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Funkeiro é confundido e ameaçado por extremistas por música em árabe

Ameaças vieram após a publicação de um clipe de funk com uma remixagem em árabe

Funkeiro é confundido e ameaçado por extremistas por música em árabe
Notícias ao Minuto Brasil

17:22 - 27/10/17 por Folhapress

Brasil MC Nando DK

Fernando Firmino, o MC Nando DK, levou um susto quando pegou seu celular na sexta-feira (13) à noite e viu centenas de mensagens em francês, árabe e espanhol. Desde aquele dia, ele e mais dois funkeiros da periferia de São Paulo, MC Nando e MC Luanzinho, 19, passaram a receber xingamentos e ameaças vindas de diferentes países por telefone e nas redes sociais, após a publicação de um clipe de funk com uma remixagem em árabe.

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A música é da dupla, mas Nando DK, 21, acabou sendo confundido pela semelhança no nome e também virou alvo das críticas e insultos. Segundo os internautas, a canção traz exaltações a Deus presentes no Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos, e seria um desrespeito à religião.

De acordo com professores da língua consultados pela reportagem, os sons remixados são de fato uma recitação corânica, mas ela está muito curta e foi alterada, portanto não é possível distinguir o que se diz.

O funk, chamado "Vem Dançando", foi lançado em agosto, mas os comentários agressivos só começaram dois meses depois, quando ele foi republicado por sites islâmicos de diversos países.

Apesar de o clipe oficial ter sido retirado do ar, outras pessoas postaram vídeos de dança, por exemplo, com a canção, então ela continua na rede. Um deles já tem 197 mil visualizações -num canal que normalmente recebe até 10 mil espectadores. Foram cerca de mil "likes" e 11 mil "deslikes" até agora.

A maioria dos estrangeiros cita "Alá", critica os funkeiros e pede a retirada da gravação. "Francamente, é vergonhoso o que você faz, colocando o Corão em um vídeo sujo", afirma um em francês.

Alguns, porém, são menos comedidos. "Juro que vocês vão morrer se não tirarem isso das redes sociais", diz um homem em espanhol. "Nós muçulmanos vamos explodir esse filho da puta. Por essa gente eu pego em armas, não se diverte com a palavra de Deus", ameaça outro.

Já os brasileiros ficam confusos: "Exclui esse vídeo men, os árabe vai derrubar seu canal!", avisa um internauta. "Olha o tanto de gringo", se espanta outro.

Produtor do dueto Nando e Luanzinho, Alexandre Santana, o Gugu, afirma que o DJ que fez a batida não tinha ideia do significado das passagens. Gugu publicou um vídeo com os dois MCs se desculpando pelo ocorrido. "Já tiramos do canal porque são coisas religiosas, e a gente respeita", fala na gravação.

"Os meninos ficaram muito assustados", disse ele à reportagem. "Foi a primeira música deles que estourou, que já estava com mais de 2 milhões de acessos, e aconteceu isso aí", lamenta. A filmagem, segundo ele, custou entre R$ 20 mil e R$ 30 mil à produtora GR6.

POR ENGANO

Nando DK -que não tem relação com a música, mas é o primeiro a aparecer na busca do Google quando se procura "MC Nando"- teve que bloquear mais de cem pessoas no Instagram e chegou a receber uma ligação em espanhol com xingamentos. Ele não sabe como encontraram seu telefone.

As mais de 40 mensagens no WhatsApp continuaram mesmo depois que o cantor trocou de número. Em um áudio em espanhol, um extremista diz: "Você vai ver o que vai acontecer com você, seu filho da puta. Vivo você não vai ficar".

"Ele ficou se sentindo acuado, oprimido. Ele trabalha com o público, com gente o tempo inteiro. A imagem dele pode sair prejudicada", diz seu produtor, Rodrigo Nunes, o Digão.

O MC tentou registrar a ocorrência no 101ª DP, no Jardim das Imbuias (zona sul de SP), mas não conseguiu. "Eles disseram que não podiam fazer sem identificar o acusado", afirma Nunes.

Segundo a advogada especialista em direito digital Gisele Truzzi, porém, a delegacia deveria ter feito o B.O., pois se trata de crime de ameaça. "[Mesmo não havendo um acusado] Eles deveriam registrar. Até porque a polícia pode contatar o YouTube, via ofício, e pedir os logs [perfis] de conexão dos usuários [que fizeram ameaças]."

Procurada, a Polícia Civil informou que a orientação aos policiais é que sempre registrem o caso, não importando se o crime ocorreu na internet. "A autoridade policial do 101º DP vai apurar o que houve no atendimento do plantão e está à disposição da vítima para realizar o registro", afirmou órgão.

Enquanto isso, os comentários nas redes dão corda ao debate. "Que a paz esteja com você", deseja um internauta em árabe. Com informações da Folhapress. 

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