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Operação policial na Vila Cruzeiro já é a 3ª mais letal da história recente do RJ

De acordo com os dados, a ação só perde para o massacre do Jacarezinho em 2021, com 28 mortos, e para a chacina da Vila Operária em Duque de Caxias, em 1998, com 23 mortos.

Operação policial na Vila Cruzeiro já é a 3ª mais letal da história recente do RJ
Notícias ao Minuto Brasil

06:20 - 25/05/22 por Folhapress

Justiça VIOLÊNCIA-RIO

(FOLHAPRESS) - A operação policial que deixou ao menos 22 mortos nesta terça (24) na Vila Cruzeiro, na zona norte carioca, já é a terceira mais letal da história recente da região metropolitana do Rio de Janeiro, segundo levantamento do Geni-UFF (Grupo de Estudos de Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense).

O grupo de pesquisadores reúne informações sobre ações policiais realizadas desde 1989. De acordo com os dados, a ação só perde para o massacre do Jacarezinho em 2021, com 28 mortos, e para a chacina da Vila Operária em Duque de Caxias, em 1998, com 23 mortos.

Segundo a Polícia Militar, a ação desta terça visava prender em flagrante mais de 50 traficantes de vários estados que sairiam em comboio à favela da Rocinha, na zona sul da cidade. O plano, porém, foi frustrado quando uma das equipes à paisana foi descoberta e atacada na entrada da comunidade, por volta das 4h.

O que se seguiu foram horas de confrontos, que acabaram subindo pela comunidade até chegar a uma área de mata que liga a Vila Cruzeiro ao Complexo do Alemão, onde a maioria foi baleada. Entre os mortos também está Gabrielle Ferreira da Cunha, 41, alvejada dentro de casa longe dali.

O Geni-UFF contabilizou, entre 2007 e 2021, 593 ocorrências policiais na região metropolitana do Rio com três ou mais mortos, que o grupo classifica como "chacina". Elas somaram 2.374 óbitos de civis e 19 de agentes do Estado. Só neste ano, foram 16 casos, com 82 mortos.

O levantamento não inclui as chacinas de Vigário Geral (com 21 mortos em 1993) e da Baixada Fluminense (com 29 mortos em 2005), provocadas por policiais que integravam grupos de extermínio, não em operações oficiais como a desta terça.

OCORRÊNCIAS COM MAIS MORTES NO ESTADO DO RJ

1 - 28 mortos - Jacarezinho (maio de 2021)
2 - 23 mortos - Vila Operária, Duque de Caxias (janeiro de 1998)
3 - 22 mortos - Vila Cruzeiro (maio de 2022)
4 - 19 mortos - Complexo do Alemão (junho de 2007)
5 - 15 mortos - Senador Camará (janeiro de 2003)
6 - 15 mortos - Fallet/Fogueteiro (fevereiro de 2019)
7 - 14 mortos - Complexo do Alemão (julho de 1994)
8 - 13 mortos - Complexo do Alemão (maio de 1995)
9 - 13 mortos - Morro do Vidigal (julho de 2006)
10 - 13 mortos - Catumbi (abril de 2007)
11 - 12 mortos - Complexo do Alemão (agosto de 2004)
12 - 12 mortos - Vila Isabel (outubro de 2009)
13 - 12 mortos - Barreto, Niterói (setembro de 2010)
14 - 12 mortos - Complexo do Alemão (maio de 2020)
Fonte: Geni-UFF

"Reiteramos que esta política de segurança pública centrada em operações policiais em favelas, além de implicar em altíssimos custos para a sociedade, há décadas vem se demonstrando ineficiente no controle do crime, incapaz de proporcionar a redução das ocorrências criminais", argumenta em nota o grupo.

No início deste mês, quando o massacre do Jacarezinho completou um ano, os pesquisadores divulgaram um relatório mostrando que a zona norte da capital fluminense -onde fica a Vila Cruzeiro, que faz parte do Complexo da Penha- é recordista no número de operações muito letais.

Segundo a pesquisa, ao todo foram realizadas 17.929 incursões entre 2007 e 2021 em favelas da região metropolitana do Rio, das quais 593 resultaram em massacres com 2.374 vítimas no total. Mais da metade deles (222) se concentrou na zona norte.

O bairro com a maior quantidade de óbitos decorrentes dessas ações foi justamente o Jacarezinho (112 vítimas em 19 massacres), seguido por Costa Barros (97 mortes) e Complexo da Maré (92 mortes).

Para chegar a esse ranking, o grupo cruzou sua base de dados, formada por notícias confirmadas por três ou mais fontes, com a do Instituto de Segurança Pública, autarquia do governo estadual. Assim, foi possível identificar discrepâncias e complementar informações.

As polícias costumam responsabilizar a facção criminosa Comando Vermelho pelo alto número de mortes em incursões em favelas dessa região.

"Essa facção é responsável por 80% dos confrontos que acontecem no estado do RJ, uma facção muito atuante, e que em determinado momento passou a abrigar, esconder e treinar elementos de outros estados. Tudo isso está sendo mapeado, monitorado", disse à imprensa nesta terça o secretário da PM, coronel Luiz Henrique Marinho Pires.

O sociólogo Daniel Hirata, coordenador do Geni-UFF, também cita que milícias da zona oeste e da Baixada Fluminense tentam expandir sua atuação em direção à zona norte, o que gera confrontos entre grupos armados. Quando a polícia entra nessas áreas já conflagradas, o saldo de mortes tende a ser alto.

De acordo com o levantamento feito até o ano passado, a disputa entre organizações criminosas é a principal motivação para operações que terminam em chacina (14%), seguido por perseguição ou fuga (5%).

A Polícia Civil é proporcionalmente a que mais mata nessas ações, com média de 4,8 óbitos contra 4 no caso da Polícia Militar, o que surpreendeu os pesquisadores. A explicação estaria na atuação da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais), espécie de batalhão de choque da corporação.

A PM, porém, foi a que mais participou de massacres, integrando 89% dessas ocorrências. O Bope, responsável pela ação na Vila Cruzeiro, está na liderança entre mais de 70 batalhões e delegacias, com 92 ocorrências -contra 36 da Core, empatada com o 14º Batalhão de Polícia Militar (Bangu, zona oeste).

Nesta terça, o secretário de Polícia Militar também culpou o Supremo Tribunal Federal (STF) pela migração de criminosos ao Rio. "Isso vem acentuando nos últimos meses. Esse esconderijo deles nas nossas comunidades é fruto basicamente dessa decisão do STF", disse.

Em junho de 2020, o ministro do STF Edson Fachin restringiu as operações no Rio de Janeiro a casos excepcionais enquanto durasse a pandemia da Covid-19, no âmbito da chamada ADPF (arguição de descumprimento de preceito fundamental) das Favelas.

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