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Brasileiro é membro da comissão antipedofilia do Papa

Ele fundador de uma comunidade cristã em Guaratinguetá (SP)

Brasileiro é membro da comissão antipedofilia do Papa
Notícias ao Minuto Brasil

17:14 - 21/02/18 por ANSA

Brasil São Paulo

Nelson Giovanelli Rosendo dos Santos viu o papa Francisco em apenas duas ocasiões, em encontros que - para usar uma medida familiar aos brasileiros - não ultrapassaram o tempo de uma partida de futebol. Mas foi o suficiente para convencer o líder católico de que esse fundador de uma comunidade cristã em Guaratinguetá (SP) deveria fazer parte da Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores, órgão criado para combater a pedofilia na Igreja.

Giovanelli foi surpreendido no último dia 13 de fevereiro, quando recebeu uma ligação do arcebispo de Boston (EUA), cardeal Sean O'Malley, o presidente do comitê. Falando em bom português, o norte-americano perguntou se o brasileiro aceitaria a nomeação feita pelo "Santo Padre".

"Naturalmente, fiquei surpreendido com a escolha e logo me vi com toda a comunidade, dando resposta 'sim' oficialmente a essa indicação", conta, em entrevista à ANSA, o fundador da comunidade Fazenda da Esperança, projeto nascido em Guará e presente em outras cidades do país e do mundo, ajudando na recuperação de jovens dependentes químicos.

Os nomes dos 16 membros da comissão pontifícia foram anunciados oficialmente pelo Vaticano no último sábado (17), em uma lista que inclui religiosos, leigos e até vítimas de abuso sexual por parte de sacerdotes.

Laico consagrado, Giovanelli se encontrou com o Papa pela primeira vez em abril de 2016, em uma reunião privada de 40 minutos que também teve a presença do frei Hans Stapel, o outro fundador da Fazenda da Esperança. Em junho, a dupla voltaria a ser recebida por Francisco, em outro encontro de 40 minutos.

O Pontífice já conhecia a comunidade dos tempos em que exercia seu ministério na Argentina, um dos 17 países onde ela está presente. As "fazendas" são dedicadas ao tratamento social e espiritual de jovens dependentes químicos, muitos dos quais se voltaram às drogas justamente depois de episódios de pedofilia.

"Eu não estou indo [à comissão] como Nelson Giovanelli, mas como alguém que há 34 anos trabalha e vive para a juventude vulnerável, que, além de sofrer com a dependência química, traz em sua experiência dolorosa da infância e adolescência marcas de abuso sexual", diz.

Perdão

Criada em 2014, a Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores teve seu primeiro mandato expirado no fim do ano passado, mas foi renovada na semana passada pelo papa Francisco. A plenária de abertura da segunda fase do comitê será entre os dias 19 e 22 de abril, no Vaticano.

O objetivo de Giovanelli é contribuir com propostas "concretas" de cuidado e cura das vítimas de pedofilia. "Não vou fazer outra coisa que não doar gratuitamente aquilo que recebi de graça no contato diário com vítimas desse sofrimento", afirma.

Na visão do fundador da Fazenda da Esperança, é possível fazer as vítimas percorrerem um caminho de reabilitação por meio do "perdão". "Mesmo com o abusador, que é o mais difícil. É possível oferecer uma experiência de esperança. Não vou fazer nada mais do que partilhar aquilo que estamos vivendo", acrescenta.

Por aquilo que já viu em sua trajetória, Giovanelli acredita que muitos abusadores também foram vítimas na infância e que é preciso criar espaços de diálogo para que pessoas que sofreram com a pedofilia possam contar suas experiências. "Quando elas falam abertamente de seu problema", diz, "a superação que tiveram também vira elemento de prevenção".

Ele explica que vítimas que conseguiram perdoar o abusador agora estão "ajudando muitas outras pessoas".

Polêmicas

Assim como a atual, a primeira versão da Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores tinha vítimas de pedofilia entre seus integrantes: a irlandesa Marie Collins e o britânico Peter Saunders, que abandonaram suas funções por uma suposta falta de cooperação por parte de outros departamentos da Cúria.

Para evitar que isso ocorra novamente, Giovanelli defende prioridade para a experiência das vítimas. "Uma vez que a gente divida essas experiências, com resultados concretos se sai do nível da discussão. A linha que sinto na pessoa do Santo Padre é oferecer respostas concretas", afirma.

Ao longo dos últimos anos, a divulgação de milhares de casos de pedofilia ocorridos no mundo todo desde o século 20 abalou a imagem da Igreja Católica e colocou em dúvida a capacidade dos papas de lidar com esse problema.

Desde sua posse, Francisco vem adotando discurso de tolerância zero e já pediu perdão por abusos cometidos por padres em diversas ocasiões, mas isso não o isenta de críticas. Em janeiro passado, durante visita ao Chile, defendeu publicamente o bispo Juan Barros, acusado de acobertar crimes cometidos pelo sacerdote Fernando Karadima, e enfureceu as vítimas.

Até mesmo o cardeal O'Malley, aliado do Papa, questionou sua postura em relação a Barros e afirmou que suas palavras poderiam desencorajar novas denúncias, relegando os sobreviventes a um "exílio desacreditado".

Em seu voo de volta a Roma, Jorge Bergoglio se desculpou por ter dito que as vítimas acusavam o bispo sem "provas". Poucos dias depois, despachou um enviado especial para investigar o caso e anunciou a renovação da comissão antipedofilia. (ANSA)

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