Meteorologia

  • 20 ABRIL 2024
Tempo
--º
MIN --º MÁX --º

Edição

SP: Terreno de hospital é leiloado e atendimento de saúde fica em xeque

Leilão ocorreu em razão de uma dívida trabalhista de R$ 25 mil

SP: Terreno de hospital é leiloado e atendimento de saúde fica em xeque
Notícias ao Minuto Brasil

20:43 - 24/08/18 por Folhapress

Brasil Dívidas

O terreno e o prédio do antigo Hospital Sorocabana, na Lapa (zona oeste de São Paulo), foram leiloados pela Justiça em razão de uma dívida trabalhista de R$ 25 mil, num processo questionado por moradores e que colocou em xeque o futuro da unidade de saúde que funciona atualmente no local.

O leilão do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) paulista ocorreu no último dia 14. O Sorocabana foi arrematado em lance único, dado por uma mulher dona de um hospital em Cotia (Grande São Paulo), pelo valor mínimo de R$ 16,3 milhões.

+ ONG indica alta de 39% no desmatamento da Amazônia no último ano

Com valor venal de R$ 72,9 milhões, segundo a Secretaria Municipal da Fazenda, o terreno havia sido avaliado pelo tribunal em R$ 40,9 milhões -subtraídas a dívida de IPTU de R$ 14 milhões e as outras penhoras do imóvel.

A área pertence ao Governo de São Paulo, e o espaço é administrado pela prefeitura desde 2012. As gestões Márcio França (PSB) e Bruno Covas (PSDB) ainda não contestaram oficialmente na Justiça o leilão do imóvel.

Hoje funcionam em três dos sete andares uma AMA (Assistência Médica Ambulatorial) e uma Rede Hora Certa. Entre exames, consultas e cirurgias, o serviço tem capacidade para cerca de 15 mil pacientes por mês.

Antes de ser destinado ao serviço público municipal de saúde, o espaço abrigou o Hospital Sorocabana, um dos principais da zona oeste, que chegou a atender 20 mil pessoas por mês. Administrado por uma associação, ele foi fechado em 2010 após graves problemas financeiros.

O leilão do imóvel foi antecipado nesta sexta-feira (24) pelo jornal O Estado de S. Paulo.

A gestão Covas diz que não foi avisada do leilão com antecedência e que acionou a Procuradoria Geral do Município. Afirma, porém, que, como o governo estadual é o dono do terreno, a prefeitura ainda não sabe as medidas para manter o atendimento da AMA e da rede Hora Certa. Questionada, a gestão França se limitou a dizer que o Estado não tinha conhecimento da ação.

A compradora do antigo hospital, Conceição Castilho Ceballos, não respondeu qual será a destinação a ser dada. No auto de arrematação do espaço, não consta nenhuma contrapartida ou obrigação legal de que se mantenha um serviço de saúde no local.

O pagamento já foi efetuado à Justiça, de acordo com o tribunal. Mas, como o valor arrecadado é muito maior do que a dívida trabalhista em si, de R$ 25 mil, o restante dos recursos será usado para sanar outras cobranças de ex-funcionários aos antigos donos da Associação Beneficente dos Hospitais Sorocabana.

O hospital era administrado desde 1955 pela associação, após uma doação feita pelo governo estadual. À época, atendia funcionários da Fepasa (Ferrovia Paulista S/A) e, anos depois, passou a integrar o SUS (Sistema Único de Saúde).

Fechada em 2010, a unidade foi retomada judicialmente pelo estado depois de problemas financeiros e denúncias de desvios. Hoje, os equipamentos sem uso há anos estão deteriorados.

O resultado do leilão ainda pode ser questionado pelas partes interessadas, e "caso seja constatado algum vício insanável", a venda pode ser anulada, de acordo com o TRT.

Ao menos 13 conselhos e associações de moradores da região da Lapa já vinham pressionando há anos pela reabertura do antigo hospital, para atender procedimentos mais complexos de saúde. Eles se preparavam para uma audiência pública na Câmara Municipal nesta quinta (23) sobre esse tema, que acabou cancelada. Agora, contestam a venda do Sorocabana.

"Hoje os cerca de 305 mil habitantes do bairro não têm nenhum hospital público", diz Antônio Zagato, 34, coordenador do Conselho Participativo Municipal da Lapa. "O resultado de uma má administração de gestores privados de um equipamento público agora vai prejudicar toda a população que era atendida pelo hospital."

A gestão França disse que o governo estadual "mantém em pleno funcionamento o AME (Ambulatório Médico de Especialidades) da Lapa e o Hospital das Clínicas", no centro, a 6 km da região. Os dois, no entanto, não são parte da rede básica de atendimento, eles recebem os casos de maior complexidade.

Em janeiro de 2012, quando o estado cedeu o prédio do hospital para a prefeitura por 20 anos, o governador à época, Geraldo Alckmin (PSDB), que deixou o cargo em abril para concorrer à Presidência da República, disse que em três meses começaria a recuperação do antigo serviço hospitalar.

"Este será um Hospital Geral, do SUS, para atender de forma gratuita, com qualidade, a região da Lapa e também a região oeste de São Paulo", afirmou o tucano.

No total, o Sorocabana teria, segundo o governo, 250 leitos, 400 partes mensais e faria até 1.800 internações por mês. E deveria estar funcionando com total capacidade no início de 2013. Mas, sob a gestão de Gilberto Kassab (PSD), apenas o serviço ambulatorial foi iniciado.

Durante a gestão Fernando Haddad (PT), uma reforma começou a ser executada, mas logo foi interrompida. O ex-prefeito João Doria (PSDB) falou em obter empréstimo internacional de R$ 1 bilhão para obras na área de saúde, incluindo a da Sorocabana, mas a verba não saiu.

Segundo Rubens Alves, 63, nascido na região e conselheiro do Conselho Gestor de Saúde da Lapa, desde 2016 o governo municipal vinha falando em repassar o hospital à iniciativa privada, durante reuniões para discutir o tema. Em maio, a prefeitura recebeu uma manifestação de interesse privado para transferir a gestão do hospital.

"O Wilson Polara [ex-secretário de Saúde] propôs que o Sorocabana virasse uma PPP [Parceria Público Privada], mas a população presente na reunião foi enfaticamente contra", diz Alves.

Eles também contestam o valor do arremate. "O metro quadrado da região gira em torno de R$ 10 mil. Num lote de 14 mil metros quadrados, isso corresponde a no mínimo R$ 140 milhões", diz Zagato, que é arquiteto e urbanista.

A reportagem não recebeu resposta dos representantes da associação até as 20h. Com informações da Folhapress. 

Campo obrigatório