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Dez grandes greves marcaram o Brasil desde 1917

Desde 1996, há 21 anos, o país não via uma tentativa consistente de realizar uma greve geral

Dez grandes greves marcaram o Brasil desde 1917
Notícias ao Minuto Brasil

19:45 - 28/04/17 por Folhapress

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Desde 1996, há 21 anos, o Brasil não vê uma tentativa consistente de realizar uma greve geral. No entanto, houve diversas paralisações de grandes proporções ao longo do último século, especialmente na década de 1980. Leia a seguir um resumo sobre as principais delas.

1917 - A PRIMEIRA GREVE GERAL

Considerado o primeiro grande movimento de paralisação de atividades do país, a greve geral de julho de 1917, iniciativa de operários de diversas categorias, em São Paulo, paralisa a capital e se espalha por outras cidades do Estado.

Um dos motivos para o estopim das paralisações é o assassinato de um trabalhador de uma fábrica de tecidos no Brás. Na época, qualquer reunião de trabalhadores era reprimida com violência pela polícia.

O cortejo fúnebre reúne um mar de gente e, após o enterro da vítima, motiva dois comícios. Um na praça da Sé e outro próximo à casa da família do morto, no Brás. Durante o comício, uma agitação na avenida Rangel Pestana resulta no roubo de uma carrocinha de pães.

"Essa ocorrência [a greve] teve efeito de chispa de pólvora. Parece ter servido como exemplo para outras parecidas em várias partes da cidade", diz o jornalista e um dos principais militantes anarquistas do Brasil durante a República Velha Edgard Leuenroth (1881-1968), em carta ao jornal "O Estado de S.Paulo", publicada no dia 27 de março de 1966.

Leuenroth é preso e processado sob a acusação de ser um dos líderes da greve. Na época ele era diretor do jornal "A Plebe" e secretário do Comitê da Defesa Proletária, que surgiu de forma clandestina em meio à agitação grevista e foi fundamental na organização e exposição das reivindicações.

Entre as principais demandas estão o aumento de salários, a jornada de oito horas, melhores condições de trabalho, o direito de reunião e organização e a libertação imediata de todos os operários presos.

Durante a greve, comércios são fechados para evitar saques e o transporte paulistano é interrompido. Rapidamente a paralisação atinge outras cidades paulistas.

A greve é combatida pelo Estado com violência. Há registro de prisões e até mortes, estas tanto pelo lado dos trabalhadores quanto da polícia.Em alguns dias, conforme os patrões cedem reajustes, a adesão ao movimento diminui, até chegar ao fim.

A greve geral de 1917 é considerada marco trabalhista no Brasil e estimula greves posteriores no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul.

1968 - METALÚRGICOS DESAFIAM REGIME MILITAR

Minas Gerais e São Paulo registram as primeiras grandes greves do período da ditadura militar no Brasil. Entre as reivindicações estão melhores salários e condições de trabalho. Na época, os reajustes salariais não acompanham a alta dos preços dos alimentos. Sem resultados considerados satisfatórios na prática, o movimento representa a resistência dos trabalhadores em um período de grande repressão.

Em Contagem (MG), a mobilização começa em 16 de abril e conta com cerca de 16 mil metalúrgicos, que pedem reajuste de 25% em seus vencimentos. Recebem apenas 10%, aceitos somente após intervenção policial militar.

Já os metalúrgicos de Osasco (Grande São Paulo) decidem parar no dia 16 de julho. A maior reivindicação dos cerca de 12 mil operários é o aumento dos salários em 35%. Na ocasião, o Ministério do Trabalho intervém na Cobrasma, uma das fábricas paralisadas pela greve, e os trabalhadores acabam expulsos pela Força Pública, que também atua no Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco.

A repressão ao movimento aumenta quando, após ordem do governador de São Paulo, Abreu Sodré, dezenas de trabalhadores e alguns dirigentes sindicais são presos e levados ao Dops.

Um dos detidos é o militante de esquerda José Campos Barreto, vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da cidade paulista. Em 1971, Zequinha, como era conhecido, é morto pela ditadura no sertão baiano, ao lado de Carlos Lamarca, líder do VPR/MR-8.

1979 - LULA LIDERA TRABALHADORES DO ABC

Liderados pelo presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Luiz Inácio Lula da Silva, cerca de 80 mil trabalhadores decidem cruzar os braços após recusarem contraproposta patronal de 63% e 57% de reajuste salarial, em assembleia realizada no estádio da Vila Euclides (São Bernardo do Campo).

Estima-se, de acordo com números do sindicato, que 113 mil trabalhadores da região aderiram ao movimento.

De acordo com Lula, a greve não trata apenas de "aumentar o índice de reajustes salariais", mas sim de dar melhores condições para "fazer sindicalismo".

Na comemoração de 1º de Maio daquele ano, durante período de trégua da greve, outra vez o estádio da Vila Euclides se torna palco de grande aglomeração de trabalhadores. Desta vez, 150 mil pessoas se reúnem no local.

No dia 13 de maio, os trabalhadores decidem em assembleia aceitar a proposta de 63% oferecida pelos patrões. Mas, durante a votação, Lula frisa que a proposição "não é boa".

Em fevereiro de 1980, o PT é fundado, e, menos de dois meses depois, uma nova greve tem início.

1980 - ABC PAULISTA SE LEVANTA NOVAMENTE

Após oito horas de negociações na Delegacia Regional do Trabalho, 140 mil metalúrgicos do ABC paulista, liderados por Lula, e de diversas cidades do interior, decidem em 1º de abril de 1980 entrar em greve quando empresários recusam contraproposta dos trabalhadores. Estes rebaixam pedida inicial de 15% de produtividade para 7% (escalonados por faixas salariais), condicionada à estabilidade no emprego por 12 meses.

O governo intervém, e Lula é preso em sua casa. O então sindicalista permanece na sede do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) de 19 de abril a 20 de maio (31 dias).

A greve chega ao fim em 11 de maio, após 41 dias de paralisação. Em assembleia geral, os metalúrgicos decidem pelo fim do movimento grevista e pelo início de um boicote à produção, até que as negociações sejam reabertas.

1986 - GREVE GERAL FRACASSA

O presidente José Sarney lança o Plano Cruzado para combater a inflação. A ideia basicamente consiste em congelar salários e preços e eliminar a correção monetária e a indexação.

A euforia das pessoas com o momento gera o aumento do consumo, que, em um primeiro momento, faz a inflação despencar.

Porém este aquecimento provoca a escassez de produtos, como a carne bovina. Criadores alegam que os preços estão defasados e seguram o boi no pasto. O governo tenta intervir, com o confisco de animais e a importação de carne, mas as medidas não funcionam.

Em meio a um ano eleitoral, o governo espera o fim do pleito para anunciar o Plano Cruzado 2, que corrige preços em até 120%. A ação corrói os salários já arrochados pelo primeiro plano, e a inflação volta a disparar.

Em 12 de dezembro começa a greve geral convocada pelas centrais sindicais de trabalhadores.

Porém a baixa adesão -20% entre 53,2 milhões de trabalhadores, segundo o Serviço Nacional de Informações- provoca troca de acusações entre dirigentes da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e da Central Geral dos Trabalhadores (CGT).

Líderes da CGT dizem que a CUT é responsável pela não paralisação dos bancos e das indústrias químicas, e esta segunda argumenta que o insucesso da paralisação se deve à primeira, por não ter tirado os ônibus de circulação.

1987 - GREVE CONTRA PLANO BRESSER TEM BAIXA PARTICIPAÇÃO

Assim como a paralisação do ano anterior, a greve geral convocada por CUT e CGT, desta vez para combater o plano econômico de Luiz Carlos Bresser Pereira (Fazenda), que também tem o objetivo de conter a inflação, tem baixa adesão.

No Rio e em Porto Alegre, os transportes são paralisados parcialmente. Na Bahia, de acordo com a Polícia Militar, 30% dos trabalhadores cruzam os braços. Mas os Estados de São Paulo e Minas Gerais registram apenas uma tímida participação de seus trabalhadores.

1989 - GREVE PARA 12 CAPITAIS E CAUSA PREJUÍZO DE US$ 1,6 BI

Em um ano no qual a inflação acumulada chega a 1.782,9%, a maior taxa registrada na história do Brasil, e diante da perda do poder aquisitivo do trabalhador, em decorrência do Plano Verão de José Sarney, que congela preços e salários, CUT e CGT convocam greve geral.

Nos dias 14 e 15 de março, o movimento grevista paralisa Maceió (AL), Manaus (AM), Salvador (BA), Vitória (ES), São Luís (MA), Belém (PA), João Pessoa (PB), Curitiba (PR), Recife (PE), Porto Alegre (RS), Aracaju (SE) e Rio (RJ). Nas outras 14 capitais, várias categorias cruzam os braços, em greve parcial.

Na cidade de São Paulo, os ônibus da CMTC (Companhia Metropolitana de Transporte Coletivo) não circulam nos dois dias de paralisação. Por outro lado, o metrô funciona sob ameaça do então governador Orestes Quércia (PMDB). Já o comércio e os bancos abrem parcialmente.

O comando unificado da greve estima os prejuízos causados pelo movimento paredista em US$ 1,6 bilhão (valores da época).

No segundo dia da greve, Sarney cede e aceita negociar as perdas salariais dos trabalhadores.

1991 - ÊXITO APENAS NA PARAÍBA

Sem a adesão dos metalúrgicos do ABC, a CUT (Central Única dos Trabalhadores) tenta viabilizar a greve geral convocada para os dias 22 e 23 de maio.

Na pauta está a reposição mensal da inflação e das perdas salariais, e a tática adotada para garantir o sucesso da paralisação é parar o transporte público.

Em São Paulo, a petista Luiza Erundina diz apoiar a greve como cidadã, mas que, "como prefeita", irá até as últimas consequências para garantir a normalidade, como cortar o ponto de funcionários públicos grevistas.

Já o presidente Fernando Collor pouco se importa com as reivindicações.O movimento grevista consegue bloquear parte do transporte no primeiro dia. Cerca de 11,5 milhões de pessoas ficam sem condução —em SP, apenas 15% dos ônibus circulam—, mas o trabalho é normal para quase todas as categorias. A paralisação total só tem êxito em João Pessoa (PB).

O fracasso da greve geral é ratificado em seu segundo dia. Na capital paulista, 541 ônibus são depredados, e um tumulto na USP (Universidade de São Paulo) entre cem estudantes e funcionários e 150 PMs deixa 9 feridos e cinco presos. Um fotógrafo da Folha e jornalistas são agredidos com cassetetes.

1996 - A ÚLTIMA GREVE GERAL

A paralisação do dia 21 de junho, conhecida como a última greve geral, começa com o objetivo combater a política econômica do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

O movimento, porém, fracassa em quase todo o país. Sucesso apenas entre trabalhadores de setores organizados, como metalúrgicos do ABC paulista.

As centrais sindicais afirmam que o movimento atingiu 12 milhões de trabalhadores -então 19% da população economicamente ativa do país.

Para o Planalto, a baixa adesão representa aprovação ao governo. Com informações da Folhapress.

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