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Há preconceito com a administração privada, diz gestor do Ibirapuera

Com 1,4 milhão de m², numa região central da maior cidade do país, ele é a joia da coroa entre os seis parques municipais entregues por 35 anos à Construcap, vencedora da concorrência em 2019

Há preconceito com a administração privada, diz gestor do Ibirapuera
Notícias ao Minuto Brasil

11:26 - 26/09/21 por Folhapress

Economia ROBERTO-CAPOBIANCO

FRANCESCA ANGIOLILLO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em 20 de outubro, completa-se o primeiro ano da gestão privada do parque Ibirapuera.


Com 1,4 milhão de m², numa região central da maior cidade do país, ele é a joia da coroa entre os seis parques municipais entregues por 35 anos à Construcap, vencedora da concorrência em 2019.
"É o Robin Hood dos parques", na definição de Roberto Capobianco, presidente da Construcap e da Urbia, sociedade criada para a gestão do lote. Embora 85% da receita que o parque gera sejam usados nele mesmo, os 15% restantes mantêm as outras cinco unidades, a maior das quais tem 50 mil m².


A Construcap faz parte do grupo homônimo, que atua em áreas diversas, como gestão esportiva, com o Mineirão, e hospitalar, pela Inova Saúde. Foi listada no processo da na Lava Jato, o que rendeu a condenação de Capobianco, por Sergio Moro, a 12 anos de prisão -ele foi absolvido por unanimidade na segunda instância.


A administração de parques é um braço em expansão. No último dia 14, o grupo amealhou duas áreas concedidas pelo estado de São Paulo, o Horto Florestal e o parque da Cantareira, ambos na zona norte da capital. E, diz Capobianco, se prepara para a próxima concessão, dos parques Villa-Lobos e Água Branca, na zona oeste.


A experiência com o Ibirapuera não tem sido sem percalços. "Tem um preconceito, as pessoas, ao verem empresa gerindo bem público, de achar que o objetivo é gerar lucro e que esse lucro é em detrimento do usuário", diz Capobianco à Folha de S.Paulo, em entrevista concedida na última quinta (23), por videoconferência.


Um dos maiores ativos do parque é também um calcanhar de aquiles, o complexo cultural de edifícios concebido por Oscar Niemeyer. O parque e os prédios são tombados, com compreensões diferentes, pelas três esferas do patrimônio, e é obrigação contratual da Urbia zelar pelos edifícios.


Segundo Capobianco, o plano diretor do parque, criado para reger a concessão, traça regras que entram em conflito com determinações do tombamento. Uma cartilha está sendo criada para evitar a repetição de entraves.


A receita principal do parque depende da exploração dos espaços culturais, hoje limitada pelas restrições impostas devido à pandemia.P. - Do primeiro conjunto de parques concedido à Urbia, o Ibirapuera é a joia da coroa. Só ele justifica o que custa manter os demais parques?
ROBERTO CAPOBIANCO - Ele é o que gera a receita necessária para atuar em todos os outros. Ele é o "Robin Hood" dos parques.


Nos parques periféricos, tem uma dificuldade maior de captação de recursos, por serem muito menos frequentados e representarem despesa sem uma receita que justifique o custo que geram. Prevemos investir R$ 200 milhões em 35 anos, cerca de R$ 140 milhões nos primeiros cinco, em infraestrutura e equipamentos de apoio aos usuários. Da receita gerada, pelo menos 85% fica no Ibirapuera. Não que os outros parques não sejam importantes. A gente está criando uma rede, e os parques periféricos têm de se comunicar com o Ibirapuera, trocando arte, cultura, lazer.


Do ponto de vista do frequentador, um parque não deve objetivar lucro. Mas toda empresa tem esse fim. O lucro é resultado de um trabalho, não é o objetivo. O usuário do parque é o nosso patrimônio. O parque não é privatizado. é público. Tudo o que a gente faz é para que o usuário se sinta bem atendido.


Os recursos são necessários para fazer esses investimentos que o poder público nunca teve como fazer, através de parcerias com empresas. Mas, além disso, temos equipamentos importantíssimos, o Auditório, a Oca, o Planetário, que são geradores de receita.
As pessoas, ao verem empresa gerindo bem público, têm um preconceito de achar que o objetivo é gerar lucro e que esse lucro é em detrimento do usuário. É uma empresa privada num país capitalista. Isso não significa que a empresa não tenha princípios.P. - Existe um sistema que mede mês a mês a satisfação do usuário com o parque. Que conclusões já podem ser tiradas?


RC - O que a gente percebeu em todos os parques é uma melhora significativa da percepção do usuário.


Uma das notas que cresceram bastante foi a do manejo das áreas verdes. Segurança teve uma melhora significativa. No Ibirapuera, a nota tem crescido em todos os itens. Alimentação é o pior, está entre 60% e 70% [de satisfação do usuário]. Nossa meta é ter todas acima de 9.


Esse controle de satisfação não esvazia a ação dos conselhos gestores? Há alguns anos os conselhos são consultivos, não deliberativos. Eles atuavam junto à prefeitura, eram o instrumento que poderia trazer as demandas. Temos hoje um contrato com uma série de obrigações e um plano diretor. Isso não impede que o conselho participe.


No Ibirapuera, o conselho sempre se posicionou contra a concessão. Nunca deixamos de prestar as informações que eles solicitam. Tem informações que não cabe a eles avaliar, financeiras, econômicas.
O posicionamento é ideológico, não objetivo. Apesar de tudo o que a gente tem feito, a gente continua sendo avaliado pelo conselho como uma empresa que traz danos à sociedade.

P. - O que se espera desse conselho, então?
RC - Um conselho gestor tem de entender as obrigações e os direitos da concessão. A gente tem vários canais de comunicação direta com o usuário, que a prefeitura nunca teve, disque-denúncia, redes sociais. E o conselho tem muito menos acesso ao usuário do que nós.
O conselho do Ibirapuera representa uma pequena parcela da população, os moradores daquela região, que não frequentam tanto o parque. Tem uma importância relativa.

P. - A presença de empresas no Ibirapuera é bastante visível. Como fazer para que o parque não fique parecendo um shopping a céu aberto, com tantas marcas, como a do iFood?
RC - A praça de alimentação do iFood é provisória. Ela estaria na marquise, onde é o restaurante The Green, num espaço único, com alimentação a preços mais baixos. Mas não temos a marquise até hoje. Aquela coisa vermelha foi uma grande discussão. Mas o fato é que eles estão trazendo uma alimentação que hoje faz falta. Nós nunca vamos conseguir o melhor dos mundos, não ter nada de marcas no parque e viabilizar a concessão.

P. - Nessa praça foi instalada uma roda-gigante, questionada pelo órgão municipal de patrimônio, pois a colocação não foi solicitada com 30 dias de antecedência. Problema semelhante já havia ocorrido com uma ação temporária da marca O Boticário. Qual é a dificuldade para cumprir esses prazos?
RC - O contrato de concessão estabelece que, nas áreas de eventos determinadas no plano diretor, não se necessita de autorização, só de notificação. Temos o direito de montar a roda-gigante naquele local. Antes quem fazia a solicitação e o aviso aos órgãos de patrimônio eram as marcas. Em função de todos esses fatos, vamos capitanear esse processo.
Ali sempre foi uma área de eventos. Nós queremos tornar esses prédios [culturais] utilizáveis, é nossa obrigação manter os bens tombados.
Unindo esses bens está a marquise, hoje toda interditada. O sr. mesmo disse que ela faz falta. A quantas anda o restauro? É fundamental porque, fechada, ela desconecta. A marquise era desde o início uma obrigação da prefeitura. Para viabilizar a concessão, ela tirou a obra, que é cara, do processo.
A condição inicial era que a gente recebesse a marquise reformada. A prefeitura não fez e a gente entende o porquê, ela não tem recurso para colocar no parque. A gente quer dar um uso mais nobre para a marquise, não pode ser apenas de A ou de B. Estamos buscando alternativas para gente que anda de patins, com skatistas.
A prefeitura lançou um processo de licitação. É um processo longo. Para nós, não é bom. A gente não vai conseguir fazer uso dela tão cedo. Isso traz prejuízos para a concessionária.

P. - Em 20 de outubro, completa-se um ano da gestão da Urbia no Ibirapuera. A visitação e a receita já chegaram perto das expectativas?
RC - Não. Os equipamentos estão sendo usados muito aquém da capacidade deles. Pode imaginar o impacto que isso tem em termos de receita.P. - Quais são as novidades que se podem esperar no segundo ano de gestão?
RC - É um momento muito complexo. Apresentamos em março um plano de intervenção. É muito grande. Dos planos dos parques menores, apenas um foi aprovado, o do Lajeado.
Estamos aguardando. Houve uma análise preliminar da prefeitura, que mandou para os órgãos de patrimônio e, em face da complexidade, do volume de intervenções, criamos uma lista de prioridades. Entre elas, a sinalização do parque. Estamos também discutindo um hub esportivo onde era a administração, um prédio que estava destruído porque caiu uma árvore. Vamos fazer uma instalação para dar apoio a várias atividades que ocorrem no parque.
É essencial a recuperação do patrimônio. Hoje ele prejudica a imagem do parque, mundialmente, eu diria, e prejudica a concessionária.

P. - O que está sendo feito nesse sentido?
RC - Apresentamos em outubro passado uma solicitação de lavagem e pintura externa da Oca. Em agosto, não tinha nenhuma resposta. Entramos lavando a cúpula. A obra foi embargada numa sexta. Na segunda, o Iphan deu o parecer negando nosso pedido, feito em outubro. Ato contínuo, abriram um canal de comunicação com a gente e falaram que somos, entre aspas, a salvação desse patrimônio.
Nós fizemos uma ação para provocar uma reação do patrimônio. Eles precisam da gente e nós precisamos deles. Estamos num trabalho conjunto com o Iphan, principalmente, para não deixar esse patrimônio se deteriorar mais.

P. - O governo acaba de conceder à Urbia a gestão das áreas de visitação do Horto e da Cantareira. Qual é a importância desses parques para a Urbia?
RC - O parque da Cantareira e o Horto têm ativos maravilhosos, como o Museu Florestal. Dos 2 milhões de usuários anuais desses dois ambientes, 1,8 milhão vão ao Horto. Queremos mostrar a São Paulo o que é a Cantareira, o que é a Pedra Grande, a área do Engordador. O investimento lá é três vezes menor do que nesses seis parques [da primeira concessão], mas é fundamental para nós. É um exemplo da importância da natureza dentro da cidade.

RAIO-X
Roberto Capobianco, 66 Presidente da Construcap e da Urbia. Nasceu em São Paulo, em 1955 e é engenheiro civil com MBA em finanças

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