu a associação entre a droga e um nariz mais fino?

A isotretinoína tem ação sobre as glândulas sebáceas. O nariz é a região do corpo com mais glândulas, diz Bagatin, e, em pessoas com a pele com oleosidade muito acima do normal, essas estruturas aumentam de tamanho, o que leva o nariz a ficar mais inchado.

"Quando a pessoa toma a droga, essas glândulas ficam menores", afirma a pesquisadora. Daí a impressão de que a droga "afina" o nariz, mas na verdade trata-se de desinchaço. "Pessoas que têm o nariz 'normal' [ou seja, sem oleosidade excessiva e inchaço por isso] podem morrer de tomar esse remédio que não vai acontecer nada."

A especialista ressalta que o remédio é destinado apenas para o tratamento da acne, e sua compra necessita de receituário médico específico, além de um regramento de registro médico. Ela alerta para o risco de uso do medicamento para condições que não constam na bula.

Efeitos colaterais Além da indicação correta e de orientações específicas para o uso do medicamento, são necessários o acompanhamento próximo do paciente e exames rotineiros enquanto a droga for usada, considerando o risco, apesar de raro, de alterações na função do fígado. Também pode ocorrer o aumento de triglicérides e colesterol, o que reforça a importância da proximidade com o médico.

Ressecamento dos lábios, dos olhos e da pele são efeitos menos graves e comuns durante o uso da isotretinoína. Também não graves, mas chatas, as dores de cabeça são comuns.

O principal risco do uso do medicamento, porém, é relacionado a mulheres grávidas. Se a isotretinoína for usada no primeiro trimestre de gravidez, a chance de o bebê ter problemas de formação graves, como neurológicos e cardíacos, chega a 30%, diz Bagatin.

"Eu não duvido que alguém vá em um médico mais picareta, desses que querem agradar o paciente para não perdê-lo, e que ele receite o remédio para afinar o nariz. É antiético você usar uma droga teratogênica [que pode causar alterações em fetos] para uma indicação que não tem absolutamente nenhum sentido."

Para evitar problemas relacionados a isso, mulheres em idade fértil devem apresentar testes de gravidez negativos antes do início do tratamento, durante e cinco semanas depois de finalizar o uso da droga. Também é necessário o uso de métodos contraceptivos no período. Da mesma forma, não é recomendado o uso da droga durante a lactação.

Depressão Um dos efeitos colaterais temidos por quem quer tomar o Roacutan é a depressão, segundo é possível em relatos em redes sociais. A condição consta na bula da droga, mas a mesma aponta que não há relação causal estabelecida.

Em 2019 uma ampla pesquisa sobre efeitos psiquiátricos adversos da droga foi publicada na revista Jama Dermatology. O estudo analisou dados da FDA (a agência de regulação de drogas e alimentos dos EUA) de 17.829 eventos psiquiátricos, no intervalo de tempo de janeiro de 1997 até dezembro de 2017, em pacientes que tomaram isotretinoína.

Segundo o estudo, apesar de problemas depressivos e questões suicidas serem frequentemente reportados por quem usa a isotretinoína, essa informação deve ser lida com cuidado por causa das altas taxas dessas condições em pacientes com acne. Além disso, de acordo com o trabalho, os níveis de suicídio nos dados analisados, ou seja, de pessoas sob a medicação, eram inferiores aos encontrados na população geral dos EUA.

De toda forma, a documentação desses efeitos deve ser levada em conta junto ao elevado risco de ideação suicida em pessoas com problema de pele.

"Embora nenhuma ligação causal tenha sido estabelecida entre a isotretinoína e os eventos adversos psiquiátricos, é importante reconhecer que existem dados que sugerem que os pacientes que usam essa droga podem ser vulneráveis a uma série de condições psiquiátricas", afirmam os autores do estudo.

Eficácia Curiosamente, apesar de a isotretinoína ser considerada efetiva e amplamente usada para tratar acne no mundo, pesquisadores da Cochrane, rede que analisa a efetividade de tratamentos a partir de uma revisão de estudos sobre a droga, não encontraram evidências claras de melhora de acne grave.

Um dos pontos que dificultou a análise foi a baixa qualidade dos dados, principalmente em estudos mais antigos –a droga já está há algumas décadas no mercado.

Outro ponto que dificultou a análise foi a heterogeneidade de regimes de uso e doses, o que impossibilitou uma investigação mais aprofundada. Por fim, vieses nas pesquisas também acabaram diminuindo a qualidade dos dados.

Bagatin foi uma das pesquisadoras responsáveis pela revisão. "A grande maioria dos estudos não tem boa metodologia. Quando são juntados, não conseguem mostrar a evidência", diz.

De toda forma, ela diz que um dos pontos positivos observados na revisão foi a relativa segurança no uso do medicamento, com somente um evento adverso grave reportados entre as pesquisas observadas.

A pesquisadora da Unifesp afirma que já há outro revisão de evidências, também pela Cochrane, em desenvolvimento.

A reportagem procurou o TikTok, mas ainda não obteve retorno.

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