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Caso dos meninos de Belford Roxo não chegou ao fim, diz Defensoria

Caso dos meninos de Belford Roxo não chegou ao fim, diz Defensoria

Caso dos meninos de Belford Roxo não chegou ao fim, diz Defensoria
Notícias ao Minuto Brasil

11:18 - 11/09/21 por Folhapress

Justiça Rio de Janeiro

ANA LUIZA ALBUQUERQUE
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Oito meses após o desaparecimento de três meninos em Belford Roxo (RJ), a Polícia Civil do Rio de Janeiro concluiu que traficantes de drogas mataram as crianças em represália ao roubo de um passarinho. Para a Defensoria Pública do estado, porém, o caso ainda segue aberto porque as provas apresentadas até o momento não são suficientes para corroborar essa versão oficial.


"A Defensoria Pública recebe com cautela as informações veiculadas ontem sobre o inquérito dos três meninos desaparecidos de Belford Roxo", afirmou em vídeo a defensora Gislaine Kepe, que acompanha as mães das vítimas. "Enquanto não houver consistência nos indícios colhidos pela polícia, enquanto não houver a identificação de culpados, sejam eles por assassinato, ou por desaparecimento, a Defensoria e as famílias não entendem que esse caso chegou ao fim", disse ela.


Lucas Matheus da Silva, 9, Alexandre da Silva, 11, e Fernando Henrique Soares, 12, saíram de casa em 27 de dezembro do ano passado para brincar em um campo de futebol próximo, no morro do Castelar, e nunca mais voltaram.


Nesta quinta-feira (9), o secretário de Polícia Civil, Allan Turnowski, afirmou que o tráfico de drogas da comunidade foi responsável pelo assassinato dos meninos, com autorização da cúpula do Comando Vermelho, de dentro de um presídio. Segundo ele, a punição foi liberada, mas as lideranças da facção não sabiam que os autores do furto dos passarinhos eram crianças.


Conforme as investigações avançaram, disse Turnowski, o autor do crime foi chamado ao Complexo da Penha, onde foi assassinado por lideranças do Comando, como queima de arquivo.


Questionado pela TV Globo sobre as provas obtidas pela polícia, o secretário afirmou que no "crime de mando você busca provas que nunca vão ser um contrato". "O que a gente tem é que quando [o traficante] pediu autorização para as chefias que estavam presas, não foi falado que eram crianças. Foi autorizada a punição e, descoberto que era criança, para não atrapalhar eventuais progressões de regime dos chefes, isso foi abafado."


Segundo Turnowski, a conclusão da polícia está baseada em provas indiciárias (ou seja, indícios que apontam para determinada direção), testemunhas importantes que deram detalhes sobre o que ocorreu no dia do crime, e a notícia da morte do principal envolvido.


De acordo com a TV Globo, o criminoso que matou os meninos, e foi assassinado depois, é Willer da Silva, o Estala, gerente do tráfico no Castelar. Sua morte teria sido ordenada por Wilton Quintanilha, o Abelha, liderança do Comando Vermelho que, segundo a Polícia Federal, foi solto no fim de julho em um esquema envolvendo o então secretário de Administração Penitenciária, Raphael Montenegro.


Reportagem do jornal O Dia revelou uma troca de mensagens entre Edgar Alves de Andrade, o Doca, chefe do Complexo da Penha, e um integrante do tráfico no Castelar. Nela, Doca afirma que matou Estala por conta de uma dívida de R$ 60 mil. A polícia diz acreditar que a mensagem tinha o objetivo de despistar e culpar a milícia da região pela morte das crianças.


Em entrevista ao site Ponte Jornalismo, em agosto, as mães dos meninos mostraram descrédito em relação à hipótese de que traficantes teriam sido responsáveis pelo crime. Segundo o veículo, elas suspeitavam da milícia que atua na região e afirmaram que seus filhos não roubariam um passarinho.


A Polícia Civil foi muito criticada nesse caso pela demora na conclusão do inquérito –a força-tarefa para apurar os fatos foi criada somente em abril de 2021, quatro meses após o crime. Além disso, houve ao menos uma falha grave nas investigações.


Em março, o Ministério Público do Rio de Janeiro identificou os meninos em imagens de uma câmera de segurança, às 13h39, em uma rua de um bairro vizinho. A Polícia Civil já havia apreendido o material, mas não havia encontrado as crianças nas filmagens. À época, a corporação disse que o fato não trouxe prejuízos para a investigação.


Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, em abril, a mãe do menino Fernando, Tatiana Ribeiro, afirmou que houve descaso nas buscas pelas crianças. "Naquele dia em que fomos na delegacia, se tivessem puxado as câmeras, ido atrás das crianças, tenho certeza de que teríamos tido uma resposta", disse. As mães ouviram de policiais que só poderiam registrar o sumiço 24 horas depois, sendo que o Estatuto da Criança e do Adolescente prevê buscas imediatas.


"Eles demoraram e ainda está demorando, porque o caso do Henry [Borel, de 4 anos, morto em março] em menos de um mês teve resultado. Me sinto humilhada porque não tenho dinheiro, meu filho não é branco. Tenho certeza que se eu morasse em Copacabana, Leblon, essas crianças estariam aqui", criticou Tatiana à época.
A conclusão apresentada pela Polícia Civil nesta quinta-feira ainda deixou em aberto uma série de dúvidas. Segundo o secretário, o inquérito ainda será finalizado e o delegado responsável pelas investigações apresentará detalhes técnicos.
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PERGUNTAS AINDA NÃO RESPONDIDAS SOBRE O CASO
1) Quais são exatamente as provas que corroboram a conclusão da polícia? Há alguma prova forte? O secretário de Polícia Civil, Allan Turnowski, afirmou que há provas indiciárias (indícios que apontam para determinada direção) e depoimentos de testemunhas importantes, mas não deu mais detalhes sobre o material probatório recolhido pelas autoridades.2) Onde estão os corpos dos meninos? Eles ainda não foram encontrados. No final de julho, a polícia encontrou fragmentos de ossos perto de uma ponte em Belford Roxo, mas uma perícia mostrou, poucos dias depois, que a ossada era de origem animal.3) Alguém viu as crianças com a gaiola do passarinho, que a polícia afirma ter sido furtada? A polícia afirma que os meninos foram mortos pelo furto de uma gaiola de passarinho, mas ainda não ficou claro quais e quantas testemunhas viram as crianças com o animal, ou se há imagens que comprovem a alegação.4) A que horas e como os meninos foram capturados e mortos? A polícia ainda não deu detalhes sobre o que ocorreu exatamente no dia do crime.5) Por que os traficantes arriscariam gerar um grande problema para a facção criminosa, com atenção policial e midiática, por uma questão aparentemente pequena, como o furto de um passarinho?​ Essa é uma questão levantada com frequência nas redes sociais. Em entrevista ao jornal O Dia, o delegado Uriel Alcântara, responsável pela investigação, afirmou que os passarinhos de canto são caros e valem, tranquilamente, "mil, dois, três, cinco mil reais". Oficialmente, porém, ainda não há nenhuma resposta para essa pergunta.6) O responsável pelas mortes foi mesmo Willer da Silva, o Estala, gerente do tráfico de drogas no Castelar? Apurações da TV Globo e do jornal O Dia apontam que essa é a conclusão da polícia, mas as autoridades ainda não confirmaram a informação oficialmente.7) Ele agiu sozinho ao matar as crianças? Alguém ajudou a ocultar os corpos? Ainda não foi esclarecido se mais alguém participou diretamente na morte dos meninos, nem se houve auxílio na ocultação dos corpos.8) O secretário de Polícia Civil disse que o criminoso foi morto pelo tráfico numa "queima de arquivo", no Complexo da Penha. Quem o matou? Ainda não ficou claro quem apertou o gatilho contra o criminoso que teria matado as crianças.9) A ordem para matar o autor dos assassinatos dos meninos partiu mesmo de Wilton Quintanilha, o Abelha?​ Apurações da TV Globo e do jornal O Dia apontam que essa é a conclusão da polícia, mas as autoridades ainda não confirmaram a informação oficialmente.10) Onde está o traficante José Carlos dos Prazeres Silva, o Piranha, investigado no caso e denunciado pela tortura de um homem acusado injustamente pela morte dos meninos? O traficante foi um dos denunciadossob suspeita de ter ordenado a tortura de um homem inocente e expulsado sua família da comunidade do Castelar. O grupo o teria apontado falsamente como autor das mortes dos meninos para prejudicar a apuração. Piranha segue foragido.11) Era falsa a informação do homem que disse à Polícia Militar que seu irmão havia participado da ocultação dos corpos das crianças? O que aconteceu com ele? Em julho, um homem se apresentou à Polícia Militar e acusou o irmão de ter participado da ocultação dos corpos. Ambos possuem passagem na polícia por tráfico de drogas e foram ouvidos pela Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense. A denúncia levou ao encontro de uma ossada que não pertencia às vítimas, mas não ficou claro se as informações prestadas eram inteiramente falsas.

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