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Solo contaminado de antiga fábrica de baterias vira garimpo em SP

Moradores da região cavam a terra para retirar metais tóxicos e vender a ferros-velhos de Sorocaba, no interior de São Paulo

Solo contaminado de antiga fábrica de baterias vira garimpo em SP
Notícias ao Minuto Brasil

07:55 - 20/08/18 por Notícias Ao Minuto

Brasil lixo tóxico

O terreno de uma antiga fábrica de baterias automotivas se transformou em um garimpo de chumbo em Sorocaba, no interior de São Paulo. Moradores da região cavam a terra contaminada por produtos químicos e vendem os metais a ferros-velhos da cidade.

Como noticiado pelo 'Fantástico', da TV Globo, nesse domingo (19), o terreno fica no bairro Iporanga, no meio de um matagal, e tem acesso livre. Moradores descobriram que as placas de chumbo enterradas no local poderiam ser vendidas há alguns meses e começaram a escavar. Enxadas e até máquinas estão sendo utilizadas no local.

Um homem, que teve a identidade preservada, explicou como é feita a extração: "Você bate o martelo e se ela [pedra] não quebrar, é pura. É R$ 4 o quilo. Você só não pode chegar perto de lá, porque tem uma fumaça saindo ali embaixo da terra. Tem lugar que você vai e arde o olho”, diz.

A reportagem recolheu pedras do terreno e enviou para análise laboratorial. O toxicologista da Universidade de São Paulo (USP) Fernando Barbosa Júnior informou que cinco tipos de metais tóxicos foram identificados.

“As amostras apresentaram valores extremamente elevados de chumbo. Um milhão de vezes superiores àquelas que nós esperaríamos. Além do chumbo, foram encontrados alumínio, cádmio, cromo e arsênio."

De acordo com o toxicologista, os metais pesados entram no organismo pelo nariz e pela boca, através da poeira levantada no garimpo. O contato com estes materiais pode causar doenças cardiovasculares, hepáticas e do sistema nervoso.

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O cromo, o arsênio e o cádmio se acumulam nos rins e em doses altas podem levar à falência desses órgãos. O cromo e o arsênio também podem causar câncer. A contaminação por alumínio faz mal para o cérebro, tanto que estudos verificam se este metal pode estar ligado ao alzheimer.

O terreno onde ocorre o garimpo pertencia à empresa Saturnia, uma das maiores fábricas de baterias industriais e de automóveis do país. Quando a bateria acaba, ela deve voltar para a fábrica para ser reciclada.

Um ex-funcionário da Saturnia, que não teve a identidade revelada, contou como era o esquema, caracterizado pela reportagem como um crime ambiental:

“A bateria chegava, eles despejavam no pátio e lá abriam no machado para escorrer todo o ácido que tem na bateria. O ácido ia para o chão mesmo. Depois, catavam as placas da bateria e jogavam em uma caçamba e despejava no forno.”

Na sequência, o material era derretido para que o chumbo fosse separado. A sobra era enterrada atrás do barracão. "A máquina aterrava, depois cobria e abria outro buraco de novo", revelou o ex-funcionário.

Este processo é irregular. Segundo a engenheira química Fabíola Ribeiro, o material precisa ser encaminhado para "uma disposição final adequada, a exemplo de um aterro de resíduos perigosos, e nunca diretamente no solo sem nenhum tipo de prevenção e controle da poluição".

A Saturnia encerrou as atividades no local em 2011, depois de 39 anos de funcionalmente. Em 2016, a fábrica decretou falência e abandonou o local onde operava. Procurada pela reportagem, a empresa não se pronunciou.

Cetesb emitiu um laudo em dezembro de 2017, no qual a contaminação do solo foi identificada. Nenhuma providência foi tomada.

Após a denúncia ser levada ao Ministério Público e à Cetesb, em maio deste ano, a Justiça determinou que a empresa estadual retirasse o material químico do terreno. A Cetesb informou não ter funcionários nem local para armazenar os produtos.

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